Militares deram um golpe de Estado no Sudão nesta segunda-feira (25) e prenderam o primeiro-ministro interino, Abdallah Hamdok, e outras autoridades. Em resposta, milhares de pessoas saíram às ruas da capital Cartum e a vizinha Omdurman para protestar contra o golpe militar.
Abdel Fattah al-Burhan, general que chefiava o Conselho Soberano, fez um pronunciamento oficial na TV estatal e anunciou estado de emergência em todo o país e dissolveu o próprio conselho e o governo de transição, que era comandado por Hamdok.
O Conselho Soberano foi criado há dois anos, após a saída de Omar al-Bashir (ditador que caiu em meio a protestos depois de governar por três décadas). Ele era formado por civis e militares que frequentemente discordavam sobre o futuro do país e o ritmo da transição para a democracia.
As prisões, o estado de emergência e a dissolução do conselho ocorrem perto da data em que o general Abdel-Fattah Burhan teria de entregar a liderança do Conselho Soberano a um civil.
Burhan afirmou que disputas entre facções políticas levaram os militares a intervir e que os militares nomearão um governo para comandar o país até as eleições, marcadas para julho de 2023. Mas deixou claro que os militares permanecerão no comando:
“As Forças Armadas continuarão a completar a transição democrática até que a liderança do país seja entregue a um governo civil eleito”, afirmou o general, que também disse que a Constituição do país será reescrita.
Antes mesmo do pronunciamento, milhares de pessoas saíram às ruas de Cartum e Omdurman para protestar contra o golpe, bloquearam vias e incendiaram pneus, enquanto forças de segurança usaram gás lacrimogêneo para dispersá-los.
A TV Al-Arabiya diz que várias pessoas ficaram feridas após manifestantes e soldados entrarem em confronto perto de quartéis na capital. Um comitê de médicos local afirma que ao menos 12 pessoas ficaram feridas em confrontos.
O Sudão é o terceiro maior país da África e tem um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo.
Transição interrompida e reação internacional
O local para onde Hamdok foi levado não foi informado, e ministros e membros do Conselho Soberano também foram detidos. O governo já havia sofrido uma tentativa de golpe em 21 de setembro.
A tomada de poder pelos militares é um grande revés para o Sudão, que tentava uma transição para a democracia desde a saída do ditador Omar al-Bashir, que governou entre 1989 e 2019.
O presidente da União Africana pediu em um comunicado que os líderes políticos do Sudão sejam soltos. A ONU, os Estados Unidos e a União Europeia expressaram preocupação com os acontecimentos desta segunda.
Jeffrey Feltman, o enviado especial dos EUA para a região, disse que o governo americano está "profundamente alarmado" com a notícia. Feltman havia se reunido com autoridades sudanesas no fim de semana para tentar resolver a crescente disputa política entre líderes civis e militares.
A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, afirmou que o governo dos EUA "rejeita as ações dos militares e pede a libertação imediata do primeiro-ministro e de outros que foram colocados em prisão domiciliar".
O chefe de relações exteriores da União Europeia, Joseph Borrell, afirmou que está acompanhando os eventos no Sudão com "a maior preocupação". Volker Perthes, representante da ONU, afirmou que a entidade está "profundamente preocupada com relatos de um golpe em curso no Sudão".
Aeroporto fechado e TV invadida
O aeroporto de Cartum foi fechado e os voos foram suspensos, segundo a TV Al-Arabiya. A internet na capital do Sudão foi cortada.
O Ministério da Informação afirmou que militares invadiram a sede da televisão estatal do país, na cidade de Omdurman (na região metropolitana de Cartum), e prenderam funcionários da emissora.
A Associação de Profissionais do Sudão (SPA), principal grupo responsável pelos protestos contra o então ditador Omar al-Bashir, convocou greve geral e desobediência civil contra o golpe militar de hoje.
"Convocamos as massas para que saiam às ruas e as ocupem, fechem todas as estradas com barricadas, façam uma greve geral, não cooperem com os golpistas e usem a desobediência civil para enfrentá-los”, disse o grupo em um comunicado.
O Sudão
O Sudão é o terceiro maior país da África, depois da Argélia e da República Democrática do Congo, e tem cerca de 42 milhões de habitantes (uma população similar à da Argentina). Sua capital é Cartum, e a religião predominante é o Islã.
É na capital Cartum que os rios Nilo Branco e Nilo Azul se encontram e formam o rio Nilo, que continua seu curso pelo Egito até desaguar no Mar Mediterrâneo.
O país fica entre a África Subsaariana e o Oriente Médio, faz fronteira com sete países (Egito, Líbia, Chade, República Centro-Africana, Sudão do Sul, Etiópia e Eritreia) e tem saída para o Mar Vermelho.
O seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,510, um dos mais baixos do mundo, e seu PIB (Produto Interno Bruto) é de US$ 32 bilhões. A expectativa de vida dos sudaneses é de 65 anos, e quase um quinto da população vive abaixo da linha da pobreza.
Até 2011, o Sudão era o maior país da África e do mundo árabe, mas o Sudão do Sul se separou e se tornou independente após um referendo.
g1
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