O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantém reuniões quase diárias com o ministro da Secom (Secretaria de Comunicação), Sidônio Palmeira, desde que indicou o publicitário ao cargo, em janeiro. Desde a posse, em 14 de janeiro, até essa segunda (31), passaram-se 76 dias — e as reuniões só não ocorreram em 24 deles, incluídos fins de semana, feriados e deslocamentos nacionais e internacionais de Lula, como a recente viagem à Ásia. O levantamento foi feito pelo R7. Nesta terça-feira (1°), inclusive, a primeira agenda do dia de Lula é exatamente com Sidônio, às 9h.
Apesar dos encontros frequentes, a popularidade do presidente segue em baixa desde o início do ano. Lula trocou o comando da Secom, antes sob o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), em meio a insatisfações e críticas públicas à divulgação das ações do governo federal, de responsabilidade da pasta. No entanto, pesquisa Ipsos-Ipec recém-divulgada mostrou que 41% dos brasileiros consideram a gestão ruim ou péssima (leia mais sobre pesquisas abaixo).
A gestão aposta em ações recentes para alavancar a aprovação ao petista, como a expansão do crédito consignado para todos os trabalhadores com carteira assinada e a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5.000 por mês.
Na quinta-feira (3), o presidente vai participar de um evento para apresentar programas e ações de dois anos de governo visando melhorar a aprovação dele. De acordo com o Palácio do Planalto, o evento recebeu o nome de “O Brasil Dando a Volta Por Cima”. A cerimônia vai contar com a participação de ministros de Estado, parlamentares, autoridades e integrantes da sociedade civil organizada.
A iniciativa de crédito já está em vigor, mas, por ser uma medida provisória, precisa ser aprovada pelo Legislativo — em até 120 dias contados da publicação, em 21 de fevereiro — para não perder a validade.
Embora a isenção do IR precise receber o aval do Congresso para valer, o Executivo acredita que a nova faixa esteja em vigor já a partir do próximo ano. Não há ainda, contudo, data para os parlamentares votarem o tema.
Reuniões com o novo titular
O primeiro encontro entre Lula e Sidônio foi em 10 de janeiro, antes mesmo de o ministro assumir. As conversas também ocorreram nos dias 13 e 14. Ele, que foi responsável pela campanha presidencial do petista em 2022, começou na Secom em meio à crise do Pix e à alta do preço dos alimentos.
Para tentar unificar as ações de divulgação do governo em meio à baixa popularidade, o ministro da Secom reuniu, há duas semanas, as assessorias de comunicação dos ministérios e órgãos ligados ao Executivo. Sidônio chamou cerca de 500 profissionais para alinhar as estratégias e apresentar conceitos a serem usados na informação de serviços, programas e políticas públicas.
Alterações internas
Como prometido por Sidônio (veja mais abaixo), Lula aumentou as entrevistas concedidas à imprensa. Desde a posse do novo ministro até essa segunda (31), foram 20 conversas, além de um pronunciamento em rede nacional de TV e rádio. A título de comparação, no mesmo período do ano passado foram 11 entrevistas.
O novo ministro também fez alterações na equipe: trocou o secretário de Imprensa e contratou uma nova gestão para as redes digitais. José Chrispiniano, que tocava o relacionamento de Lula com os veículos de mídia desde 2011, foi substituído por Laércio Portela.
O comando da secretaria de Estratégias e Redes, que chefia áreas como pesquisa, análise e canais digitais, também foi trocado. No lugar de Brunna Rosa, que coordenou a comunicação digital do petista na campanha eleitoral de 2022, assumiu Mariah Queiroz. Na prática, a substituição indicou uma nova fase na estratégia da presença do governo nas redes sociais.
Desaprovação
Apesar das atualizações e dos esforços, a popularidade de Lula segue em baixa. A pesquisa Ipsos-Ipec divulgada em 13 de março mostrou que 41% dos brasileiros consideram a gestão ruim ou péssima, contra 27% que a classificam como ótima ou boa.
Na comparação com o último levantamento, divulgado em dezembro de 2024, a avaliação negativa subiu sete pontos percentuais (eram 34%), e a positiva caiu sete pontos percentuais (eram 34%). Os dados também indicaram que 55% dos cidadãos desaprovam a forma como Lula administra o país (recorde para o atual mandato), contra 44% que aprovam.
