O presidente Jair Bolsonaro participou nesta sexta-feira (6) de uma reunião de chefes de estados de países sul-americanos com territórios cobertos pela floresta amazônica. O encontro foi realizado na Colômbia. A participação de Bolsonaro foi por meio de uma videoconferência a partir do Palácio do Planalto.
Sete dos oito países cobertos pela Amazônia discutiram na reunião ações de preservação da floresta. A Venezuela não participou. Segundo o governo colombiano, os países deverão firmar o “Pacto de Leticia pela Amazônia”, com uma série de medidas a serem executadas pelos países da região e pela comunidade geral.
Durante os discursos, os presidentes reforçaram a necessidade de trabalhos conjuntos para preservar a floresta. Ao abordar a ideia de cooperação, chefe de estado da Bolívia, Evo Morales, criticou a ausência do presidente venezuelano Nicolás Maduro - parte dos países, o Brasil entre eles, não reconhece o governo de Maduro.
"Como é possível por diferenças ideológicas estarmos distantes? Por cima das diferenças, estão os direitos da mãe terra", disse.
Soberania
Anfitrião, o presidente colombiano Iván Duque defendeu ações coordenadas entre os países para combater o desmatamento e incêndios na floresta, respeitando a soberania de cada estado.
Em seu discurso de cerca de dez minutos, Bolsonaro voltou a criticar as demarcações de terras indígenas no Brasil e alertou para o que considera uma ameaça, por parte de países desenvolvidos como a França, à soberania dos estados nacionais da região amazônica.
“Nós temos que dizer que a Amazônia é nossa. [...] Só dessa forma, com a nossa união, sem nenhum momento ceder a qualquer tentação externa de deixar sob administração de terceiro a nossa área, é que nós podemos fazer com que essas riquezas revertam em forma de benefícios, em forma de bem-estar para os nossos povos”, afirmou.
Para o presidente, o pacto que será firmado na Colômbia precisa deixar claro que a soberania dos países cobertos pela floresta é “inegociável” e que as nações explorarão as riquezas da Amazônia.
“Nós temos que, entre nós aqui, nesse Pacto de Leticia tomarmos uma posição firme de defesa da nossa soberania e firme, também, para que cada país possa, dentro da sua terra, desenvolver a melhor política para a região amazônica. E não deixar que essa política seja tratada por outros países", afirmou.
O presidente criticou o que chamou de “indústria das demarcações de terras indígenas”, que, segundo ele, foi incentivada por governos de esquerda. A política ambiental passada teria deixado ameaçada a soberania do Brasil na Amazônia.
Bolsonaro afirmou que as críticas feitas pelo presidente francês Emmanuel Macron mostraram que há um “plano”, que segue no “tabuleiro do jogo”, para transformar a floresta em “patrimônio mundial”. Segundo ele, a situação despertou o “patriotismo” dos brasileiros em relação à floresta.
Bolsonaro ainda enfatizou a necessidade de explorar as riquezas da floresta, como recursos minerais, que despertam o interesse de outros países. O presidente disse que os estados amazônicos não podem continuar a ser exportador de commodities.
Participaram da reunião representantes da Guiana e do Suriname e os presidentes de quatro países:
Recomendações médicas
Bolsonaro chegou a anunciar a ida à reunião, porém, por recomendações médicas, não viajou e enviou o chanceler Ernesto Araújo ao encontro, que ocorreu em Leticia, cidade na região amazônica do país, na tríplice fronteira com Brasil e Peru.
O presidente passará pela quarta cirurgia desde que sofreu uma facada no abdômen, há um ano, durante a campanha eleitoral de 2018. O novo procedimento corrigirá uma hérnia (saliência de tecido) surgida no local de intervenções anteriores.
O encontro foi idealizado em meio à crise ambiental e política provocada pelo aumento das queimadas na floresta. Ao anunciar que iria à reunião, na semana passada, Bolsonaro disse que a intenção era discutir uma “política única” de preservação e desenvolvimento da região.
Repercussão internacional
A onda de queimadas levou à discussão sobre a preservação da floresta para a reunião do G7 (grupo que reúne sete das principais economias do mundo), realizada em agosto na França.
Anfitrião, o presidente francês Emmanuel Macron foi uma das vozes mais críticas à política do governo brasileiro para o meio ambiente. Ele chegou a dizer que Bolsonaro mentiu sobre sua preocupação com a preservação da floresta e deixou em aberto a discussão sobre um eventual status internacional da Amazônia.
A declaração gerou reação dos países que compartilham a floresta, com falas em defesa da soberania dos estados da região.
Bolsonaro recusou ajuda financeira oferecida por Macron em nome do G7 para combater as queimadas e sugeriu que o presidente francês tem interesses econômicos na Amazônia.
A França também possui território amazônico, na Guiana Francesa, departamento ultramarino do país europeu.
Para tentar conter o avanço das queimadas e do desmatamento na Amazônia, há duas semanas Bolsonaro autorizou o uso das Forças Armadas na região, em apoio aos governos estaduais.
G1
Portal Santo André em Foco
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