O novo aumento dos preços dos combustíveis nas refinarias, anunciado ontem pela Petrobras, provocou uma onda de críticas e ameaças de represálias à estatal. As ofensivas partiram do presidente Jair Bolsonaro, da Câmara e até do Supremo Tribunal Federal (STF). As reações aos reajustes fizeram com que as ações da empresa encerrassem em forte baixa no pregão da Bolsa de Valores (leia reportagem na página 7). A elevação de 5,2% na gasolina e de 14,2% no diesel começa a valer hoje.
Bolsonaro classificou o aumento como uma "traição ao povo brasileiro" e defendeu a abertura de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar o presidente da petroleira, José Mauro Coelho, bem como os diretores executivos e conselheiros.
"Conversei com Arthur Lira (presidente da Câmara). A ideia nossa é propor uma CPI. Queremos saber se tem algo errado nessa conduta, porque é inconcebível se conceder um reajuste com o combustível lá em cima e com os lucros exorbitantes que a Petrobras está dando", disparou, em entrevista à Rádio 96 FM, de Natal. "Ninguém consegue entender, algo estúpido. Ela lucra seis vezes mais que a média das petrolíferas de todo o mundo. As petroleiras fora do Brasil reduziram sua margem de lucro."
No último dia 9, o governo indicou Caio Paes de Andrade para o lugar de José Mauro Coelho e listou outros nomes para o conselho da empresa, mas todos ainda têm de passar pelo crivo da assembleia de acionistas da estatal. "Com a troca, nós podemos botar gente mais competente lá dentro para poder entender o fim social da empresa e não conceder esse reajuste, que destrói a economia brasileira, leva inflação para a população, leva perda de poder aquisitivo para toda a população que já vive uma situação bastante crítica", ressaltou Bolsonaro, que tem na escalada da inflação um sério risco a seus planos de reeleição.
O presidente da Câmara também se juntou ao chefe do Executivo nos ataques à Petrobras. Lira defendeu que José Mauro Coelho renuncie imediatamente. "Não por vontade pessoal minha, mas porque não representa o acionista majoritário da empresa — o Brasil — e, pior, trabalha sistematicamente contra o povo brasileiro na pior crise do país", postou Lira no Twitter. "Ele só representa a si mesmo e o que faz deixará um legado de destruição para a empresa, para o país e para o povo. Saia, pois sua gestão é um ato de terrorismo corporativo."
Indicado por Bolsonaro para o STF, o ministro André Mendonça também cobrou explicações da Petrobras sobre os critérios para definir os preços dos combustíveis (leia reportagem na página ao lado).
Já o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), cobrou o Executivo federal. "Se a situação dos preços dos combustíveis está saindo do controle, o governo deve aceitar dividir os enormes lucros da Petrobras com a população, por meio de uma conta de estabilização de preços em momentos de crise", defendeu. "O Senado aprovou inúmeras matérias legislativas que estavam ao seu alcance e agora espera medidas rápidas e efetivas por parte da Petrobras e de sua controladora, a União."
Insuficiente
Apesar da saraivada de críticas contra a Petrobras, especialistas enfatizaram não haver apenas um responsável pela escalada de preços. Luiz Ciardi, da N2 — Educação e Orientação Financeira, ponderou que a solução para a escalada de reajustes não é simples. "Para que o preço do combustível chegue a patamares viáveis para o consumidor doméstico, não é suficiente mexer só no preço de paridade internacional (PPI). A Petrobras sozinha não consegue fazer com que esse preço baixe. Precisaria de uma reforma fiscal e administrativa", afirmou.
Professor de finanças do Instituto Brasileiro de Mercados e Capitais (Ibmec), William Baghdassarian comentou que o governo lida mal com a alta dos preços dos combustíveis ao provocar insegurança nos investidores com os ataques à Petrobras. Ele também disse que o aumento dos derivados do petróleo gera problemas inflacionário pelo mundo. "A forma como a gente está lidando com o problema é muito ruim. Se você tem um certo país, como o Brasil, em que as autoridades, na primeira crise, começam a questionar se as regras vão ser cumpridas, começam a questionar lucro excessivo, os investidores passam a questionar esse investimento e acabam injetando dinheiro em outro país", alertou.
CB
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