Prevista para setembro, a terceira viagem de Jair Bolsonaro aos Estados Unidos desde que assumiu a Presidência deverá ter uma agenda tripla: além da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, o presidente pretende ir às celebrações dos 60 anos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e comemorar a esperada chegada de seu filho Eduardo ao comando da embaixada em Washington. A ideia será aproveitar uma viagem quase sempre protocolar para turbinar ganhos políticos, como a possível indicação de um brasileiro para a presidência do banco e intensificar as relações com o governo de Donald Trump.
A viagem está sendo tratada com cautela, principalmente porque o nome de Eduardo precisa ainda ser aprovado pelo Senado. Oficialmente, sua mudança para a capital americana só será tratada após passar por esses ritos oficiais.
Nem o Itamaraty nem o Palácio do Planalto responderam ao pedido de entrevista do GLOBO. Mas muitos acreditam que o presidente poderia terminar sua viagem aos EUA acompanhando os primeiros dias de Eduardo Bolsonaro na embaixada. Pessoas próximas ao presidente não descartam uma cerimônia para a “posse” de Eduardo. Não há, tradicionalmente, nenhuma celebração para o início de trabalho de um embaixador.
— Mas Trump e Bolsonaro quebram protocolos e, reservadamente, há uma ideia de criar algo para marcar, ao menos diante da comunidade brasileira, a chegada do filho do presidente à capital americana — disse uma fonte diplomática que estima esse eventual ato para entre os dias 27 e 28 de setembro.
Se na primeira viagem de Bolsonaro aos EUA, em março, Eduardo já obteve um protagonismo maior que o do chanceler Ernesto Araújo — o deputado federal foi o único a acompanhar a conversa do pai com Trump no Salão Oval —, sua eventual chegada à embaixada é vista como uma forma de aproximar ainda mais os dois países, inclusive acelerando um possível acordo comercial.
Os dois países negociam a criação de um “mecanismo de Diálogo de Parceria Estratégica, a ser presidido pelo ministro das Relações Exteriores e pelo secretário de Estado”, segundo relatório interno do Itamaraty obtido pelo GLOBO.
Em agosto, por exemplo, os EUA classificaram o Brasil como “aliado preferencial extra-Otan”. Porém, a proximidade ideológica de Eduardo com Trump poderá criar dificuldades nas negociações com o Congresso — a oposição tem maioria entre os deputados — e com entidades multilaterais que defendem pautas consideradas pelo Planalto mais à esquerda, como direitos humanos e meio ambiente.
Na ONU, Bolsonaro deverá ser alvo de críticas por suas ações ambientais. O presidente ameaçou, no passado, abandonar o Acordo de Paris contra as mudanças climáticas, mas se manteve no tratado.
Do lado de fora da ONU são esperados, nas ruas de Nova York, os protestos que o presidente não ouviu em maio, quando desistiu de receber um prêmio na cidade e viajou a Dallas. Organizações ligadas à esquerda já começam a preparar manifestações.
Após o evento na ONU, Bolsonaro deve seguir para Washington, onde está prevista a sua participação no 60º aniversário do BID. A entidade multilateral tem um evento marcado para os dias 26 e 27 de setembro, na capital americana com um raro encontro presidencial.
Nesta oportunidade, além de se aproximar do governo americano, Bolsonaro poderá lançar um candidato ao BID. A última vez que o Brasil concorreu à presidência do banco foi há 15 anos.
O Globo
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