Em áudio, obtido pela Polícia Federal, de uma reunião em 2020 do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com o ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Alexandre Ramagem, o ex-presidente disse que “a gente nunca sabe se alguém tá gravando alguma coisa” sem saber que estava sendo gravado. O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes tirou o sigilo da gravação nesta segunda-feira (15).
Na gravação, o ex-presidente e Ramagem tratam sobre providências para tentar livrar o senador Flávio Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente, de uma investigação da Receita Federal sobre possível esquema de “rachadinha” em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, na época em que era deputado estadual.
“Rachadinha” é o nome dado a uma manobra em que os funcionários devolvem parte do salário recebido ao parlamentar. Segundo o MPRJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), a investigação do caso começou depois do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) identificar movimentações bancárias atípicas no nome de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio apontado como uma das pessoas ligadas à movimentação no gabinete do parlamentar.
Também participaram dessa reunião o então ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno, e uma advogada de Flávio. A gravação tem uma hora e oito minutos de duração. De acordo com a corporação, Ramagem teria afirmado na reunião que seria preciso instaurar “procedimento administrativo contra os auditores, para anular as investigações, bem como retirar alguns auditores de seus respectivos cargos”.
Eles discutiram formas de conseguir informações sobre a investigação contra o senador e que essa atuação deveria ter um tom “fechadíssimo”. A gravação integra o inquérito que investiga o uso da estrutura da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para espionagem ilegal de autoridades.
Alexandre Ramagem vai prestar depoimento na próxima quarta-feira (17), no Rio de Janeiro. Na semana passada, a Polícia Federal cumpriu cinco mandados de prisão preventiva contra pessoas que teriam participado do esquema. As ordens foram expedidos pelo STF.
Em relatório enviado à Corte, a PF informou que os policiais federais que atuavam na Abin, sob a direção de Alexandre Ramagem, utilizaram-se das ferramentas da agência para serviços “ilícitos e para interferir em diversas investigações da Polícia Federal”.
R7
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