A direção da CBF e a comissão técnica da seleção brasileira masculina se reuniram ao longo dessa segunda-feira para debater os aspectos esportivos, administrativos e jurídicos da decisão anunciada pela FIFA. A nova partida, pelas Eliminatórias, entre Brasil e Argentina não tem data e nem local ainda escolhidos pela FIFA, mas provocou reação dentro da CBF.
Primeiro, internamente a punição pecuniária (financeira) ser mais do que o dobro da Argentina - 550 mil francos aos brasileiros contra 250 mil para os argentinos - causou estranheza, manifestada em nota como "discordância" na noite de segunda pela CBF.
Os dirigentes brasileiros entendem que a suspensão por duas partidas de quatro jogadores argentinos por burlarem regras sanitárias do país em meio à pandemia já configuram culpa no cartório dos rivais sul-americanos - e deveriam atenuar responsabilidades da CBF. Por isso, o departamento jurídico da CBF quer analisar os fundamentos da decisão para preparar o recurso.
A convocação para os últimos dois jogos das Eliminatórias - pelo menos até que a Fifa defina, de fato, data e local para o jogo de Brasil x Argentina - está prevista para 11 de março. No dia 24 de março, em Salvador, a Seleção enfrenta o Chile. Dia 29, em La Paz, pega a Bolívia
Do ponto de vista esportivo, a seleção brasileira desejava realizar o confronto com a Argentina. Por motivos variados. O principal deles: medir forças, ter duelo de alto nível contra um potencial candidato a campeã do mundo como é a forte seleção argentina.
Mas se a partida for realizada apenas em junho - cenário mais provável hoje -, há uma questão. Por contrato com a Pitch, parceira comercial de Brasil e Argentina, os rivais ainda têm um duelo previsto até o fim de 2022. O que provocaria dois confrontos contra a mesma equipe num espaço de até cinco ou seis jogos - entre a data Fifa de junho e de setembro - que a seleção brasileira poderia realizar antes da Copa do Mundo. Ao invés variedade de estilos com a cabeça no Mundial, haveria repetição.
Mesmo com a prerrogativa da FIFA de eleger o palco do duelo, a CBF espera ao menos influenciar na escolha. E, claro, faturar também. Mesmo com a organização da partida sendo responsabilidade da FIFA e da Conmebol, como parte do duelo das Eliminatórias, a ideia é explorar, se possível, mercados com apelo financeiro para a partida, como foi recentemente em partidas em Singapura, em Abu Dhabi ou em Londres, por exemplo, a capital inglesa que tanto recebeu jogos da Seleção.
No cenário de junho, com o confronto agendado entre Itália, campeã da Eurocopa, e Argentina, da Copa América, a Seleção ainda aguarda definição sobre duelo com a Inglaterra. A expectativa é positiva, porém. Os outros adversários nos amistosos até a Copa devem ser definidos após o sorteio dos grupos da Copa, dia 1º de abril em Doha, no Catar.
Veja a nota da noite de segunda da CBF
"A Confederação Brasileira de Futebol manifesta sua discordância em relação ao resultado do julgamento publicado, nesta segunda-feira (14), pelo Comitê Disciplinar da FIFA, referente à partida válida pelas Eliminatórias da Copa do Mundo entre Brasil e Argentina, iniciada no dia 5 de setembro de 2021, em São Paulo.
A entidade destaca ainda que já solicitou à FIFA os fundamentos da decisão proferida e, após análise da Diretoria Jurídica e da Presidência, informará as providências a serem adotadas na sequência do processo".
As punições
A decisão da FIFA não altera a tabela das Eliminatórias, uma vez que Brasil e Argentina já estão garantidos no Mundial do Catar. A Conmebol abalizou a decisão da Fifa, pois era ideia da entidade que o jogo fosse realizado no campo, ao contrário da CBF e AFA (Associação de Futebol Argentino) que queriam os pontos da partida.
Além da punição de 550 mil francos à CBF, a AFA, por sua vez, recebeu multa de 250 mil francos porque seus jogadores burlaram as regras sanitárias brasileiras. E esses quatro jogadores (Emiliano Martínez, Giovanni Lo Celso, Cristian Romero e Emiliano Buendía) foram suspensos por dois jogos, que terão de ser cumpridos na data Fifa de março. Ou seja, eles poderão ser eventualmente convocados para o novo Brasil x Argentina.
Tanto a CBF como a AFA podem recorrer da decisão da Fifa. Primeiro no Comitê de Apelação da própria entidade máxima do futebol mundial. E depois, caso queriam, no Tribunal Arbitral do Esporte (TAS). A AFA já anunciou que pretende recorrer. A CBF aguarda o "acórdão" da decisão para analisar, mas vai preparar recurso.
- Como presidente da AFA, prometo fazer todos os esforços necessários e recorrer da decisão da Fifa em relação ao jogo classificatório com o Brasil. Nossa prioridade é a seleção argentina sempre - escreveu Chiqui Tapia, chefão da Associação de Futebol Argentino, no Twitter.
Entenda o caso
No dia 5 de setembro de 2021, o jogo entre Brasil e Argentina foi interrompido quatro minutos após o apito inicial. Na beira do campo, técnicos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) tentavam notificar quatro jogadores da Argentina que teriam burlado normas sanitárias ao entrar no Brasil.
Eram eles Emiliano Martínez, Giovanni Lo Celso, Cristian Romero e Emiliano Buendía. Os três primeiros eram titulares e estavam em campo. Os quatro jogam na Inglaterra. Àquela altura – setembro de 2021– pessoas provenientes daquele país tinham que fazer quarentena de 14 dias ao entrar no Brasil.
Mas, ao entrarem no Brasil, dois dias antes do jogo, os quatro omitiram esse fato das autoridades brasileiras. A Anvisa só se deu conta no dia seguinte, depois que eles já tinham treinado e circulado pelo Brasil. Todos estavam vacinados e apresentavam testes negativos para Covid-19.
No dia 4 de setembro, um sábado – dia seguinte à chegada dos argentinos e véspera do jogo contra o Brasil – houve várias tentativas de negociar uma saída para o caso. Mas as reuniões entre Anvisa, Ministério da Saúde e AFA (Associação de Futebol da Argentina) terminaram sem solução.
Invasão de campo
O ge teve acesso aos relatórios do delegado da partida, o colombiano Juan Alejandro Hernández, e do árbitro daquele jogo, o venezuelano Jesús Noel Valenzuela. Os dois afirmam que houve "invasão de campo" por parte das autoridades da Anvisa. E que por isso o jogo foi interrompido. Os documentos deixam claro que não houve "abandono de campo" por parte da Argentina.
Em sua defesa à Fifa, a CBF afirmou que fez sua parte, que alertou os argentinos em dois e-mails sobre as regras sanitárias no país e que não poderia impedir a entrada no campo de autoridades. A AFA, por sua vez, entendeu que o mandante é o responsável por garantir a realização dos jogos, que enviou toda a documentação de seus jogadores para a CBF – e que a CBF deveria ter feito à Anvisa os pedidos de exceção para os jogadores argentinos que atuam na Inglaterra.
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