Em meio ao esvaziamento da Casa Civil, o ministro Onyx Lorenzoni passou a trabalhar para reconquistar a articulação política do governo Jair Bolsonaro. Segundo aliados, a ideia de Onyx não é retomar o controle do diálogo com parlamentares no varejo, mas consolidar a relação com os principais líderes partidários e com a cúpula do Congresso.
A avaliação de Onyx e sua equipe é de que o general Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) não conseguiu assumir de fato o papel de intermediário entre as demandas do Legislativo e o Palácio do Planalto. Por isso, haveria espaço para o titular da Casa Civil mostrar ao presidente que, hoje, ele tem mais trânsito no Congresso do que o colega palaciano.
Embora tenha conseguido se estabilizar no cargo, aliados admitem ainda não haver clareza sobre papel atual de Onyx no governo, após ter perdido na semana passada o comando do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI). Para eles, a preocupação do chefe da Casa Civil deve ser a de desenhar uma estratégia para deixar de ser peça decorativa no Planalto.
Nesse cenário, a avaliação é de que a relação estreita com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), pode ser um ativo. Alcolumbre, inclusive, teria sido um dos principais articuladores pela sua permanência no governo.
Parte do Congresso, no entanto, vê a movimentação com descrença. Para essa ala, mesmo que o ministro se esforce para mostrar a deputados e senadores que atua com o aval de Bolsonaro, as recentes sinalizações do presidente indicam que seu poder foi minado. Ou seja, nessas condições, Onyx não teria respaldo para as negociações políticas e sua atuação seria inócua.
Parte dos colegas de Esplanada dos Ministérios também vê com descrença a permanência do ministro no governo. O entendimento é o de que, neste momento, não há mais condições de restabelecer a relação do chefe da Casa Civil com Bolsonaro e o restante do governo.
Apesar de ter como uma das principais funções a coordenação ministerial, Onyx, segundo integrantes da Esplanada, não tem conseguido desempenhar esse papel.
Um episódio recente tem sido citado frequentemente como sintoma dessa falta de atuação e de prestígio do ministro: nas primeiras reuniões em que foi discutida a criação do Conselho da Amazônia, Onyx era apontado como o nome para comandar o grupo. Segundo integrantes do governo, foi por sugestão de Ramos, no entanto, que Bolsonaro decidiu entregar ao vice-presidente Hamilton Mourão a coordenação das ações voltadas para a região.
Parlamentares próximos a Onyx dizem que o chefe da Casa Civil perdeu o timing de demarcar seu espaço no governo. A avaliação é que o ministro tinha que ter se posicionado de maneira mais firme em junho do ano passado, quando perdeu de uma só vez a articulação política, a função de fazer a análise jurídica de decretos e projetos de lei e o comando da imprensa nacional.
No Planalto, a guerra pelo comando da articulação política já é tratada de maneira aberta. Num movimento paralelo à tentativa de reacomodação de Onyx, Ramos começou a se movimentar para demarcar território. Nos últimos dias, o chefe da Secretaria de Governo se reuniu com presidentes de partidos —entre os quais Ciro Nogueira, do PP, Gilberto Kassab, do PSD, e Marcos Pereira, do Republicanos. Segundo relatos de quem participou das conversas, o ministro fez um mea-culpa, admitindo que erros na condução das conversas com o Congresso.
O Globo
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