Novembro 26, 2024

Três brasileiros e dez familiares deles no Afeganistão devem ser retirados do país, afirma embaixador

Foram identificados seis brasileiros no Afeganistão, mas três deles não têm intenção de voltar ao Brasil neste momento, afirmou à GloboNews Olyntho Vieira, embaixador do Brasil no Paquistão nesta quarta-feira (25).

Não há embaixada no Afeganistão, o corpo diplomático no país vizinho é o responsável pelas tarefas relativas às relações com o Afeganistão.

"Até o momento, são três afegãos naturalizados brasileiros que desejam levar suas famílias para o brasil e três brasileiros que trabalham para uma organização humanitária internacional que não desejam deixar o país. Portanto, nesse momento temos três cidadãos brasileiros que desejam levar seus familiares. O total que nós temos registrado até o momento é de 13 pessoas, portanto 10 que são parentes ou familiares próximos desses três cidadãos", disse Vieira.

O Talibã dominou o Afeganistão no dia 15 de agosto, 20 anos após ser expulso pelas tropas de uma coalizão militar liderada pelos Estados Unidos.

Vieira afirmou que está em discussão nesse momento, no Brasil, a possibilidade de concessão de vistos humanitários—assim, os afegãos poderiam ter o mesmo tratamento que haitianos e sírios que fogem de problemas de seus países.

"Acredito que teremos uma solução positivo com relação a isso. Não é, necessariamente, simples, porque as pessoas precisariam se apresentar a uma repartição consular brasileira de alguma forma, o processo de concessão de visto humanitário é simplificado, mas de toda forma é um processo que tem que ser cumprido", disse ele.

O embaixador também disse que é preciso cumprir requisitos administrativos. "Não se pode simplesmente conceder um visto e ponto. É preciso que tenhamos meios de verificar que a nossa legislação é cumprida", afirmou.

Vieira afirmou que a área consular recebeu consultas de famílias brasileiras que mostraram interesse de pessoas em abrigar afegãos. "Não me parece o melhor caminho. Do meu ponto de vista, acho que a questão deveria ser encaminhada por meio de organizações humanitárias ou mesmo o próprio Alto Comissariado para Refugiados das Nações Unidas, ou organização internacional de imigrações ou outras organizações humanitárias. Mas existe, é interessante, uma manifestação de pessoas no Brasil que estariam dispostas a receber as pessoas", disse ele.

Talibã mudou?
Ao ser questionado se o Talibã mudou, o embaixador respondeu que ainda é cedo para dizer isso. "Claro que 20 anos é muito tempo. Acredito que houve do ponto de vista de convivência, digamos, com os valores universais, algum aprendizado por parte do Talibã. É cedo para dizermos isso", disse ele.

A visão fundamentalista pode não ser compatível com a visão universal de direitos humanos e liberdades como estamos habituados a entender e respeitar do ponto de vista ocidental, segundo Vieira.

"Temos que aguardar um pouco para sabermos como o quadro acabará por evoluir. Me parece claro que uma adesão estrita aos princípios de 20 anos atrás poderá levar o país ao isolamento internacional. E isso provavelmente não atenderá os interesses do país. Então é um pouco difícil de dizer neste momento, mas acredito que pode ser que haja alguma evolução. O que isso representa do ponto de vista de direitos de mulheres? É um assunto importante na pauta de todos os países do mundo. Como o Talibã se comportará em relação a isso?", questionou.

Ele diz considerar que o Afeganistão corre o risco de ficar isolado: "Acredito que existe interesse em não isolar o país. Não nos esqueçamos que o Afeganistão é um país isolado geograficamente, sem saída para o mar, tem alto índice de problemas, se considerarmos que é uma das rendas per capita mais baixas do mundo, por qualquer critério que consideremos, necessita ter uma abertura para comércio internacional, tem um potencial importante, mas é um país oriental", afirmou.

G1
Portal Santo André em Foco

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