O presidente Jair Bolsonaro ameaçou hoje isolar a Argentina do Mercosul , dependendo da postura do próximo governo no país vizinho, e se juntar com Paraguai e Uruguai para levar adiante a abertura comercial no bloco.
Bolsonaro não deixou claro como isso ocorreria, mas frisou que é preciso estar preparado para agir porque considera que uma vitória do grupo de Cristina Kirchner na eleição presidencial do dia 27 ''pode, sim, colocar em risco todo o Mercosul''.
O tema do Mercosul surgiu na conversa com Bolsonaro com jornalistas, em Tóquio nesta quarta-feira, ao sair para um banquete organizado pelo primeiro-ministro Shinzo Abe. Ele foi perguntado se confirmava que o Brasil podia sair do Mercosul, no caso de a Argentina não fazer abertura ampla.
O presidente respondeu que, antes mesmo de tomar posse no Palácio do Planalto, conversou sobre Mercosul com o ministro da Economia, Paulo Guedes.
Bolsonaro disse que o Brasil quer é que a Argentina, caso a oposição vença, continue com abertura comercial da mesma forma como vinha fazendo o atual presidente Mauricio Macri.
— Em caso contrário, podemos nos reunir com Paraguai e Uruguai e tomarmos uma decisão não semelhante àquela [contra o Paraguai] — afirmou o presidente.
Em 2012, o Paraguai foi suspenso do bloco após o impeachment do presidente Fernando Lugo, ao mesmo tempo em que a Venezuela foi aceita como novo membro. Os atos foram anunciados justamente pela então presidente argentina Cristina Kircher, na presidência rotativa do Mercosul.
Bolsonaro citou um livro de Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, contando como os outros sócios (Brasil, Argentina e Uruguai) afastaram na época o Paraguai para entrar a Venezuela: ''É uma história que, se não fosse escrita (por alguém) de dentro dele, você jamais acreditaria'', disse.
— Aquela (suspensão do Paraguai) foi com outros propósitos — disse. — O nosso propósito não é facilitar a esquerda [a] formar uma grande pátria bolivariana como queriam os governantes naquela época. Nossa ideia é, sim, de fato abrir o mercado e fazer comércio com o mundo todo.
Quando um repórter perguntou se seria então tirar a Argentina do bloco, Bolsonaro respondeu:
— Se, você tem razão, temos que contar sempre com o improvável e se preparar como reagir a possíveis mudanças — disse. — Sabemos que a volta da turma do Foro de São Paulo da Cristina Kirchner pode, sim, colocar em risco todo o Mercosul. E em possivelmente colocando, repito, possivelmente, temos que ter uma alternativa no bolso.
Um primeiro teste ao novo governo da Argentina, se confirmada a vitória do grupo de Cristina Kirchner, será na cúpula do Mercosul em dezembro, quando o governo brasileiro planeja propor uma revisão
A área econômica do governo Bolsonaro tem mencionado o provável surgimento do “Mercosul 2.0”, ou bloco flexibilizado. Ou seja, uma nova prática em que cada sócio pode negociar ou não em conjunto.
O Globo
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