Embora tenha assumido o governo com um discurso de união e diálogo com outros poderes e setores da sociedade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não escapou de embates e polêmicas no primeiro ano de gestão.
Logo na segunda semana de governo, em 8 de janeiro, a invasão aos prédios dos Três Poderes por golpistas em Brasília jogou no colo do presidente uma crise, que envolveu integrantes do governo, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a segurança pública do Distrito Federal.
Ao longo do ano, o presidente também travou um embate com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pela redução da Taxa Selic, a taxa básica de juros da economia.
Internamente, Lula desagradou parte da militância de esquerda ao abrir espaço no governo para o Centrão, demitindo mulheres do primeiro escalão, como as ex-ministras Ana Moser e Daniela Carneiro, e a ex-presidente da Caixa, Rita Serrano.
Lula também foi criticado pela militância nas indicações para o Supremo Tribunal Federal (STF) e na Procuradoria-Geral da República (PGR), por não escolher negros ou mulheres para os cargos.
No campo internacional, tentou reposicionar o Brasil na geopolítica e gerou controversas com declarações sobre guerras.
Veja a seguir as cinco principais polêmicas do primeiro ano do governo Lula (clique no link para seguir ao conteúdo):
Ataques ao Banco Central
Lula criticou diversas vezes ao longo do ano o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, por considerar exagerada a taxa básica de juros, que estava em 13,75% no começo do governo e, atualmente, está em 11,75%.
Lula afirmou que Campos Neto não tinha compromisso com o país. O executivo, que não pode ser demitido pelo Planalto porque tem mandato à frente do BC, foi indicado para o cargo por Bolsonaro e apoiou o ex-presidente na eleição.
"[Campos Neto] tem compromisso com o outro governo, que o indicou. Isso é importante ficar claro. E tem compromisso com aqueles que gostam de juro alto, porque não há outra explicação", disse o petista, que teve uma audiência com Campos Neto em setembro.
Lula defende uma taxa mais baixa a fim de baratear o crédito e tentar acelerar investimentos, enquanto o BC calibra a Selic para conter a inflação em um quadro de incertezas no equilíbrio das contas públicas.
Demissões de mulheres do governo
Lula demitiu duas ministras e a presidente da Caixa Econômica Federal, remanejou um ministro, e criou um ministério na tentativa de atrair mais votos de partidos do Centrão no Congresso Nacional. O grupo de partidos esteve ao lado de Bolsonaro na eleição de 2022.
Liderado atualmente pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o Centrão é conhecido por apoiar os governos em troca de cargos e fatias do orçamento público. Para atender o grupo, Lula fez as seguintes mudanças:
As negociações com União Brasil, Republicanos e PP se arrastaram por meses e resultaram, também, na perda de espaço de mulheres em cargos de alto de escalão. A base de Lula espera que ele aumente a representatividade de mulheres.
O presidente começou o governo com 37 ministérios, sendo 11 comandados por mulheres. Ao final do primeiro ano de mandato, são 38 pastas e nove ministras.
8 de janeiro e militares
Lula passou o ano, em especial o primeiro semestre, tentando se equilibrar com as Forças Armadas em razão do envolvimento de militares com os atos golpistas de 8 de janeiro.
Logo após a invasão das sedes dos Três Poderes, o presidente disse que “todos” os militares com participação comprovada nos atos extremistas, independente da patente, seriam punidos.
O clima de desconfiança com militares, que não desfizeram acampamentos bolsonaritstas em frente aos quarteis, pesou para Lula demitir, ainda em janeiro, o comandante do Exército, general Júlio César Arruada. O general Tomás Miguel Ribeiro Paiva assumiu o cargo.
Os desdobramentos do 8 de janeiro também levaram Lula a demitir pela primeira vez, neste terceiro mandato, um ministro. Em abril, o general Gonçalves Dias foi substituído no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) pelo também general Marcos Antonio Amaro.
Dias pediu demissão após a divulgação de gravações do circuito interno de segurança do Planalto nas quais o então ministro aparece dentro do edifício durante a invasão de 8 de janeiro.
Indicações à PGR e ao STF
Lula foi pressionado a indicar nomes que aumentassem a diversidade das instituições com a indicação de mulheres e de negros para o STF e para a PGR.
Diversas organizações e lideranças cobraram o presidente por meio de declarações, manifestos e até em placas espalhadas pela Índia durante a participação de Lula na cúpula do G20, o que irritou o petista.
Os apelos não adiantaram e Lula indicou seu advogado pessoal, Cristiano Zanin, para a vaga da Suprema Corte aberta com a aposentadoria do ministro Ricardo Lewandowski; e o ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), para a vaga da ministra Rosa Weber.
Para a PGR, Lula ignorou a lista tríplice feita pela associação dos procuradores e indicou o subprocurador-geral Paulo Gonet para comandar o Ministério Público Federal.
Lula também teve de lidar com a rejeição pelo Senado de uma indicação para a Defensoria Pública da União (DPU). O nome de Igor Roque não alcançou os votos necessários para assumir a chefia do órgão. Nos bastidores, a derrota foi lida como um "recado" de senadores que estariam descontentes com a articulação do governo no Congresso.
Declarações controversas sobre guerra
Um dos focos do presidente Lula neste primeiro ano foi a implementação de uma política externa diferente da adotada por Jair Bolsonaro.
Lula buscou colocar o Brasil como mediador de conflitos e ator importante no combate às mudanças climáticas.
No conflito entre Rússia e Ucrânia, fez falas polêmicas como a de que Zelensky, presidente ucraniano, também é responsável pela guerra.
Lula também falou bastante sobre o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas. O petista tem criticado a resposta do governo israelense ao ataque que o Hamas fez a Israel em 7 de outubro.
O presidente brasileiro afirmou que o ato do Hamas foi de terrorismo, mas que Israel também comete atos terroristas ao atacar civis na Faixa de Gaza.
Lula também buscou a retomada do alinhamento com governos de esquerda, como o de Nicolás Maduro, na Venezuela, e de Alberto Fernández, ex-presidente da Argentina.
Pela Argentina, Lula pediu ao Fundo Monetário Internacional (FMI) que melhorasse as condições de pagamento da dívida argentina.
Ele também recebeu Maduro em Brasília, tirando o chefe do governo venezuelano de um isolamento político na América do Sul. Lula afirmou ainda que a Venezuela é alvo de "narrativas", em referência às afirmações de que o país é uma ditadura.
g1
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