Os mais de 2 mil soldados liderados pela Rússia começaram a deixar o Cazaquistão nesta quinta-feira (13), após declararem que sua operação de “manutenção de paz” terminava no país, que viveu uma semana de grandes manifestações contidas com forte repressão. Mais de 12 mil pessoas foram presas desde o início da crise, no dia 2 de janeiro.
Pela manhã, uma cerimônia solene foi organizada em Almaty, maior cidade cazaque, para a retirada dos soldados da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (CSTO), uma aliança militar liderada pela Rússia.
"A operação de manutenção da paz terminou, as tarefas foram cumpridas": sentenciou o general russo Andrei Serdyukov, comandante do contingente de mais de 2000 soldados, entre eles russos, belarussos e armênios. A tropa deve terminar sua retirada até o dia 22 de janeiro.
Com a partida das forças estrangeiras, a segurança dos edifícios públicos e de infraestrutura do Cazaquistão voltam a ser de responsabilidade das forças armadas do país, sob as leis cazaques.
O que parece um retorno à normalidade, após uma semana de dura repressão com ajuda russa contra a revolta social que tomou o país, acontece em um contexto de ligeiro atrito entre os governos de Moscou e de Nur-sultã.
O recém-nomeado ministro da Informação do Cazaquistão, Askar Oumarov, é considerado um “russofóbico”, como acusa parte da imprensa cazaque e de autoridades russas. Em um discurso durante as comemorações do final da Segunda Guerra Mundial, no dia 9 de maio, ele teria dito para a minoria russa do país: "Não se esqueçam de que vocês não são nativos".
Oumarov é visto como alguém próximo do governo turco, o que mostraria uma tentativa de aproximação entre o presidente cazaque Kassym-Jomart Tokaiev e seu homólogo, Recep Erdogan.
O ministro em questão pediu para não ser demonizado, mas demasiado tarde: o chefe da Roscosmos, a agência espacial russa, aconselhou-o a não ir a Baikonur, a famosa base espacial soviética, agora arrendada pela Rússia ao Cazaquistão até 2050.
O que aconteceu no Cazaquistão nas últimas semanas?
12 mil presos, centenas de feridos e muitos mortos. O Cazaquistão, um país com reputação de estabilidade, foi abalado na semana passada por uma onda de revolta social e violência que não era vista desde sua independência, em 1991. Tudo começou no domingo (2), após o anúncio de aumento do preço de gás. A medida explodiu em manifestações contra o governo.
A repressão aos movimentos foi dura, com o presidente afirmando que os organizadores eram terroristas e pedindo à polícia para atirar para matar. Centenas de pessoas ficaram feridas e, pelo menos, 12 mil pessoas foram presas ao longo da semana. Não se sabe quantas pessoas foram mortas, no último domingo o ministério da Informação chegou a publicar um balanço de 164 vítimas fatais, mas voltou atrás.
A calma volta a prevalecer em Almaty
As piores cenas de violência foram vistas em Almaty, capital econômica do país. Houve saques a lojas, tiroteios nas ruas e edifícios públicos foram incendiados.
Nesta semana, a situação da cidade gradualmente volta ao normal, com a retomada do transporte público e a maioria das lojas e restaurantes reabrindo. Além disso, o aeroporto de Almaty, fechado desde a semana passada após ser saqueado, recebeu seu primeiro vôo civil na quinta-feira.
RFI
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