Andar parando e parar andando
Convencionalmente o verbo parar leva a pensar em imobilidade e andar é fazer caminho. Quando se diz que um veículo parou, simplesmente se afirma que todo o conjunto mecânico já não se movimenta. Um animal pode parar de caminhar e deitar-se numa sombra, mas pode continuar ruminando e dinamizando todo o seu sistema biológico. Porém, todo o animal, ao morrer, cessa de existir, a não ser na lembrança de quem pertencia.
Quando decidi desenvolver uma breve reflexão com este título “andar parando e parar andando”, pensei nos humanos e em seu potencial, dignidade, valor e liberdade que transcendem a todas as máquinas do mundo e a todos os animais mais adestrados e encantadores. Geralmente andamos distraídos. Pouco pensamos no mistério que somos nós! Por termos tanto dinamismo que se cruza em nossa convivência, às vezes preferimos nem pensar no humano que somos, para não nos complicar.
Andar, correr, agir, descansar e comer não é o lado único e nem o mais forte dos humanos. Também os animais assim se ocupam, adoecem, morrem e tudo termina. Não é de estranhar que nós, humanos, podemos nos equivocar e nos medir pela correria e por ocupações que preenchem a nossa agenda. Se, de um lado nos orgulhamos por andar depressa, por outro lado nos expomos ao perigo de ir parando naquela dimensão que deveria nos sustentar como humanos na sociedade e no mundo e garantir a nossa eternização.
Aqui penso em tanta gente que vai envelhecendo sem garantir razões para manter a grandeza de uma vida e gostariam de desistir quanto antes de viver. Andar parando é próprio de quem já não sonha mais; vai estancando o veio da criatividade; ocupa-se em lamentar-se da vida e xingar as pessoas com quem convive ou quem os cuida. Andar parando é poder dispor de tantos recursos e possibilidades fechando-se numa vida sem horizontes e ocupando-se apenas em curtir amarguras.
Andar parando é próprio de quem é surpreendido por uma doença e se dá o atestado de desengano antes do tempo. Em nada mais pensa, a não ser em morrer. Nesta situação de fechamento para a vida, um dos primeiros acusados é Deus. Nesta situação, não é de estranhar ver pessoas que, durante toda a vida, foram piedosas, chegarem a negar seu passado de fé.
Mas se existe este risco de andar parando, felizmente é mais frequente o lado contrário, isto é, dos que param andando. São essa multidão de homens e mulheres que sabem envelhecer na ternura, dos que sabem de seus limites, mas neles não se prendem e vão driblando suas dores com bom humor, amor e gratidão por seus cuidadores. Param andando aquelas pessoas que sabem se programar mudando sua rotina passada por leituras construtivas, orações e até escrevendo as conclusões de suas experiências de sabedoria.
Se corremos o risco de andar parando lembremos que a vida não para no tempo, mas se projeta para a eternidade. Por este motivo, é conveniente aprender a parar andando, já que a vida nos oferece mil recursos que só o amor pode administrá-los.
Frei Luiz Turra
Pesquisa: Arimatéa Porto
COMECE O DIA FELIZ
Portal Santo André em Foco
Make sure you enter all the required information, indicated by an asterisk (*). HTML code is not allowed.