A tensão aumentou nesta terça-feira (9) em Mianmar, onde as forças de segurança usaram balas de borracha, gás lacrimogêneo e jatos de água contra os manifestantes, que pelo quarto dia consecutivo saíram às ruas para protestar contra o golpe de Estado de 1º de fevereiro, ignorando as proibições e advertências das autoridades militares.
Na capital Naypyidaw, as forças de segurança atiraram para o alto como advertência e depois usaram balas de borracha contra os manifestantes, afirmou à AFP um morador da cidade, que mencionou feridos. Até o momento, não foi possível verificar o número de atingidos nem a gravidade de seu estado.
Pouco antes, a polícia utilizou jatos de água para dispersar um pequeno grupo de manifestantes que, diante da barreira das forças de segurança, gritavam: "Parem a ditadura militar".
Em Mandalay, segunda maior cidade do país, a polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar a multidão que protestava contra o golpe, informaram testemunhas à AFP.
"Usaram gás contra os manifestantes que exibiam bandeiras da Liga Nacional pela Democracia (LND)", o partido de Aung San Suu Kyi, deposta após o golpe, afirmou uma moradora da cidade. A fonte disse ainda que habitantes das proximidades ajudaram os manifestantes com água.
No bairro de San Chaung de Yangon, vários professores participaram de uma passeata.
Muitos manifestantes vestiram roupas da cor vermelha, a mesma da LND, pediram a libertação da Aung San Suu Kyi e fizeram o já emblemático gesto dos três dedos da mão levantados, em sinal de resistência, diante dos militares.
Os cidadãos ignoraram as advertências das autoridades, que proibiram as reuniões com mais de cinco pessoas, decretaram lei marcial em algumas áreas e toque de recolher em várias cidades.
"Não queremos uma ditadura militar"
O exército, que alegou "fraudes" nas eleições legislativas de novembro para justificar o golpe, ameaçou adotar represálias contra os manifestantes.
"Serão adotadas ações (...) contra as infrações que perturbam, impedem e destroem a estabilidade do Estado", anunciou a televisão pública.
"Suas advertências não nos preocupam, por isso saímos hoje. Não podemos aceitar a desculpa de fraude eleitoral. Não queremos uma ditadura militar", declarou à AFP Thein Winun, um dos professores que protestaram em San Chaung.
Desde o fim de semana passado, centenas de milhares de pessoas saíram às ruas em diversas cidades.
Este tipo de protesto não era registrado em Mianmar desde a revolta popular de 2007, conhecida como "revolução do açafrão", liderada por monges e que foi violentamente reprimida pelo exército.
O risco de repressão é real. "Todos sabemos do que o exército é capaz: grandes atrocidades, mortes de civis, desaparecimentos forçados, tortura e detenções arbitrárias", disse Tom Villarin, do grupo de parlamentares da Asean (Associação de Nações do Sudeste da Ásia) para os direitos humanos.
Desde o golpe, mais de 150 pessoas - deputados, autoridades locais, ativistas - foram detidos, segundo a Associação de Assistência aos Prisioneiros Políticos com sede em Yangon.
Eleições "livres e justas"
O comandante em chefe do exército, Min Aung Hlaing, discursou ao país pela primeira vez desde o golpe na segunda-feira à noite.
Ele se comprometeu a "realizar eleições livres e justas" após o estado de emergência de um ano e prometeu um regime militar "diferente" dos anteriores.
Mianmar viveu quase 50 anos sob governo militar após sua independência em 1948. O golpe de 1º de fevereiro acabou com um breve intervalo democrático.
Em novembro, a LND venceu por maioria folgada as legislativas, eleições que os militares consideraram fraudulentas, embora os analistas internacionais não tenham constatado problemas.
O golpe de Estado foi condenado por Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido e vários países.
A Nova Zelândia anunciou nesta terça-feira a suspensão dos contatos militares e políticos de alto nível com Mianmar, o que representa o primeiro passo internacional para isolar a junta militar do país após o golpe de Estado.
Reuters
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