O presidente Jair Bolsonaro já admite cancelar a ata diplomática assinada pelo Brasil e o Paraguai em maio, que deflagrou uma grave crise política no país vizinho e levou a uma ameaça de impeachment do presidente Mario Abdo Benítez. No acordo, o governo paraguaio concordou em pagar mais pela energia da hidrelétrica binacional de Itaipu.
O porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, disse na noite desta quarta-feira que o presidente tem sido atualizado sobre o assunto pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e pelo diretor-geral de Itaipu no Brasil, o general Joaquim Silva e Luna. Segundo Rêgo Barros, o Brasil está aberto à discussão dos termos do acordo. O porta-voz usou a expressão "denúncia", que em linguagem diplomática significa "rescisão".
— O presidente Bolsonaro me comentou há pouco a sua intenção de estar aberto a essa discussão, inclusive uma eventual denúncia do acordo, de se colocar em posição de dialogar profundamente para que ambos os países, mais especialmente no sentido do Brasil do que no do Paraguai, nós tenhamos a possibilidade de ajudar aquele país amigo sem, contudo, prejudicarmos a nossa sociedade, porque é tão importante essa energia, particularmente na região Sudeste — declarou Rêgo Barros.
Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro já manifestara apoio a Abdo Benítez , ao ser questionado sobre a possibilidade de impeachment do aliado sul-americano por causa da revelação dos termos da ata diplomática. No Paraguai, ficou a impressão de que o documento negociado em Brasília, já rejeitado pelo Senado do país, foi um acordo secreto prejudicial aos interesses nacionais.
— Você sabe como é que funciona, lá (no Paraguai ) é muito rápido o impeachment. Ontem, eu conversei com o Silva e Luna, o presidente da parte brasileira de Itaipu. Estamos resolvendo esse assunto. Pode deixar que com toda a certeza o Marito vai ser reconhecido pelo bom trabalho que está fazendo no Paraguai — declarou à tarde Bolsonaro a jornalistas, no Palácio do Planalto, referindo-se ao colega do país vizinho pelo apelido.
A oposição paraguaia anunciou nesta quarta-feira à noite que apresentará um pedido de impeachment contra Abdo Benítez e o vice-presidente Hugo Velázquez, por conta do escândalo em torno do acordo energético com o Brasil. Efraín Alegre, presidente do Partido Liberal, a principal sigla de oposição no país, disse que os parlamentares vão preparar a documentação necessária e que serão necessárias novas eleições.
Questionado sobre a vinda de uma comitiva paraguaia para reuniões no Itamaraty nesta sexta-feira, o presidente brasileiro afirmou que não está previsto que o grupo converse com ele, mas destacou que o relacionamento do governo brasileiro com o Paraguai "é excepcional, excelente".
— E estamos dispostos a fazer justiça nesta questão de Itaipu Binacional, que lá é importantíssima para o Paraguai e muito importante para nós também — disse Bolsonaro.
Ele foi indagado então se o Brasil deve ceder nesse caso e disse que "não é questão de ceder".
— Qual o acordo lá atrás, não é meio a meio? A princípio é por aí. Algumas pequenas derivações, a gente acerta aí — comentou.
O acerto, considerado por autoridades e parlamentares paraguaios prejudicial ao país, foi divulgado ao público na semana passada, embora tenha sido firmado em maio. Ele decorre de pressões brasileiras para que o Paraguai passe a pagar mais pela energia que usa de Itaipu, responsável por 90% do abastecimento do país vizinho. Um dos pontos mais questionados pelos paraguaios se refere à redução do uso da chamada “energia excedente” de Itaipu. Desde 2007, o país tem preferência para receber essa energia, mais barata.
Para evitar o impeachment, Abdo Benítez, que não tem maioria no Congresso, demitiu as quatro autoridades que assinaram a ata de maio, incluindo o chanceler, Luis Castiglioni, e o embaixador no Brasil, Hugo Saguier.
Antonio Rivas , que era vice-ministro de Relações Exteriores, assumiu nesta quarta-feira no lugar de Castiglioni e estará à frente da comitiva que se reunirá com autoridades em Brasília na sexta. Segundo Rivas, o Paraguai pediu o encontro na tentativa de resolver o impasse. O novo chanceler quer deixar sem efeito a ata de maio e encarregar técnicos da distribuidora paraguaia Ande e da Eletrobras de um novo acordo.
O Globo
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