Em uma nova mensagem destinada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na rede social X (Twitter), o ministro de Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, reclamou nesta quarta-feira (21) da comparação que Lula fez entre a ação dos militares israelenses com o Holocausto.
Desta vez, Katz apareceu ao lado de uma brasileira que ele identifica como Rafaela Treistman, de 20 anos. Ele afirma no texto que a mulher estava em uma festa que terroristas do Hamas atacaram em 7 de outubro.
"Presidente Lula, ao comparar nossa guerra justa contra o Hamas aos atos desumanos de Hitler e dos nazistas, Raffaele tem uma mensagem para você. Você deve ouvir", diz o ministro.
Em um vídeo de 8 minutos, Rafaela diz que estava no evento, quando precisou se esconder junto com o namorado, Hanani Glazer, em um bunker na estrada. Porém, o local foi invadido pelo Hamas e, para sobreviver, precisou se esconder embaixo de corpos por cerca de cinco horas.
Segundo o ministro, "Rafaela sobreviveu, mas seu companheiro Hanani Glazer foi brutalmente assassinado por terroristas do Hamas, junto com alguns de seus amigos".
Ela também destaca que o governo brasileiro não a procurou para saber o que aconteceu, e também não entrou em contato com familiares de pessoas que morreram em Gaza, como a de Glazer. "Simplesmente, nós sentimos que esqueceram da gente".
Brasileiros consideram que ministro exagera
Essa é a terceira manifestação pública do ministro Katz, de Israel, em resposta ao discurso de Lula.
Membros do governo de Lula afirmam que Katz está exagerando em sua reação.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou que a postura israelense após declarações do presidente Lula é uma "vergonhosa página da diplomacia de Israel". Em declarações divulgadas pelo Itamaraty, dadas a duas agências de notícias internacionais (Reuters e Bloomberg), Mauro Vieira repudiou as falas das autoridades israelenses.
"Uma chancelaria dirigir-se dessa forma a um chefe de Estado, de um país amigo, o presidente Lula, é algo insólito e revoltante. Uma chancelaria recorrer sistematicamente à distorção de declarações e a mentiras é ofensivo e grave. É uma vergonhosa página da história da diplomacia de Israel, com recurso à linguagem chula e irresponsável", afirmou Vieira.
Um diplomata que pediu para não ser identificado afirmou que o tom do chanceler israelense é de "briga de bar". Segundo o blog da Daniela Lima, as mensagens de Katz mostram desespero. "Eles esperavam notas e notas de repúdio à fala do Lula. Não tiveram. O que houve foi um porta-voz dos Estados Unidos, questionado numa coletiva, dizer que discorda do Brasil. Em diplomacia isso é igual a nada", afirmou formulador da política externa de Lula.
De acordo com o blog da Andréia Sadi, o governo brasileiro avalia expulsão de embaixador de Israel após atrito diplomático. Fontes do Itamaraty disseram que o movimento não é desejável, mas que pode ocorrer se houver escalada por parte dos israelenses.
Pedido de desculpas
Na terça-feira, Katz voltou a cobrar um pedido de desculpas de Lula após o presidente do Brasil ter comparado a ação de Israel em Gaza, na Palestina, ao Holocausto —o extermínio de judeus na Segunda Guerra Mundial.
Com um post em português, o ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, classificou a comparação feita por Lula de "promíscua e delirante", e reafirmou que Lula "continuará sendo persona non grata em Israel" até que se desculpe.
"Presidente do Brasil @LulaOficial, milhões de judeus em todo o mundo estão à espera do seu pedido de desculpas. Como ousa comparar Israel a Hitler? É necessário lembrar ao senhor o que Hitler fez? Levou milhões de pessoas para guetos, roubou suas propriedades, as usou como trabalhadores forçados e depois, com brutalidade sem fim, começou a assassiná-las sistematicamente. Primeiro com tiros, depois com gás. Uma indústria de extermínio de judeus, de forma ordeira e cruel", diz um trecho da mensagem.
Em outro trecho, o ministro defende a ação em Gaza:
"Israel embarcou numa guerra defensiva contra os novos nazistas que assassinaram qualquer judeu que viam pela frente. Não importava para eles se eram idosos, bebês, deficientes. Eles assassinaram uma garota em uma cadeira de rodas. Eles sequestraram bebês. Se não tivéssemos um exército, eles teriam assassinado mais dezenas de milhares".
