Diante das dificuldades para retirar pessoas do Afeganistão após a retomada do país pelo Talibã, Joe Biden, o presidente dos Estados Unidos, citou a possibilidade de prolongar a estadia dos soldados no local após 31 de agosto.
"Há conversas em curso entre nós e os militares sobre uma extensão. Esperamos não ter que prorrogar, mas teremos discussões, suponho, sobre o estado do processo de retirada", afirmou no domingo (22).
O governo dos Estados Unidos já retirou quase 30,3 mil pessoas desde 14 de agosto, informou a Casa Branca. A meta final é retirar do país 15 mil americanos e um número entre 50 mil e 60 mil afegãos. Os países ocidentais já retiraram outros milhares de cidadãos.
O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, considerou impossível retirar todas as pessoas até 31 de agosto.
Para reforçar a operação de retirada, Washington ordenou a seis grandes companhias aéreas comerciais que transportem para os Estados Unidos as pessoas retiradas de Cabul que estão em bases americanas no Golfo e na Europa.
Embora a retirada do Afeganistão provoque temores em outros aliados dos Estados Unidos, a vice-presidente Kamala Harris prometeu nesta segunda-feira, durante uma visita a Singapura, um "compromisso duradouro" de seu país na Ásia.
Desde que assumiram o poder no Afeganistão em 15 de agosto, os talibãs tentam convencer a população de que seu regime será menos brutal que o anterior, entre 1996 e 2001. Mas suas promessas não conseguem reduzir o desejo de milhares de pessoas de fugir do país.
Perímetro aumentado
O presidente Biden mencionou as cenas do aeroporto de Cabul: "Não há maneira de retirar tantas pessoas sem dor nem perdas" e sem imagens comoventes, admitiu o presidente americano.
Famílias inteiras permanecem ao redor do perímetro que separa os talibãs das tropas americanas nas imediações do aeroporto, que é difícil de ser acessado.
Biden explicou que o perímetro foi ampliado com a concordância dos talibãs, horas depois de um líder do movimento fundamentalista, Amir Khan Mutaqi, culpar os Estados Unidos pelo caos no aeroporto e alertar que a situação não poderia durar muito.
"Há paz e calma em todo o país, mas apenas no aeroporto de Cabul há caos", disse Mutaqi. De fato, Cabul registra de fato uma relativa calma. Os combatentes talibãs patrulham as ruas e observam de postos de controle.
Morte no aeroporto
No aeroporto a situação é outra. Várias pessoas morreram em circunstâncias não explicadas nas imediações do aeroporto, onde prosseguem as complexas operações de retirada. Nesta segunda-feira, um guarda afegão morreu em um tiroteio entre soldados e homens não identificados. A troca de tiros aconteceu durante a operação de retirada de civis.
O anúncio da morte foi feito pelo exército da Alemanha, que publicou um texto em uma rede social. No nota, informa-se ainda que soldados alemães e americanos participaram em "tiroteios posteriores".
País sem governo
Nenhum governo foi instaurado, mas as discussões prosseguem entre os talibãs e personalidades afegãs para alcançar um gabinete "inclusivo".
Os fundamentalistas querem impor a imagem de sua autoridade, com a substituição da bandeira de três cores do Afeganistão pela bandeira branca do movimento
Em uma estrada de Cabul, jovens vendiam bandeiras dos talibãs, que apresentam uma frase com a proclamação muçulmana de fé e o nome formal do regime, Emirado Islâmico do Afeganistão.
"Nossa meta é hastear a bandeira do Emirado Islâmico por todo Afeganistão", disse o vendedor Ahmad Shakib, estudante universitário de economia.
Resistência no país
Fora de Cabul há alguns focos de resistência contra os talibãs. Alguns ex-soldados do governo se reuniram no vale de Panshir, ao norte de Cabul, conhecido como um reduto antitalibã.
Algumas contas do Twitter favoráveis aos talibãs afirmaram que o novo regime enviou centenas de combatentes ao vale depois que "as autoridades locais se negaram a entregá-lo pacificamente".
Os islamistas "reuniram forças perto da entrada de Panshir", disse Amrullah Saleh, vice-presidente do Afeganistão no governo anterior, que se refugiou na região.
Um dos líderes do movimento em Panshir, denominado Frente de Resistência Nacional (FRN), é Ahmad Masud, filho do conhecido comandante antitalibã Ahmad Shah Masud, assassinado em 2001.
A FRN está preparada para um "conflito de longo prazo", disse o porta-voz Ali Maisam Nazary, caso um compromisso não seja alcançado com os talibãs sobre um governo descentralizado.
Outra fonte afirmou que milhares de afegãos chegaram a Panshir para lutar contra o novo regime ou para buscar refúgio. "Estamos preparados para defender o Afeganistão e alertamos para um banho de sangue", declarou Masud no domingo ao canal Al Arabiya.
G1
Portal Santo André em Foco
Make sure you enter all the required information, indicated by an asterisk (*). HTML code is not allowed.