O Uruguai soma-se ao Paraguai e à Colômbia que já tinham blindado as suas fronteiras binacionais com o Brasil para conter a propagação da pandemia.
A partir desta terça-feira (26), duas novas barreiras de controle migratório e sanitário serão somadas às duas já existentes para cercar a cidade uruguaia de Rivera tanto do Brasil quanto do resto do Uruguai. Haverá um reforço de ambulâncias e de leitos de terapia intensiva. As lojas serão controladas, mas não fechadas. O recomeço das aulas, previsto para o próximo dia 1° de junho, foi adiado. Até quinta-feira, 1.100 testes serão aplicados estrategicamente na localidade de 100 mil habitantes.
Essas medidas sanitárias são as primeiras na cidade de Rivera, onde foram registrados casos da Covid-19 importados de Santana do Livramento, do lado brasileiro da fronteira, que resultaram em duas mortes no fim de semana. Até domingo (24), havia 12 casos positivos de coronavírus. Nesta segunda-feira (25), o balanço de pacientes para 29, com a notificação de 17 novos casos.
O objetivo das medidas é duplo: impedir que o vírus atravesse a rua que separa o Brasil do Uruguai, mas também conter que o incipiente surto saia de Rivera e dissemine-se pelo resto do país com melhor desempenho no combate ao coronavírus da América do Sul.
O Uruguai tem 22 mortes atribuídas à Covid-19, e uma taxa de letalidade de 2,8%; o Brasil registra 23.522 mil óbitos, com uma taxa de mortalidade de 6,24%.
Ação binacional sanitária
"As medidas estão enfocadas para respeitarem a vida binacional, mas, ao mesmo tempo, para que, a partir de Rivera, não se emigrem focos de contágio ao resto do país", resumiu o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, ao lado dos seus ministros da Defesa e do Interior.
O presidente uruguaio conversou com o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, e com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, responsável pelas medidas de isolamento na linha de fronteira com o Uruguai. O teor das conversas girou em torno do Tratado de Ação Binacional Sanitária que será aplicado na região.
"Obtivemos a aprovação do presidente brasileiro para aplicar esse tratado", anunciou o presidente uruguaio, que evitou qualquer tipo de crítica à postura de Jair Bolsonaro, contrário às medidas de isolamento social.
"Não somos nós que vamos dizer ao Brasil quais são as medidas que devem ser aplicadas. Há preocupação recíproca sobre o que está acontecendo na fronteira", disse Lacalle Pou.
Outro país do outro lado da rua
Uruguai e Brasil compartilham seis cidades em que o município de um país encontra-se com o do outro havendo apenas uma rua que os separa, sem nenhum tipo de divisão nem de controle. É o caso de Rivera com Santana do Livramento ou de Chuy (no Uruguai) com Chuí (no Brasil), por exemplo.
Embora o Uruguai tenha proibido a entrada de estrangeiros no país, os residentes nas fronteiras têm liberdade de circulação. Muitas vezes vivem de um lado e trabalham do outro. E assim o Uruguai importou o vírus.
"Não temos um problema só em Rivera. Temos um problema no país. Rivera tem uma complexidade diferente de outras zonas", apontou Lacalle Pou.
Do lado brasileiro, Santana do Livramento tem 34 casos e uma morte. O Rio de Grande do Sul registra 6.470 casos e 180 mortes. O Uruguai tem 787 casos, dos quais 136 estão ativos (cinco em terapia intensiva), e 22 mortos.
Fronteiras binacionais com Paraguai e Colômbia
No começou do mês, o governo uruguaio já tinha admitido preocupação com as cidades binacionais sobre as quais reforçaria o controle. Além do Uruguai, o Paraguai e a Colômbia têm a mesma preocupação binacional com o Brasil.
Na cidade paraguaia de Juan Pedro Caballero, também fronteira seca com a brasileira Ponta Porã, os militares paraguaios cavaram uma vala de 250 metros para evitar que as pessoas atravessem ilegalmente a pé já que não há divisões entre um país e o outro.
Recentemente, o presidente paraguaio, Mario Abdo, disse que "o Brasil é uma grande ameaça para o Paraguai" porque "talvez seja o lugar com maior expansão do coronavírus no mundo".
Assim como o Paraguai, a Colômbia já começou uma flexibilização das suas restrições, mas, na fronteira com o Brasil, a situação é o contrário: a ameaça brasileira levou o governo colombiano a adotar um "lockdown".
Enquanto a cidade amazônica de Tabatinga, no Brasil, está aberta, a colombiana Leticia está em quarentena sem que haja nada que separe um município do outro, a não ser militares. As duas se fundem numa mesma urbe. E, assim como na fronteira paraguaia, a maior parte dos contágios colombianos vem do lado brasileiro.
Na semana passada, o ministro da Saúde da Colômbia, Fernando Ruiz, admitiu que "a interlocução com as autoridades brasileiras tem sido absolutamente difícil" para que os dois países coordenem ações na fronteira.
RFI
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