Em sua trajetória profissional, o magnata Donald Trump foi alvo de pelo menos uma dúzia de processos de mulheres que o acusaram de má conduta sexual. As denúncias não representaram obstáculo para a sua eleição à presidência dos EUA. Agora, na árdua batalha para renovar o mandato, ele manobra para se safar de mais um processo, usando a máquina do Estado a seu favor.
O Departamento de Justiça se prepara para intervir e defender o presidente numa ação de difamação movida pela jornalista Jean Carroll, que o acusou de estupro no provador de uma loja de departamento de Nova York, na década de 1990.
No ano passado, ao responder uma pergunta sobre o livro de memórias de Carroll, ex-colunista da revista Elle, o presidente negou conhecê-la e chamou-a de mentirosa. E ainda acusou-a de participar de uma conspiração política contra ele. “Direi com grande respeito: primeiro, ela não é o meu tipo. Segundo, nunca aconteceu. Nunca aconteceu, ok?”
Foi o suficiente para Carroll, que diz ter sido prejudicada por perder o emprego de 26 anos como colunista, entrar com uma ação por difamação num tribunal de Nova York. Há duas décadas, ela teria sido aconselhada a não processar Trump por estupro.
Em sua argumentação, o Departamento de Justiça alega que Trump estava agindo dentro do escopo de seu cargo ao rejeitar a acusação de Carroll. Ou seja, o réu em questão não deveria ser o presidente, mas os Estados Unidos. E, numa distorção de seu papel, os advogados do Departamento de Justiça atuariam na defesa de Trump, financiados pelos contribuintes americanos.
Mover a ação para a alçada federal torna mais difícil o caminho para a vitória de Carroll: o presidente estaria protegido pela “imunidade soberana” e pela a divulgação de qualquer detalhe embaraçoso sobre o processo durante a campanha eleitoral. Ainda assim, este mecanismo nunca foi utilizado para proteger um presidente de um incidente ocorrido há duas décadas.
A contar pela reação de Carroll, ficou claro que a manobra do Departamento de Justiça e do procurador-geral, William Barr, soa como prenúncio de derrota do processo que move contra ele:
“As ações de hoje demonstram que Trump fará todo o possível, incluindo usar todos os poderes do governo federal, para impedir que a descoberta prossiga antes da próxima eleição e tentar evitar que um júri decida qual de nós está mentindo.”
Para quem não lembra, o procurador Barr interpretou e confundiu as conclusões do relatório Mueller, que investigou a interferência da Rússia nas eleições de 2016, desempenhando também o papel de advogado pessoal de Trump. Não seria, portanto, a primeira vez que o presidente americano é acusado de profanar os poderes do Departamento de Justiça, usando-os a seu favor.
G1
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