E a oposição venezuelana, enfim, se dividiu novamente, fortalecendo, mais uma vez, o regime de Nicolás Maduro. Num roteiro bem conhecido no país, desta vez a cisão foi consumada por Henrique Capriles, por duas vezes candidato presidencial, que rompeu com a decisão da maioria liderada pelo autoproclamado presidente interino, Juan Guaidó, de não participar das eleições legislativas programadas para dezembro.
A três meses do pleito, Capriles advoga por exercer pressão sobre o regime pelo voto. Negociou com Maduro a participação, sob a condição de que a eleição seja monitorada por observadores europeus e da ONU. O presidente viu no acordo uma chance de ter seu regime legitimado externamente, libertando também cerca de 100 opositores.
Capriles ainda bateu forte em Guaidó, argumentando que lidera um “Governo de Internet”. O fato é que, apesar do apoio de 60 países, o atual líder opositor não conseguiu avançar em seu propósito de assegurar a transição de poder na Venezuela. Há meses sua atuação se mostra debilitada, sem condições de mobilizar a população, embora 80% se declarem contra Maduro.
Em entrevista concedida ao jornal espanhol “El País”, Capriles alega que é preciso lutar e não entregar a Assembleia Nacional de bandeja para o regime. Ausentar-se do pleito, no seu entender, é o mesmo que declarar rendição antecipada. “Não se trata de dividir ou confrontar estratégias. A opção eleitoral é aquela que repensa o cenário.”
Tal como uma colcha de retalhos, a oposição venezuelana se ramifica em quatro grupos. Os 27 partidos que se aglutinam em torno de Guaidó e se ausentam de uma eleição que classificam de antemão como fraudada. Os dissidentes que se bandearam para o campo de Maduro e, por isso, levam a pecha de traidores. O grupo de Maria Corina Machado, coordenadora do movimento Vente Venezuela, que defende a intervenção estrangeira.
E, finalmente, o capitaneado por Capriles, que se prepara para participar das eleições, embora esteja inabilitado desde 2017 para exercer cargo político. Ex-governador de Miranda, ele não conta sequer com o apoio de seu partido, o Primeiro Justiça, alinhado a Guaidó, e organiza-se em outra legenda, que atende pelo nome sugestivo de Força da Mudança.
Ao mesmo tempo que dá mais munição a Maduro, aprofundando as divisões entre os detratores do regime, Capriles dá novo sopro de vida a uma oposição que estancou, paralisada diante das ofensivas do governo para recuperar a Assembleia Nacionals. É pouco provável que seu grupo reverta a atual conjuntura venezuelana. Mas, como disse o analista Luis Vicente León, do Instituto Datanálisis, o ato de votar é ativo e pode pescar algo inesperado.
G1
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