Por fim, conclui:
Que vergonha. Sua comparação é promíscua, delirante. Vergonha para o Brasil e um cuspe no rosto dos judeus brasileiros. Ainda não é tarde para aprender História e pedir desculpas. Até então - continuará sendo persona non grata em Israel!"
O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Paulo Pimenta (PT), respondeu às declarações: ele disse nesta terça-feira (20) que o chanceler de Israel, Israel Katz, espalha informação falsa sobre declarações de Lula.
Segundo Pimenta, Lula não "fez críticas ao povo judeu, tampouco negou o holocausto" na declaração que causou a crise entre os dois países.
O governo Lula não pedirá desculpas, segundo a colunista Daniela Lima, e voltará a reprovar publicamente a ação de Israel em Gaza.
A medida ocorre um dia depois de o próprio Katz ter declarado Lula "persona non grata", em pronunciamento em hebraico ao lado do embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer.
Mais de 24 mil pessoas já morreram no conflito entre Israel e Hamas, que começou no início de outubro de 2023, após o grupo terrorista ter invadido o território israelense.
O termo "persona non grata" (alguém que não é bem-vindo, em tradução livre) é um instrumento jurídico utilizado nas relações internacionais para indicar que um representante oficial estrangeiro não é mais bem-vindo. O termo foi descrito no artigo 9 da Convenção de Viena sobre relações diplomáticas.
No final da semana, Lula classificou como "genocídio" e "chacina" a resposta de Israel na Faixa de Gaza aos ataques terroristas promovidos pelo Hamas no início de outubro. Ele comparou a ação israelense ao extermínio de milhões de judeus pelos nazistas chefiados por Adolf Hitler no século passado.
"O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando o Hitler resolveu matar os judeus", disse Lula.
O petista fez a afirmação após ser questionado sobre a decisão de alguns países de suspender repasses financeiros à Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês) — entenda mais abaixo o que está acontecendo com a agência.
Lula deu as declarações durante entrevista em Adis Abeba, na Etiópia, onde participou nos últimos dias da 37ª Cúpula da União Africana e de reuniões bilaterais com chefes de Estado do continente.
Embaixador convocado
No domingo (18), Netanyahu disse que decidiu convocar o embaixador do Brasil para uma reunião sobre a fala de Lula.
Em uma rede social, o premiê declarou que a afirmação banaliza o Holocausto – genocídio promovido na Segunda Guerra Mundial contra cerca de seis milhões de judeus.
"Comparar Israel ao Holocausto nazista e a Hitler é ultrapassar uma linha vermelha. Israel luta por sua defesa e garantia do seu futuro até a vitória completa", declarou Netanyahu.
O que está acontecendo com a UNRWA?
Alguns funcionários da Agência das Nações Unidas de assistência aos palestinos (UNRWA) foram acusados no final de janeiro de estarem envolvidos no ataque do Hamas, em Israel, em 7 de outubro de 2023. O porta-voz do governo israelense, Eylon Levy, afirmou que o lugar é uma fachada para o grupo terrorista.
"A agência foi comprometida de três maneiras: contratando terroristas em massa, deixando suas instalações serem usadas para atividades militares do Hamas e se apoiando no Hamas para a distribuição da ajuda na Faixa de Gaza", afirmou.
À época, a agência afirmou que os funcionários foram demitidos enquanto uma investigação é feita. Segundo o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, um relatório preliminar da equipe de auditoria será apresentando até o final de março, com entrega de um relatório definitivo até o final de abril, que será público.
Após a acusação, dez dos principais países financiadores da agência suspenderam temporariamente suas doações à entidade: Alemanha, EUA, Austrália, Japão, Itália, Holanda, Canadá, Finlândia, Suíça e Reino Unido.
Um porta-voz da agência também disse que se o financiamento não for retomado, a UNRWA conseguirá prestar seus serviços em toda a região, incluindo Gaza, até fevereiro.
A UNRWA, criada em 1949 após a primeira guerra árabe-israelense, oferece serviços que incluem educação, cuidados primários de saúde e ajuda humanitária aos palestinos em Gaza, Cisjordânia, Jordânia, Síria e Líbano.
g1
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