Novembro 24, 2024

Bolsonaro diz que polícia ignorou registros e que depoimento de porteiro foi inventado a mando de Witzel Featured

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) se disse nesta quarta-feira (30) surpreso que um delegado de polícia do Rio de Janeiro tenha ignorado os registros e áudios da portaria de seu condomínio e inventado o depoimento do porteiro que citou seu nome nas investigações sobre a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes.

Para o presidente, essa "invenção" ocorreu "por ordem e determinação do senhor governador Witzel", para tentar prejudicá-lo.

"Tem o registro, sim, para casa outra. Agora, nos surpreende a qualquer um a Polícia Civil, o delegado que tá fazendo o inquérito, ignorar isso e inventar um depoimento, no meu entender por ordem e determinação do senhor governador Witzel para tentar me prejudicar", respondeu Bolsonaro.

"Não tem nada na sua casa, então, presidente?", questiona um jornalista.

"Não tem. Já determinei... meu filho foi na portaria, pegou os registros de voz inclusive para aquele horário onde foi feita a ligação. Não foi para a casa minha, e a voz que se apresenta lá está muito longe de ser a minha", disse Bolsonaro.

O presidente fazia referência a imagem e áudio divulgados na manhã desta quarta pelo vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente, no Twitter. A postagem foi compartilhada, sem seguida, pela conta do presidente.

Segundo Carlos, os registros são do sistema que grava as ligações feitas da portaria para as casas do condomínio.

O filho do presidente fez isso para contestar as informações fornecidas à policia pelo porteiro e o registro manual de entrada no condomínio, já analisado pela investigadores. A TV Globo teve acesso, com exclusividade, a registros da portaria do Condomínio Vivendas da Barra, onde mora o principal suspeito de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, Ronnie Lessa – é o mesmo condomínio onde o presidente Jair Bolsonaro tem casa.

O porteiro contou à polícia que, horas antes do assassinato, em 14 de março de 2018, o outro suspeito do crime, Élcio de Queiroz, entrou no condomínio e disse que iria para a casa do então deputado Jair Bolsonaro. E que alguém na casa dele, a de número 58, liberou a entrada.

Os registros de presença da Câmara dos Deputados mostram que Bolsonaro estava em Brasília no dia. Como o nome do presidente foi citado, a lei obriga que o Supremo Tribunal Federal (STF) analise o caso.

No áudio mostrado pelo vereador nesta quarta, uma voz anuncia a chegada de Élcio para a casa 65, onde morava o outro acusado, Ronnie Lessa. O vereador conclui dizendo que há algo de errado nas informações passadas para a Rede Globo.

Fontes ouvidas pela TV Globo dizem que há divergências entre as entradas registradas no documento em papel com as exibidas no vídeo. São, por exemplo, entradas que aparecem em um registro e não aparecem em outro.

As gravações de áudio estão em poder da polícia, mas não foram periciadas porque os investigadores decidiram esperar por uma manifestação do Supremo Tribunal Federal (STF) em função da citação ao presidente da República, Jair Bolsonaro.

Primeiras acusações contra Witzel
Ainda na noite de terça-feira (29), horas após a revelação feita pelo JN, Bolsonaro culpou Witzel por repassar as informações à imprensa, o que o governador nega. Nesta quarta, mais cedo, Bolsonaro disse que Witzel contou a ele no dia 9 de outubro sobre a citação do seu nome no caso Marielle.

"Deixar bem claro também: dia 9 de outubro, às 21h, eu estava no Clube Naval no Rio de Janeiro. Chegou o governador Witzel e chegou perto de mim e falou o seguinte: 'o processo está no Supremo'. Eu falei: 'que processo?' 'O processo da Marielle.' 'Que que eu tenho a ver com a Marielle?' 'O porteiro citou teu nome.' Quer dizer: Witzel sabia do processo que estava em segredo de Justiça. Comentou comigo", afirmou o presidente.

"No meu entendimento, o senhor Witzel estava conduzindo o processo com o delegado da Polícia Civil pra tentar me incriminar ou pelo menos manchar o meu nome com essa falsa acusação, que eu poderia estar envolvido na morte da senhora Marielle", afirmou Bolsonaro.

Após as declarações do presidente, o governador disse que não manipula o Ministério Público ou a Polícia Civil, e chamou as acusações contra ele de "levianas".

"A Polícia Civil, no meu governo, tem independência, o MP tem e sempre terá independência e, infelizmente, eu recebi com muita tristeza essas levianas acusações." Witzel também negou ter vazado qualquer informação sobre o processo.

Mais tarde, Witzel disse por meio de sua conta no Twitter esperar que Bolsonaro peça desculpas ao povo do Rio de Janeiro.

Investigação sobre os investigadores
Mais cedo, Bolsonaro disse que ia falar com o ministro da Justiça, Sergio Moro, sobre a possibilidade de colher um novo depoimento do porteiro – desta vez, pela Polícia Federal. Horas depois, o presidente voltou a ser questionado sobre isso e afirmou:

"O Moro o, a AGU [Advocacia-Geral da União] defende o governo nesses momentos, e obviamente a defesa não é do ministério ele [inaudível]... Com toda certeza, tomará a medida cabível que é pedir uma investigação dos que investigavam o caso Marielle através do Ministério Público."

Elcio Queiroz
Jornalistas questionaram Bolsonaro se ele conhecia o ex-policial militar Elcio Queiroz, suspeito de envolvimento na morte de Marielle.

"Não vi, olha eu tiro foto com centenas, milhares de policiais no Rio de Janeiro, de décadas... Por ocasião da campanha, tinha dia que eu tirava mais de 500 fotografias. Pode ser que tenha foto com ele, mas dentro do condomínio nunca frequentei, não é a casa dele, a casa de ninguém", disse Bolsonaro.

Elcio foi preso junto com Ronnie Lessa em março deste ano. Segundo as investigações da Polícia Civil do Rio, Ronnie é o autor dos 13 disparos que mataram Marielle e Anderson; ele estava no banco de trás do Cobalt que perseguiu o carro da vereadora. Elcio é apontado como o motorista do Cobalt na noite do crime.

G1
Portal Santo André em Foco

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