O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem atuado diretamente para emplacar aliados no comando de estatais cobiçadas por União Brasil, MDB e PSD. Houve interferência de Lula, até agora, na escolha dos presidentes dos Correios, Trensurb (Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A.), Banco do Nordeste e Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), órgãos públicos vinculados a ministérios chefiados por esses três partidos.
Segundo interlocutores do Palácio do Planalto, a queda de braço entre a Presidência da República e os ministros tem atrasado as nomeações dos presidentes e diretores de algumas dessas estatais. O desfecho, no entanto, tem sido favorável aos nomes escolhidos por Lula.
Foi o que aconteceu nos Correios. Em uma decisão pessoal, Lula escolheu o advogado Fabiano Silva, ligado ao PT e coordenador do Grupo Prerrogativas. O nome dele já foi aprovado pelo Conselho de Administração dos Correios. A nomeação, no entanto, demorou para acontecer porque o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, do União Brasil, queria emplacar um nome dele.
Segundo assessores do Planalto, Juscelino só cedeu porque se viu enfraquecido internamente após a publicação de reportagens no jornal “O Estado de S. Paulo” com indícios de que ele usou verbas do orçamento secreto em benefício próprio ou de familiares.
O governo vê os Correios como um órgão estratégico. Fabiano Silva terá como tarefa reestruturar o órgão e impedir qualquer tentativa de se levar adiante a privatização da estatal.
Trensurb
Na Trensurb, estatal vinculada ao Ministério das Cidades, Lula decidiu que o novo diretor-presidente será o ex-deputado federal Fernando Marroni (PT-RS). A nomeação ainda não foi oficializada. A Trensurb, que administra uma linha de trens na região metropolitana de Porto Alegre, é um dos espaços mais cobiçados na estrutura federal no Rio Grande do Sul.
O ministro das Cidades, Jader Filho, articulou para colocar à frente da estatal um nome de seu partido, o MDB, porém Lula optou por Marroni. Está em curso a negociação para que o MDB indique uma diretoria da empresa. Ex-prefeito de Pelotas, ex-deputado federal e ex-deputado estadual, Marroni ficou como suplente na última eleição para Assembleia Legislativa gaúcha.
Banco do Nordeste
Para a presidência do Banco do Nordeste, mais uma decisão pessoal de Lula. Ele escolheu o ex-governador de Pernambuco Paulo Câmara, que deixou o PSB no mês passado. Câmara tinha resistências dentro do PT e do próprio PSB, mas prevaleceu a decisão do presidente. O martelo foi batido nesta semana, em uma reunião de Lula com Câmara e o ministro da Casa Civil, Rui Costa.
A escolha frustrou os planos do União Brasil, que, nas negociações com o governo para integrar a base, tinha reivindicado a presidência do Banco do Nordeste, além de outras estatais.
Para que o ex-governador de Pernambuco assuma o comando do Banco do Nordeste, é necessário que a Câmara dos Deputados aprove o projeto de lei que modifica a Lei das Estatais, reduzindo o prazo de quarentena para que políticos assumam órgãos públicos.
Conab
No caso da Conab, Lula escolheu o ex-deputado estadual Edegar Pretto, do PT gaúcho. Pretto era um dos mais cotados para assumir o Ministério do Desenvolvimento Agrário e tinha o apoio da ex-presidente Dilma Rousseff. A pasta, no entanto, foi entregue a Paulo Teixeira, do PT paulista.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, do PSD, defendeu que a Conab permanecesse vinculada a sua pasta. Dessa forma, ele poderia indicar um aliado para a presidência do órgão. Pressionado por movimentos sociais, o Planalto decidiu colocar a Conab no guarda-chuva do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
A nomeação de Pretto não foi oficializada porque depende da aprovação do Conselho de Administração da Conab, que ainda é formado por integrantes nomeados pelo governo de Jair Bolsonaro.
Diretorias
A saída que está sendo costurada pelo Planalto para resolver o impasse em torno do comando das estatais é distribuir as diretorias destes órgãos entre PT e esses partidos. As definições dos nomes, no entanto, estão atreladas ao comportamento das siglas nas próximas votações no Congresso.
O discurso do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, responsável pela articulação política, é que o governo não tem pressa para fazer as nomeações, mas o próprio presidente Lula, na reunião com líderes da base na quarta-feira, afirmou que é preciso definir logo a composição dos órgãos de governo.
Para aliados do presidente, a participação direta de Lula na escolha dos comandantes de órgãos públicos é mais um exemplo de que Lula tornou-se mais centralizador na comparação com os dois primeiros mandatos.
g1
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