A polícia de Hong Kong fez uma operação nesta quinta-feira (17), pela segunda vez em menos de um ano, na redação do jornal pró-democracia "Apple Daily" e prendeu cinco executivos.
Entre os detidos com base na lei de segurança nacional estão o diretor de redação, Ryan Law, que alertou que a liberdade de imprensa "está por um fio" no território chinês, e o diretor-geral, Cheung Kim-hung.
Todos foram detidos por "conspiração com um país estrangeiro ou com elementos externos para colocar em perigo a segurança nacional", segundo a polícia.
As autoridades também congelaram bens avaliados em US$ 2,3 milhões (mais de R$ 11 milhões) do "Apple Daily", que transmitiu ao vivo a operação em sua sede.
Lei de segurança nacional
Hong Kong foi um território britânico até 1997, quando o Reino Unido assinou um acordo para devolvê-lo à China. O acordo, no entanto, previa a preservação da autonomia da região.
Mas isso tem cada vez mais desrespeitado pelo governo comunista chinês, principalmente depois dos protestos de 2018 em Hong Kong por mais liberdade política e menos intervenção chinesa.
A lei de segurança nacional foi aprovada em 2020, sem passar pelo parlamento de Hong Kong, e foi incorporada à "Lei Fundamental" do território, que serve desde 97 como uma "mini-Constituição".
Ela criminalizou grande parte da oposição e deu às autoridades amplos poderes de investigação. Além disso, as pessoas condenadas sob a nova lei podem receber penas de prisão perpétua.
A China afirma que a lei é necessária para devolver estabilidade a Hong Kong, mas os críticos, incluindo vários países ocidentais, alegam que a repressão acabou com a promessa chinesa de que a cidade permaneceria com certas liberdades e autonomia após a sua devolução em 1997.
A lei visa reprimir o "separatismo", o "terrorismo", a "subversão" e o "conluio com forças externas e estrangeiras", e o jornal é considerado um problema por Pequim por apoiar abertamente o movimento pró-democracia na cidade.
A operação
As prisões desta quinta representam mais um revés para o popular tabloide e seu proprietário, o bilionário Jimmy Lai, que é uma das principais figuras ligadas ao movimento pró-democracia e tem sido alvo de vários processos.
Mais de 500 policiais participaram da operação, relacionada a artigos publicados pelo "Apple Daily" que pediam "sanções" contra Hong Kong e autoridades chinesas.
É a primeira vez que o conteúdo de um artigo motiva detenções com base na lei de segurança nacional imposta por Pequim.
Em uma mensagem aos leitores, o Apple Daily afirmou que a "proteção da liberdade de imprensa em Hong Kong está por um fio". "Todos os membros do Apple Daily permanecem de pé e firmes".
O sindicato de jornalistas da publicação classificou a operação de "violação gratuita da liberdade de imprensa".
Bilionário condenado e preso
É a segunda vez em menos de um ano que a polícia entra na redação do "Apple Daily". Seu dono, Jimmy Lai, foi acusado de conspiração após uma operação em agosto.
O bilionário de 73 anos cumpre atualmente várias sentenças de prisão por participar das manifestações pró-democracia que abalaram Hong Kong em 2019.
O governo chinês não esconde o desejo de silenciar o jornal. Com frequência, a imprensa estatal chama Lai de "traidor".
Mais de 100 pessoas já foram detidas com base na lei de segurança nacional, inclusive alguns dos ativistas pró-democracia mais conhecidos da cidade. Alguns fugiram para o exterior.
No mês passado, o diretor de redação Ryan Law admitiu que o jornal estava em crise desde a prisão do proprietário, mas afirmou que os jornalistas estavam decididos a manter a publicação.
Em uma reunião recente, a equipe consultou Law para saber o que deveria fazer caso ele fosse detido pela polícia. Ele respondeu apenas: "Transmitam ao vivo".
France Presse
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