Em sua primeira entrevista coletiva, nesta segunda-feira (21), o futuro presidente iraniano declarou que não pretende se reunir com o líder norte-americano Joe Biden.
Três dias após ser eleito, o ultraconservador Ebrahim Raisi também exigiu negociações frutíferas sobre o programa nuclear de seu país e disse que o Irã "sempre defendeu os direitos humanos".
O recado visa especialmente os Estados Unidos e a várias ONGs ocidentais que o acusam de ter sido responsável por torturas e execuções sumárias durante sua longa carreira no poder Judiciário. Questionado em 2018 e em 2020 sobre as execuções de milhares de opositores em 1988, Raisi negou ter desempenhado qualquer papel, como é acusado no Ocidente.
Eleito com quase 62% dos votos, o novo presidente elogiou a "presença massiva" da população iraniana nas seções eleitorais "apesar da guerra psicológica travada pelos inimigos do Irã". O pleito, no entanto, foi marcado por uma abstenção recorde.
O presidente iraniano tem prerrogativas limitadas, já que no país a essência do poder está centrada nas mãos do guia supremo, o aiatolá Ali Khamenei, que tem a última palavra em questões centrais, como a nuclear.
Enquanto negociações estão em andamento, em Viena, para salvar o acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano, assinado em 2015, Raisi disse que o Irã não permitirá "negociações pelo simples prazer de negociar". "Deve produzir resultados para a nação iraniana", comentou.
O acordo de Viena concede ao Irã alívio das sanções do Ocidente e da ONU em troca de seu compromisso de não se equipar com uma arma atômica e por uma redução drástica de seu programa nuclear. O texto, contudo, foi sabotado em 2018 pelo ex-presidente americano, Donald Trump, que se retirou do pacto e restabeleceu as sanções contra Teerã.
As discussões em curso tentam fazer com que os Estados Unidos voltem ao acordo. A solução poderia passar por um alívio das sanções de Washington em troca de o Irã cumprir estritamente o pacto, o que o país deixou de fazer em retaliação à retomada das sanções. Washington e Teerã não parecem avançar para resolver problemas entre os dois países, inimigos há mais de 40 anos.
Aproximação com a Arábia Saudita
Raisi, que é aliado do guia supremo iraniano Ali Khamenei e tomará posse em agosto, não descartou retomar os laços diplomáticos com a Arábia Saudita sunita, rival regional do Irã xiita. A reaproximação entre as duas potências rivais do Golfo, que não mantêm relações diplomáticas desde o início de 2016, vem sendo discutida.
Após uma série de reuniões nos últimos meses, Raisi afirmou que "não há obstáculos da parte do Irã para a reabertura das embaixadas", completou.
Raisi assume o governo do país em meio a uma grave crise econômica e social, consequência das sanções dos Estados Unidos. Ele se apresenta como símbolo da luta contra a corrupção e defensor das classes populares deste país rico em petróleo.
RFI
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