A saída do ex-presidente Lula da prisão acendeu um alerta no Palácio do Planalto em relação à única região em que o presidente Jair Bolsonaro perdeu o segundo turno das eleições do ano passado: o Nordeste. Enquanto o petista já começa a fazer viagens, mantendo seu nome forte entre os eleitores nordestinos, o governo tenta tirar do papel seus planos enquanto sofre com o impacto negativo do vazamento de óleo que atingiu as praias da região.
O Palácio do Planalto tem tido dificuldades para deixar sua marca no Nordeste no primeiro ano da gestão. O diagnóstico é que Bolsonaro ainda depende de programas do governo Lula, como o Bolsa Família — que ganhou um 13º. Os investimentos do governo federal na região caíram este ano, segundo um levantamento do GLOBO: de janeiro a outubro, foram pagos R$ 5,7 bilhões pelos ministérios, contra R$ 3,8 bilhões no mesmo período do ano passado. O mesmo ocorreu todas as regiões do país neste ano, que registra o menor nível de investimentos da União desde 2007.
O ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, é quem tem se dedicado mais ao Nordeste. Ele teve agendas recentes com os governadores petistas Fátima Bezerra (RN) e Camilo Santana (CE) e com os pessebistas Paulo Câmara (PE) e João Azevedo (PB), além de Renan Filho (MDB-AL) e Belivaldo Chagas (PSD-SE). O gesto, porém, foi malvisto entre deputados aliados. Eles fizeram chegar ao governo reclamações de uma suposta tentativa de formar pontes com a oposição.
— É uma região muito sofrida. “Ah, votou no Haddad, é PT”. Pô, meu amigo, o povo precisa de apoio. Votou no PT? Tudo bem. É um direito deles. Agora, não vou deixar os caras a pão e água — diz o ministro.
Verbas para municípios
Ramos tem percorrido a região para apresentar o “Pacto Mais Brasil – Nordeste”. Anunciado este mês, o programa contempla 222 municípios dos nove estados região, que reúnem 7,2 milhões de pessoas — 12,7% da população nordestina. Em 2019, a estimativa de investimentos no Nordeste é de R$ 1 bilhão. No ano que vem, mais R$ 3,4 bilhões.
De acordo com a secretaria especial de Assuntos Federativos da Secretaria de Governo, Deborah Arôxa, o objetivo é criar polos de desenvolvimento que sejam ampliados ao longo do tempo até que se chegue em um universo de 1.450 cidades.
Deborah apontou que o foco principal é dar condições estruturais e logísticas de acesso à água nos municípios. A secretária também destacou o desenvolvimento do ciclo do agronegócio, a partir do AgroNordeste, programa do Ministério da Agricultura que prevê um investimento de R$ 8 bilhões em dois anos. Voltado para pequenos e médios produtores, o AgroNordeste foi lançado em outubro, no Palácio do Planalto, para ser implementado até o fim de 2020 em 230 municípios da região e também de Minas Gerais, com população rural de 1,7 milhão de pessoas. O governo tem como objetivo aumentar a assistência técnica e diversificar mercados, além de garantir segurança hídrica.
O coordenador da bancada do Nordeste no Congresso, o deputado Julio Cesar (PSD-PI), vê com bons olhos o AgroNordeste, mas diz que ele não é suficiente.
— É pouco, porque acabou o FINOR (Fundo de Investimentos do Nordeste) e o FINAM (Fundo de Investimentos da Amazônia). Eles geram muitas esperanças, mas a gente sabe do problema do caixa do Tesouro.
Procurado, o Ministério do Desenvolvimento Regional diz ter investido mais de R$ 1,4 bilhão em segurança hídrica e R$ 3 bilhões ao todo na região neste ano. Segundo o ministério, o valor dos contratos de projetos de infraestrutura no Nordeste subiu em 17,6%, de R$ 6,3 bilhões até setembro de 2018 para R$ 7,4 bilhões no mesmo período de 2019. Houve, ainda, um aumento dos recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste repassados a empreendedores e produtores, ainda segundo o ministério — um total de R$ 19,7 bilhões, ante R$ 16,5 bilhões em 2018.
A crise do óleo que atingiu centenas de praias nordestinas também expôs Bolsonaro na região. A demora em dar respostas se somou ao fato de o presidente não ter visitado sequer um local afetado. Neste mês, depois de voltar de uma viagem pela Ásia, ele prometeu ver de perto a tragédia ambiental, mas não cumpriu.
Bolsonaro só deve ir à região no dia 11, para participar de uma cerimônia que marcará a entrega da primeira fase da modernização do Aeroporto Internacional de Salvador. Será sua primeira visita à cidade, uma das quatro capitais em que não foi o mais votado no primeiro turno do ano passado. Em dez meses e meio de governo, o presidente foi cinco vezes ao Nordeste e passou por Pernambuco, Bahia, Paraíba e Piauí.
Deputados insatisfeitos
O deputado Juscelino Filho (DEM), coordenador da bancada do Maranhão na Câmara, se queixa da ausência de uma nova política habitacional, já que o governo cortou a primeira faixa do Minha Casa, Minha Vida, e da situação das rodovias federais em seu estado.
— Se ele (Bolsonaro) concentrasse um pouco e buscasse resolver alguns problemas, conseguia apresentar resultados para o povo. Só tem uma forma de conseguir penetrar no Nordeste: dando atenção. Investindo, criando oportunidades, gerando investimentos — diz Juscelino.
O coordenador de Alagoas, Marx Beltrão (PSD), tem um diagnóstico parecido. Ele queixa do Canal do Sertão, obra de transposição do Rio São Francisco que já consumiu R$ 2,5 bilhões, mas ainda não funciona:
— Não vi nenhuma ação em que se possa dizer que teve mudança positiva. É exatamente a mesma coisa que vem acontecendo há anos.
O Globo
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