Em evento no Rio de Janeiro, na noite desta quarta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retomou as críticas que vem fazendo ao governo Bolsonaro desde que deixou a prisão e sinalizou mais uma vez que deseja unir o próprio partido a outras siglas como estratégia para recuperar o protagonismo da esquerda em eleições futuras, como as de 2020 e 2022.
Durante o discurso feito no Circo Voador, na Lapa, região central da cidade, Lula foi acompanhado por apoiadores petistas, como a ex-presidente Dilma Rousseff e Fernando Haddad, candidato petista derrotado no segundo turno das eleições do ano passado. Também esteve presente o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), que almeja contar com o apoio de Lula para tentar se eleger prefeito da capital fluminense no ano que vem.
— Vamos reestabelecer nossas relações com o PSOL, o PC do B e com grande parte do PDT — afirmou Lula, que também defendeu recentemente a existência de candidaturas próprias do PT nas cidades brasileiras em 2020.
Além de Freixo, Lula estava acompanhado da deputada federal Benedita da Silva, cuja candidatura à prefeitura do Rio está nos planos avaliados por Lula como possibilidades do partido para 2020, conforme adiantou a colunista Bela Megale na última terça-feira. O ex-presidente também considera o apoio a Freixo, que não pareceu remoto diante da proximidade dos dois durante o evento.
Freixo chegou ao palco do Circo Voador junto com Lula, Dilma, Haddad, Benedita e a deputada federal Jandira Feghali (PC do B). Tanto ele quanto Benedita discursaram no mesmo tom que Lula, embora nenhum dos dois tenha abordado diretamente a disputa pela prefeitura carioca.
— A gente tem um compromisso de unificar o campo progressista, Lula, e a gente conversou sobre isso nós dois — afirmou Freixo, que completou: — A gente tem que estar junto não só na eleição. O PT tem uma história muito grande para a história do país e defender o PT dos ataques que sofreu é um compromisso de quem tem compromisso com a democracia.
Praticamente todos os discursos de autoridades e apoiadores de Lula presentes no evento tiveram o presidente Jair Bolsonaro e figuras de seu governo como objeto.
O ex-presidente criticou diversas medidas do primeiro ano de mandato do oponente político, como as nomeações de ministros, a extinção do Ministério da Cultura, a proposta de um excludente de ilicitude no pacote anticrime, a diminuição de recursos para produções audiovisuais nacoonais e as críticas recentes de Bolsonaro ao acadêmico Paulo Freire.
— Atitudes autoritárias como essas não deixam dúvidas de que esse é o governo do avesso. Bota para cuidar da cultura os inimigos da cultura. Para cuidar do meio ambiente os inimigos do meio ambiente. Das relações internacionais os inimigos da diplomacia. Bota machista para criar políticas para as mulheres e racistas para a fundação que defende o direito do negro — declarou Lula, que classificou Bolsonaro como uma "figura grotesca politicamente".
Na mesma linha do ex-presidente, Haddad se referiu a Bolsonaro como "tosco" e disse acreditar que o atual ocupante do Palácio do Planalto "nunca leu uma linha" das obras de Paulo Freire.
Dilma, por sua vez, fez críticas aos posicionamentos dos ministros Damares Alves , Família e Direitos Humanos) e Abraham Weintraub (Educação). Também criticou Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública), ao dizer que "um juiz que se presta ao papel que ele prestou ataca o fundamento da Justiça". As críticas à Operação Lava-Jato também foram entoadas por Lula, que defendeu a prisão do procurador Deltan Dallagnol por supostamente ter inventado mentiras para incriminar a cúpula do partido no caso chamado de "Quadrilhão do PT", pelo qual Lula e Dilma foram absolvidos no início deste mês. O Ministério Público Federal (MPF) não insistiu na ação penal por falta de provas específicas sobre os crimes que investigava.
PERSONALIDADES DA CULTURA
Essa foi a primeira vez que Lula reuniu a militância petista no Rio após ter deixado a prisão, no início de novembro. Ele foi liberado após uma mudança no entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre prisões após condenações em segunda instância. Há duas ações, no âmbito da Operação Lava-Jato, em que o petista foi condenado por órgãos colegiados do Judiciário: as do caso do tríplex do Guarujá (SP) e do sítio de Atibaia (SP).
O evento com apoiadores cariocas começou às 19h. Batizado de "Lula abraça a cultura", reuniu integrantes da classe artística da cidade, como os atores Beth Mendes e Osmar Prado e o cantor Agnaldo Timóteo. Também houve homenagem à cantora Beth Carvalho, que morreu em abril deste ano. Lula chegou ao local por volta de 19h45m, e subiu ao palco 15 minutos depois e só se despediu por volta das 22h10m.
Outros aliados do ex-presidente marcaram presença, como a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), o ex-senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim.
Ao longo da noite, principalmente antes do discurso de Lula, os participantes do encontro se manifestaram contra o governo Bolsonaro e a favor de figuras criticadas pelo presidente, como Paulo Freire. Houve também gritos em homenagem à vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada em março de 2018. A mãe e a irmã da parlamentar, Marinete e Anielle Franco, estavam presentes.
Em seu discurso, Haddad também fez referência à fala mais recente de Bolsonaro sobre Freire. Na segunda-feira, o presidente se referiu ao acadêmico como "energúmeno".
— Nesses dias todos, não vivi um dia desse governo, sem que ele (Bolsonaro) e os ministros tenham ofendido alguém — criticou Haddad.
Para o evento, o Circo Voador foi decorado com um boneco inflável estampado com um desenho de Lula vestindo a faixa presidencial e com bandeiras do Brasil, do Chile, da Coreia do Norte e do movimento LGBTQ+.
Os portões foram fechados poucos minutos após às 19h e dezenas de pessoas precisaram acompanhar os discursos de Lula e Dilma em frente ao Circo Voador, onde havia uma transmissão do som do evento. Apesar da possibilidade de lotação máxima de 2,2 mil pessoas, a casa de show foi vedada para novas entradas sem que estivesse cheia. Aos interessados em entrar, seguranças informavam que o ato teve público restringido por questões de segurança.
O Globo
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