O governo da França anunciou, nesta quinta-feira (7), que convocará o presidente da Conferência Episcopal (CEF), monsenhor Éric de Moulins-Beaufort, para pedir explicações sobre sua defesa do "direito da confissão", mesmo em casos de abusos de crianças.
Na terça-feira, a Igreja Católica da França publicou um relatório que aponta que, desde 1950, mais de 216 mil crianças foram vítimas de abusos sexuais em instituições católicas (o número é até maior se forem considerados os casos em que laicos ligados à Igreja cometeram os abusos).
O líder dos bispos da França declarou na quarta-feira, dia seguinte à publicação do relatório que o sigilo da confissão é "mais forte que as leis".
"Nada é mais forte que as leis da República em nosso país", disse nesta quinta-feira o porta-voz do governo Gabriel Attal. Ele afirmou também que foi o presidente Emmanuel Macron que deu a ordem para convocar o monsenhor.
O monsenhor De Moulins-Beaufort deverá ser recebido para para dar explicações sobre suas declarações na semana que vem.
Comissão Independente Sobre Abusos Sexuais
A Comissão Independente sobre Abusos Sexuais na Igreja recomendou que a Igreja deixe claro que o sigilo da confissão não cobre estes crimes, que devem ser denunciados à Justiça, entre outras propostas.
O Papa Francisco expressou sua vergonha pelos abusos contra crianças na França e já havia transformado o combate ao assédio em uma prioridade da Igreja, mas ele sempre estabeleceu uma linha vermelha: o sigilo da confissão.
"Uma informação de 'delictum gravius' que tenha sido mencionada em uma confissão está sob o sigilo sacramental mais rígido", afirma um manual de 2020 do Vaticano para administrar esses casos.
O respeito ao direito da confissão, um dos sete sacramentos na doutrina católica junto ao batismo e ao casamento, exclui qualquer acusação a partir de uma admissão feita no confessionário.
France Presse
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