O cenário negativo de março segue a tendência dos meses anteriores. No fim de janeiro, pesquisa Genial/Quaest mostrou que a desaprovação ao trabalho do presidente subiu dois pontos porcentuais na comparação com dezembro de 2024, de 47% para 49%. No período, a aprovação oscilou cinco pontos para baixo, de 52% para 47%.
Em 14 de fevereiro, pesquisa Datafolha apontou que 41% dos eleitores reprovavam o presidente, o maior número já registrado pelo levantamento considerando os mandatos anteriores de Lula. O petista tinha, ainda, a pior aprovação dos três governos dele, com 24%.
Dias depois, levantamento da CNT (Confederação Nacional do Transporte) divulgou que a gestão é avaliada como ruim ou péssima por 44% dos brasileiros. Esse foi o maior número medido pela CNT dos três mandatos de Lula. Houve, ainda, alta de 13,2 pontos percentuais em relação ao dado anterior.
Segundo a pesquisa, 28,7% achavam o governo de Lula ótimo ou bom, e 26,3% tinham uma avaliação regular. Pela primeira vez na história do levantamento da confederação, a avaliação negativa do petista superou a positiva.
Discursos problemáticos
Soma-se ao contexto falas controversas proferidas por Lula. O presidente é conhecido por escolher improvisar em vez de ler os discursos, escritos pela própria equipe. Apesar dos deslizes, que ocorrem desde o início do mandato, Sidônio informou, ao assumir a Secom, que não repreenderia o presidente por eventuais falas problemáticas (leia mais abaixo).
O episódio mais recente teve a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, como alvo. Em 12 de março, o petista atribuiu a escolha de Gleisi para comandar a articulação política do governo ao fato de ela ser uma “mulher bonita”. Antes dela, a pasta era chefiada por Alexandre Padilha, agora ministro da Saúde.
“Acho muito importante trazer aqui o presidente da Câmara [Hugo Motta (Republicanos-PB)] e do Senado [Davi Alcolumbre (União-AP)], porque uma coisa que eu quero mudar, estabelecer a relação com vocês, por isso eu coloquei essa mulher bonita para ser ministra das Relações Institucionais, é que eu não quero mais ter distância de vocês”, declarou Lula.
No início de fevereiro, em meio à alta do preço dos alimentos, o presidente sugeriu que as pessoas deixassem de comprar os itens que estão caros para forçar os produtos a terem redução de preço. Para Lula, não adquirir alimentos caros faz parte da “sabedoria do ser humano”. O petista também afirmou que os brasileiros não podem ser “extorquidos”.
“Uma das coisas mais importantes para que a gente possa controlar o preço é o próprio povo. Se você vai no supermercado e você desconfia que tal produto está caro, você não compra. Ora, se todo mundo tiver essa consciência e não comprar aquilo que acha que está caro, quem está vendendo vai ter que baixar para vender, senão vai estragar”, declarou, à época.
Gestão de Sidônio
Quando foi confirmado como novo chefe da Secom, Sidônio afirmou que o presidente pediu a ele “uma comunicação perfeita”. O publicitário também destacou que o objetivo era aumentar a popularidade do governo e reforçou a necessidade de melhorar a comunicação digital e a presença do Executivo nas redes sociais.
Sidônio afirmou, ainda, que Lula aumentaria as entrevistas à imprensa e informou que “nunca puxaria a orelha” do presidente por eventuais deslizes nos discursos. O publicitário negou, ainda, que as falas do petista sejam melhores quando lidas, em detrimento de improvisos. “O presidente tem vários predicados e vários atributos. Tem vários atributos, inclusive a fala. Ele é quem é pelo jeito que ele fala”, defendeu.
“O que eu vou fazer é a melhor comunicação, de uma forma mais atualizada, mais adequada, é nisso que eu vou trabalhar. A comunicação tem que ser uníssona. Essa é a compreensão. Acho que a gente vai fazer primeiro uma anamnese [diagnóstico], para depois ver as medidas”, finalizou Sidônio.
R7
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