O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o governo vai "continuar brigando pela aprovação da segunda lista", para repatriar mais brasileiros que estão na Faixa de Gaza, região onde o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas é mais intenso. A declaração foi dada durante a recepção ao grupo de 32 brasileiros e familiares que desembarcaram na Base Aérea de Brasília na noite desta segunda-feira (13).
Lula dirigiu a afirmação ao ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, após ouvir o relato do repatriado Hasan Rabee, que contou que a mãe e a irmã não conseguiram ter o nome aprovado na segunda lista.
"A gente vai tentar fazer todo o esforço que tiver ao alcance da diplomacia brasileira, para a gente tentar trazer todos os brasileiros que lá estão e que querem vir ao Brasil. Ainda tem gente para trazer da Cisjordânia, tem mais gente na Faixa de Gaza. Enquanto tiver lista e possibilidade de a gente tirar uma só pessoa da Faixa de Gaza, a gente vai estar à disposição para mandar buscar as pessoas", disse Lula.
Críticas
Ao receber os repatriados, o presidente voltou a fazer declarações em que equipara ações de defesa de Israel aos ataques do grupo terrorista Hamas. Horas antes, falas semelhantes em evento no Palácio do Planalto foram classificadas por autoridades como equivocadas e "fruto de desconhecimento" sobre a "selvageria" do Hamas, que causou mortes de civis e crianças durante atentados. "Se não for desconhecimento, é um antissemitismo forte e arraigado", disse o rabino Rav Sany sobre o posicionamento de Lula no Planalto.
"Aos 78 anos de idade, eu já vi muita brutalidade, já vi muita violência, eu já vi muita irracionalidade, mas eu nunca vi uma violência tão bruta, tão desumana, contra inocentes, porque, se o Hamas cometeu um ato de terrorismo e fez o que fez, o Estado de Israel também está cometendo", afirmou o presidente, na Base Aérea de Brasília.
Mais cedo, lideranças políticas e religiosas rebateram a afirmação do presidente no Planalto de que a reação do governo israelense é tão grave quanto as ações do grupo terrorista Hamas.
Representantes da comunidade israelita no Brasil reagiram à declaração de Lula. O líder do Grupo Parlamentar de Amizade Brasil-Israel, deputado Gilberto Abramo (Republicanos-MG), definiu o comentário como "equivocado". Ele disse ao R7 que Lula sabe e conhece a situação de conflito na Faixa de Gaza, "mas não admite a realidade dos fatos".
O parlamentar também afirmou que os movimentos de Israel e do Hamas são "completamente distintos". "O Hamas, quando atacou Israel, em nenhum momento avisou civis ou quem quer que seja do ataque, que foi premeditado para atacar civis. Israel, por outro lado, pediu para que os civis palestinos saíssem da Faixa de Gaza. O que percebemos é que o próprio grupo Hamas é que faz as pessoas de escudo humano", completou.
"Querer igualar um Estado soberano a um grupo narcoterrorista é típico de um presidente esquerdista e que não respeita a soberania das nações", disse o deputado federal Sóstenes Calvalcante (PL-RJ), quarto secretário do Grupo Parlamentar Brasil-Israel.
O rabino Rav Sany afirmou que Lula demonstra "total desconhecimento" sobre a situação da guerra. "Se não for desconhecimento, é um antissemitismo forte e arraigado", declarou.
"Em primeiro lugar, nada, absolutamente nada, se compara à selvageria, à barbárie cometida pelos terroristas do Hamas, com assassinatos, abusos, sequestros, decapitações, estupros e até um bebê assado no forno até a morte", disse.
Ele destacou que o Hamas usa a própria população como escudo humano, "construindo suas bases de tiro e armamento em áreas densamente povoadas e que, ao serem acertadas por alguma bomba, causem forte comoção, como hospitais, escolas, mesquitas, entre outros". "Em vez de investir em educação e infraestrutura, o Hamas confisca o dinheiro para a vida nababesca de seus líderes e para fomentar a guerra", acrescentou.
"Israel tem o Exército mais ético do mundo, avisando a população civil com antecedência reiteradas vezes, por diversos meios, para sair do local — fato que é proibido pelo Hamas. Se alguém sai, leva tiro do próprio Hamas, que também assassina seu próprio povo", afirmou.
