Novembro 22, 2024

França diz que no momento 'não está pronta' para ratificar acordo com o Mercosul

A França não está preparada no momento para ratificar o acordo comercial anunciado na sexta-feira (28) entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, após 20 anos de negociações, afirmou nesta terça-feira (2) a porta-voz do governo francês, Sibeth Ndiaye.

"Vamos observar com atenção e, com base nestes detalhes, vamos decidir", declarou em uma entrevista ao canal de notícias BFM.

Como fez durante as negociações do acordo comercial entre UE e Canadá, a França solicitará "garantias" aos países do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), completou a porta-voz, segundo a agência France Presse.

"Não posso dizer que hoje vamos ratificar o Mercosul (...). A França, no momento, não está pronta para ratificar", disse Ndiaye.

O acordo anunciado na sexta-feira por UE e Mercosul é o maior já assinado pelo bloco europeu.

A França é um dos países mais reticentes ao acordo, porque teme os efeitos para seu influente setor agrícola, que poderia ser afetado pela grande entrada de produtos sul-americanos no mercado.

Os fazendeiros franceses, muito dependentes dos subsídios europeus e organizados em propriedades familiares que geram uma renda pequena (10 mil a 12 mil euros de média em 2018, segundo a Federação Nacional de Carne Bovina), afirmam que não conseguirão competir com o que chamam de "fábricas de carne" sul-americanas.

Eles ressaltam as diferenças nas práticas dos dois continentes, que não favorecem os europeus: enquanto na UE as normas ambientais são cada vez mais rígidas, na América do Sul são utilizados antibióticos, hormônios do crescimento e soja geneticamente modificada.

A economista Lia Valls Pereira, da FGV, explica que a política agrícola é um dos pilares da integração da União Europeia e é fundamental para a França.

"São os franceses que conduzem a agricultura para o restante da comunidade. Embora o setor constitua uma parcela muito pequena do PIB do país, eles o consideram meio que uma cláusula pétrea. É uma questão não só de segurança alimentar, mas ambiental, tem um peso político", afirmou ao G1.

França irá cobrar 'compromissos' sobre desmatamento
Por sua vez, o ministro francês do Meio Ambiente, François de Rugy, afirmou nesta terça-feira (2) que o tratado "só será ratificado se o Brasil respeitar os seus compromissos", especialmente em relação à luta contra o desmatamento da Amazônia, segundo a RFI.

"A nova Comissão Europeia e sobretudo o Parlamento Europeu irão analisar minuciosamente esse acordo antes de ratificá-lo", afirmou François de Rugy em entrevista. "É preciso lembrar a todos os países, entre eles o Brasil, de suas obrigações. Quando assinamos o Acordo de Paris colocamos em prática uma política que permite atingir objetivos de redução de emissão de gases de efeito estufa e de proteção da Floresta Amazônica".

Caminho longo pela frente
O presidente francês, Emmanuel Macron, elogiou no sábado a conclusão do acordo, que segundo "vai no bom caminho", mas ressaltou que ficará "muito atento" a sua aplicação. Também destacou a intenção de fazer uma "avaliação independente" do pacto.

O documento acordado entre a Comissão Europeia e os países do Mercosul terá que ser convertido em um verdadeiro texto jurídico, o que levará muitos meses, antes de ser submetido à aprovação dos Estados membros no âmbito do Conselho da UE, a instituição que representa os países.

A partir deste momento a UE poderá assinar o acordo de forma oficial, à espera da votação no Parlamento Europeu que levará a sua entrada em vigor provisória.

Em seguida, cada Estado membro terá que aprovar o texto, o que significa que passará na maioria dos casos por debates nos Parlamentos nacionais.

G1
Portal Santo André em Foco

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