O papa Francisco desembarcou nesta sexta-feira (31) na Romênia, onde permanecerá por três dias, para reiterar a vontade de diálogo com os ortodoxos, mas também para recordar a repressão soviética e demonstrar sua proximidade com o povo cigano.
Francisco foi recebido no aeroporto de Bucareste pelo presidente romeno, Klaus Iohannis, um pró-europeu de confissão luterana, que na quinta-feira (29) manifestou satisfação com o encontro "cristão ortodoxos, católicos romanos e greco-católicos" em seu país.
"Venho como peregrino e irmão", anunciou o pontífice argentino em um vídeo ao povo romeno divulgado na quinta-feira.
Última visita de um papa à Romênia foi há 20 anos
Esta é a 30º viagem ao exterior em seis anos de pontificado e acontece 20 anos depois da visita de João Paulo II, o primeiro papa a visitar um país de maioria ortodoxa.
Francisco percorrerá em três dias boa parte da Romênia, um país de 20 milhões de habitantes e composto por um mosaico de religiões e línguas, com 18 minorias oficialmente reconhecidas.
O pontífice "deseja visitar todas as regiões do país, que representam a riqueza étnica, cultural e religiosa da Romênia", afirmou o porta-voz do Vaticano, Alessandro Gisotti.
No sábado (1), o papa visitará o santuário mariano de Sumuleu Ciuc (centro do país), frequentado principalmente pela minoria húngara, assim como Iasi (nordeste), o maior centro de católicos latinos. No domingo seguirá para Blaj (centro), sede da igreja greco-católica.
"O desafio do papa é demonstrar à comunidade ortodoxa que a igreja de Roma não quer latinizá-la" explicou à AFP o bispo Pascal Gollnisch, diretor geral da Obra do Oriente.
"A unidade que se busca não é institucional, não pretende reunir todos os cristão sob a etiqueta de católicos, e sim que todos se reconheçam como cristãos", completou.
Vínculo da Igreja com a Romênia se rompeu depois da Segunda Guerra
Situada entre a Europa oriental e ocidental, a Romênia estabeleceu relações diplomáticas com a Santa Sé em 1920, mas os vínculos se romperam depois da Segunda Guerra Mundial, com a chegada dos comunistas ao poder.
Na atualidade, 85% dos romenos se declaram ortodoxos. Os católicos são 7%, cerca de 1,4 milhão de fiéis, inclusive os 200 mil que pertencem à igreja greco-católica ou uniata.
A partir de 1948, esta comunidade minoritária foi integrada à igreja ortodoxa e, oficialmente, desapareceu. Sacerdotes e fiéis foram presos, e alguns, executados. Parte deles, no entanto, conservou os rituais em sigilo até a queda do líder comunista Nicolae Ceausescu, em 1989, que governou o país com mão de ferro.
Para honrar a memória desses católicos, no domingo, o papa beatificará sete bispos uniatas que foram detidos e torturados por agentes do regime comunista em 1948, morrendo em isolamento.
Outro momento importante será a missa de sábado no santuário de Sumuleu Ciuc, na Transilvânia, onde são esperadas 200 mil pessoas. O ato é considerado um reconhecimento da identidade húngara desta região pelas autoridades locais .
O papa completará a viagem com uma visita à comunidade romani, o povo cigano.
France Presse
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