A Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou para "muito alto", o maior possível, o risco mundial da epidemia de Covid-19, a infecção causada pelo novo coronavírus. Nesta sexta-feira (28), a agência de Saúde da ONU disse que há, além de China, casos registrados da doença em outros 49 países.
"Nossos epidemiologistas têm monitorado o avanço da doença constantemente", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em coletiva. "Agora aumentamos nossa avaliação do risco de propagação e do risco de impacto do Covid-19 para 'muito alto' em um nível global."
Os especialistas da entidade afirmaram que não declarariam uma pandemia da doença.
"Pandemia é um termo coloquial, nós queremos ir além de termos coloquiais. Sim, nós estamos no nível mais alto de alerta, no nível mais alto de avaliação de risco", afirmou Michael Ryan, diretor-executivo do programa de emergências da OMS.
Segundo avaliação da entidade, os casos em cada país são vinculados a pequenos grupos. Ghebreyesus disse que a agência de saúde da ONU não vê evidências de que o vírus esteja se espalhando livremente. Segundo a OMS, dos novos casos identificados em todo o mundo, 24 foram exportados da Itália e 97 do Irã.
Contenção x mitigação
Na avaliação da OMS, o vírus ainda está na fase de contenção - em que a transmissão pode ser interrompida. A fase seguinte, a de mitigação dos impactos, é quando fica entendido que não é mais possível evitar a disseminação dele, e se procura investir em tratamento dos doentes ou na oferta de vacinas.
"O aumento contínuo do número de casos de Covid-19 e o número de países afetados nos últimos dias são motivo de preocupação", disse Ghebreyesus. "Nós ainda podemos conter a dispersão do vírus se tomarmos ações robustas e detectar rapidamente o surgimento de novos casos."
"Ambas [as estratégias] são necessárias", avaliou Michael Ryan. "Aceitar que a mitigação é a única opção é aceitar que o vírus não pode ser parado - e nós vimos na China que ele pode ser freado significativamente".
Conforme o balanço mais recente da OMS, a China confirmou 329 casos nas últimas 24 horas. Esse é o menor número de novos casos diários em um mês. Com esses, o país tem, até o momento, 78.959 casos reportados à agência e 2.791 mortes.
Origem do vírus
A epidemiologista Maria van Kerkhove, líder técnica de programas de emergência da OMS, explicou ainda que a origem do coronavírus ainda não é clara, apesar de ele ter sido encontrado em amostras colhidas em um mercado de animais de Wuhan, na China.
"Alguns dos casos iniciais identificados em dezembro tinham mencionado a exposição ao mercado, mas alguns dos casos não tiveram exposição", explicou van Kerkhove.
Além de mercados que comercializam animais, também estão sendo investigadas fazendas onde eles são criados.
"Até onde vimos, não temos evidência do vírus nos animais de Wuhan", disse.
Apesar de estudos iniciais terem apontado o pangolim, um mamífero ameaçado de extinção, como a possível fonte do vírus, ele seria apenas um hospedeiro intermediário, explicou a especialista.
Van Kerkhove também afirmou que a OMS está trabalhando com autoridades de Hong Kong para entender os resultados dos exames que detectaram a presença do novo coronavírus em um cachorro. Os especialistas não sabem, por exemplo, se o cão foi infectado ou se teve contato com o vírus por meio de uma superfície contaminada.
Segunda infecção
A OMS ainda estuda, também, os casos de pessoas que já pegaram o novo vírus e se recuperaram, mas que tiveram de novo o Covid-19. No Japão, uma mulher que já havia se contaminado foi diagnosticada pela segunda vez com a doença.
"Isso precisa de mais estudos", avaliou van Kerkhove. "Ao testar positivo, isso significa que há um vírus viável nessas amostras? Elas [as pessoas] estão espalhando vírus vivos?"
Para a epidemiologista, é necessário acompanhar, por um período de tempo, pacientes que foram infectados e se recuperaram - como na China, por exemplo, onde, segundo o governo, há 36.210 pessoas nessa situação.
"Existem alguns testes sorológicos sendo desenvolvidos, que foram recém-aprovados na China e em outros lugares, e o que cientistas estão fazendo agora é olhar para a resposta de anticorpos em pessoas que já tiveram Covid-19 para ver se elas têm anticorpos neutralizantes", explicou van Kerkhove, mas ressaltou que os dados ainda são "muito preliminares".
France Presse
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