Os investigadores da morte da vereadora Marielle Franco querem ouvir novamente o porteiro do condomínio Vivendas da Barra, onde vivia um dos suspeitos do crime, o sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa. Os investigadores pretendem apurar se o funcionário cometeu falso testemunho ao afirmar que alguém da casa número 58 (que pertence ao presidente Jair Bolsonaro) autorizou o acesso ao condomínio de outro suspeito do assassinato, o ex-PM Élcio de Queiroz, no dia do crime.
O presidente Jair Bolsonaro negou, na noite deste domingo, que tenha agido para obstruir as investigações .
— O que eu fiz foi filmar a secretária eletrônica com a respectiva voz de quem atendeu o telefone. Só isso, mais nada. Não peguei, não fiz backup, não fiz nada. A memória da secretária eletrônica está com a Polícia Civil há muito tempo. Ninguém quer adulterar nada — afirmou.
A menção ao nome do presidente Bolsonaro — o porteiro alegou, em dois depoimentos, que foi atendido no interfone por alguém que se identificou como “seu Jair” — fez com que o Ministério Público remetesse parte da investigação ao Supremo Tribunal Federal (STF). Mesmo assim, os investigadores entendem que não há impedimento para ouvir novamente o porteiro na apuração sobre o suposto falso testemunho, já que ele não tem direito a foro especial.
O resultado da perícia dos áudios da portaria foi divulgado na quarta-feira passada, em entrevista coletiva das promotoras do caso Marielle, apenas duas horas e 25 minutos após sua conclusão. O episódio repercutiu mal para parte da cúpula do próprio MP, que considera que o órgão se expôs ao se manifestar sobre um caso remetido ao STF e, portanto, de competência da Procuradoria-Geral da República (PGR).
No sábado, Bolsonaro disse que “pegou” os áudios da portaria do condomínio, “antes que eles fossem adulterados”. Ontem, em entrevista à TV Record, o presidente negou que tenha cometido obstrução de Justiça.
— Que obstrução? Apenas eu falei com meu filho, ele foi na portaria, como qualquer um dos 150 moradores do condomínio podem fazer. Colocou a data 14 de março do ano passado, entrou nas ligações da minha casa e para a casa dele, ele botou o áudio e filmou esse áudio. Nada além disso — afirmou, numa referência a um vídeo publicado na quarta-feira pelo vereador Carlos Bolsonaro.
A polêmica envolvendo a família Bolsonaro ocorre no momento em que o MP-RJ se prepara para sustentar a condenação de Lessa e de Queiroz no 4º Tribunal do Júri na capital. Inicialmente, a promotora escalada para fazer a acusação era Carmen Eliza Bastos de Carvalho, mas ela se afastou após a repercussão de posts em redes sociais que mostram o seu apoio à campanha presidencial de Bolsonaro.
O Globo
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