Novembro 23, 2024

Promotor apontado por hacker como 1º alvo de invasão diz que SMS de junho contradiz depoimento de suspeito

O promotor de Araraquara (SP) Marcelo Zanin Bombardi – apontado como a primeira pessoa a ter o celular invadido no caso do vazamento de mensagens de procuradores da Lava Jato e outras autoridades – diz que recebeu a mensagem indicando o hackeamento de seu aparelho apenas em 1º de junho, e não em março, como citado em depoimento à Polícia Federal pelo hacker Walter Delgatti Neto, o Vermelho.

Em entrevista ao G1, Bombardi afirmou que o SMS com o código do Telegram usado pelo hacker para invadir aparelhos chegou ao seu celular semanas depois da data apontada por Delgatti como primeiro contato com o jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil.

"Ele [Delgatti] disse que eu fui o primeiro a ser invadido e [que], a partir da invasão do meu smartphone, da minha conta de Telegram, teria acessado as demais contas, chegando a todas as autoridades. Mas eu não tenho nenhum SMS de março no meu telefone", disse o promotor.

"Não sei se ele mente ou não mente. Eu acho que a perícia da PF vai apontar se ele fala a verdade ou não. Mas, pelo que eu tenho no celular, aparentemente, ele falta com a verdade ao falar que eu fui o primeiro a ser hackeado."

Em abril de 2017, Delgatti, que é de Araraquara e morava em Ribeirão Preto, foi preso com comprimidos de um medicamento com venda controlada, além de uma carteirinha de estudante de medicina da Universidade de São Paulo (USP) com a foto dele e dados pessoais de outra pessoa.

Bombardi ofereceu a denúncia contra ele, que foi condenado a dois anos de prisão por tráfico de falsificação.

No depoimento à PF após a prisão pelo vazamento de mensagens, o hacker declarou que Bombardi cometeu atos ilícitos naquele processo contra ele por tráfico de drogas e falsificação. Contou ainda que obteve conversas em que o promotor cometia irregularidades no exercício de sua função. Bombardi nega.

Delgatti e outras três pessoas estão presos no Distrito Federal por suspeita de invasão de celulares de autoridades. O inquérito para investigação do caso foi aberto após a divulgação de conversas atribuídas ao ministro da Justiça, Sérgio Moro, e a procuradores da Lava Jato no período em que Moro era juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba.

Segundo o Intercept, as conversas mostram que Moro orientou a atuação dos procuradores. O ministro e a força-tarefa negam.

Promotor contraria depoimento de hacker
O promotor Marcelo Bombardi diverge das informações repassadas pelo hacker quanto às datas do processo de invasão e posterior vazamento das mensagens.

"Ele [Delgatti] disse que procurou a Manoela D’Ávila, já de posse de todo esse conteúdo, no Dia das Mães, 12 de maio. A invasão do meu celular deveria ter sido antes, anterior a isso. E não é. Eu tenho um SMS do Telegram datado de 1º de junho, à 0h18, com o código do Telegram, que é, para mim, um indicativo de quando eu teria sido, segundo ele alega, invadido", afirma o promotor.

"O que eu me pergunto é: se ele já tivesse tido acesso ao meu Telegram em março, como ele alega, por que teria acessado novamente em junho? Não faz sentido."

À PF, Delgatti contou que ex-vereadora, ex-deputada federal e ex-candidata a vice-presidente Manuela D'Ávila (PCdoB-RS) foi a intermediária que o colocou em contato com o jornalista Glenn Greenwald, do Intercept. Manuela declarou em nota que, nesta data, realmente repassou o contato de Greenwald a um hacker que havia invadido o celular dela.

Ainda no depoimento, Delgatti, disse que minutos após entrar em contato com Manuela recebeu uma mensagem do jornalista, dizendo ter interesse no material, que seria de interesse público.

Link da mensagem não foi acessado
O promotor Marcelo Bombardi disse que desconsiderou a mensagem por achar que era golpe.

"Eu vi, nesse SMS, que existia um link. Eu já não usava o Telegram e simplesmente ignorei, porque achei que era um golpe, uma forma de intrujar vírus no aparelho, e não imaginei que pudesse ser a reinstalação do Telegram por alguém."

Bombardi ainda não foi comunicado oficialmente sobre a invasão e não teve acesso ao suposto material que Delgatti teria hackeado de seu celular. Ele mantém a atuação na promotoria de Araraquara e acredita que seu nome foi usado pelo hacker para montar uma versão dos fatos para a PF.

"Talvez, com a situação do processo crime que existiu – esse é um fato: eu o processei e ele foi condenado –, ele pode ter achado uma suposta razão para me hackear, para dizer que eu fui o primeiro. Usando [o crime] para me envolver, denegrir a minha imagem, me usar como história cobertura para encobrir uma situação. Mas tudo isso são ilações, a gente não sabe nada até agora", afirmou.

G1
Portal Santo André em Foco

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