Representantes de entidades
O presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), Claudio Lottenberg, classificou de "equivocadas e perigosas" as falas de Lula. "Além de equivocadas e injustas, falas como essa do presidente da República são também perigosas. Estimulam entre seus muitos seguidores uma visão distorcida e radicalizada do conflito, no momento em que os próprios órgãos de segurança do governo brasileiro atuam com competência para prender rede terrorista que planejava atentados contra judeus no Brasil", disse Lottenberg. "A comunidade judaica brasileira espera equilíbrio das nossas autoridades e uma atuação serena que não importe ao Brasil o terrível conflito no Oriente Médio", acrescentou.
O presidente-executivo do grupo StandWithUs Brasil disse que as falas de Lula são graves.
“O presidente brasileiro equiparou Israel, um Estado democrático, com um grupo terrorista com intentos abertamente genocidas que massacrou cerca de 1.200 pessoas — entre elas, três brasileiros — e sequestrou 240 pessoas”, disse a entidade. “Israel não mata ‘inocentes sem nenhum critério’”, acrescentou. O grupo afirma ainda que todas as vidas perdidas nesse conflito são de igual valor, palestinas e israelenses. “E é lastimável que tantos civis inocentes estejam morrendo. Justamente por causa disso, é necessário compreender corretamente as causas dessa tragédia e os verdadeiros responsáveis por ela”, concluiu.
Senadores
"Ao contrário de criticar Israel, o presidente Lula deveria agradecer ao país, cujos serviços de segurança alertaram a Polícia Federal brasileira sobre a possibilidade de atentados do Hezbollah em nosso país. Três suspeitos já foram presos. Gente inocente morreria aqui também", diz o senador Carlos Viana (Podemos-MG), presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Israel.
"Ao meu ver, o presidente Lula está muito mal orientado pela diplomacia brasileira, e o Brasil vem ficando muito pequeno diante do mundo civilizado", acrescenta o parlamentar.
"As declarações do presidente Lula equiparando as ações de autodefesa de Israel aos atos terroristas do Hamas têm que ser repudiadas. Cada vez mais nós assistimos a diplomacia presidencial se afastando do que pensam as democracias ocidentais", afirmou o senador Sergio Moro (União Brasil-PR).
"Israel tem feito o que é possível para evitar o dano a inocentes, a morte de inocentes. Uma coisa não pode ser equiparada à outra. Essas declarações do presidente Lula prejudicam a imagem do Brasil perante a comunidade internacional", acrescentou o ex-juiz.
A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) disse (veja no vídeo abaixo) que se trata de "mais uma fala desastrosa do atual presidente da República". "É um movimento que coloca o Brasil como um anão diplomático. Israel é um Estado legítimo — Hamas é um grupo terrorista", defendeu. "Lamentamos ter um presidente que parece ter um lado nessa história", finalizou.
Instituto Brasil-Israel
"É infeliz fazer essa comparação. Não ajuda nos esforços diplomáticos. Hamas é um grupo extremista que prega a aniquilação de Israel. O Brasil precisa assumir isso", afirma Morris Kachani, diretor do Instituto Brasil-Israel.
"Faltou o Lula falar dos brasileiros que morreram. Para se chegar a um acordo de paz, ele passa pela libertação de reféns. Acho que são dois pontos que ficaram faltando na fala do Lula", completa.
"É uma pena que o governo do Brasil, frente à tragédia da guerra, perca o equilíbrio e a ponderação, reduzindo a possibilidade de contribuir de maneira decisiva e propositiva com negociações entre as várias partes no conflito", diz o Instituto Brasil-Israel, em nota.
"A acusação reforça os extremistas de ambos os lados e enfraquece as partes que lutam por um futuro de coexistência para israelenses e palestinos", completa o texto.
Embaixada
O R7 entrou em contato com a Embaixada de Israel no Brasil e aguarda retorno.
Críticas à guerra
Em outubro, Lula condenou o ataque terrorista do grupo Hamas a um festival de música eletrônica em Israel, no dia 7, e também reprovou a reação israelense ao episódio. "Fico lembrando que 1.500 crianças já morreram na Faixa de Gaza. Crianças que não pediram para o Hamas fazer o ato de loucura e terrorismo que fez atacando Israel, mas que também não pediram que Israel reagisse de forma insana e matasse eles, exatamente aqueles que não têm nada a ver com a guerra, só querem viver e brincar, aqueles que não tiveram o direito de ser crianças", declarou Lula à época.
R7
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