Um lírio no meio do lixo
No lixão de uma grande cidade, amontoavam-se restos de tudo o que se possa imaginar. Dali emanava um cheiro horrível de podridão. Era o cenário da desordem e do caos. Num recanto deste espaço abominável nasceu um lírio de espécie rara, cresceu e floresceu para encanto de quem passava. Parecia que toda a feiura do lixo a céu aberto era amenizada por esta flor.
Um dia, um mendigo chegou e sentou-se ao lado do lírio encantador e foi ficando por ali, como se fosse um guarda desta beleza. Um casal, que sempre passava nas proximidades, vendo o mendigo perguntou o que estava fazendo ao lado do lírio. O mendigo respondeu: “Eu sempre fui desprezado por todos. Agora, achei um jeito de ser valorizado. Esta pequena e bonita flor está dando beleza para o lixo e para mim também. O pessoal que passa, quer levá-la embora, mas eu não deixo. Se ela sair daqui ninguém mais vai me dar valor. Eu cuido da flor e a flor cuida de mim”.
Ao saber desta simples história, meditei-a e fui tirando algumas conclusões. A primeira refere-se ao caos. Geralmente o encaramos como símbolo do fim de tudo. Caos é lembrado como resultado da desordem, aparentemente irremediável. Porém, vale aqui evocar o livro do Gênesis 1, que vê neste vazio obscuro do caos o espaço que precede a geração do mundo. Assim o Deus Poderoso no amor e ardente de vida, faz surgir do caos toda a criação. Hoje, o potencial que Deus confiou aos humanos, sua imagem e semelhança, pode transformar o caos dos lixões em verdadeiros jardins e do que parece abominável, o sustento para tantas vidas que acreditam na solidariedade.
A segunda conclusão refere-se à lei dos contrastes. Um lírio em canteiros de lírios é um lírio comum. Nada de novo a não ser a beleza do jardim. Um lírio nascido e florido no meio do lixo contrastou com o cenário de morte, destacando a beleza da vida e o encanto que atrai os olhares dos transeuntes. Dizem que, na vida cotidiana, aprendemos a valorizar tudo o que é verdadeiro, belo e bom, na medida em que experimentamos a lei dos contrastes. Acordamos para o valor da luz quando nos vemos nas trevas. Lutamos pela saúde quando a doença nos abate. A terceira conclusão é a lição do mendigo que proclama uma das verdades mais bonitas da criação. Somos seres entrelaçados na mútua dependência. Somos chamados a contribuir com a vida de todos os seres, assim como todos os seres podem contribuir com a nossa vida. Um cão de guarda pode defender da morte uma família a ser assaltada, e a família pode cuidar do cão garantindo-lhe sustento e saúde. Um lírio pode promover a autoestima de um mendigo desprezado e um mendigo pode proteger o lírio a ser destruído pela insensibilidade.
A ecologia, para ser humana, não se pode fixar no que é mínimo, mas no máximo e no global dos cuidados. “Deus viu que tudo era bom.” Vale aqui ler e meditar o Cântico das Criaturas de São Francisco, patrono da Ecologia.
Frei Luiz Turra
Pesquisa: Arimatéa Porto
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