"Hoje tenho 10% de mim dentro do Supremo", afirmou o presidente Jair Bolsonaro, referindo-se à vaga ocupada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Kassio Nunes Marques, que substituiu o decano Celso de Mello em novembro do ano passado, após indicação de Bolsonaro.
"Não é que eu mande no voto do Kassio, mas o que eu podia apresentar naquele momento para o Senado era o Kassio", acrescentou o chefe do Executivo. "Ele pediu vista de muita coisa ligada ao conservadorismo. Se ele apenas votasse contra, ia perder. A gente não quer perder, quer ganhar o jogo ou empatar", disse Bolsonaro. Quando um ministro pede vista de algum processo, o julgamento é suspenso.
As declarações foram feitas por Bolsonaro na manhã desta terça-feira (9), em uma participação no Jornal da Cidade, do Rio Grande do Sul. Na entrevista, o presidente reiterou que mantém a indicação do ex-ministro da Justiça André Mendonça para a cadeira deixada por Marco Aurélio Mello na Suprema Corte. "Indiquei um, que é um compromisso meu, evangélico, e estamos indo para quatro meses que não entra na pauta para sabatina", lembrou o presidente. Bolsonaro chegou a declarar que queria um ministro "terrivelmente evangélico" no STF.
A sabatina de Mendonça está parada na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, presidida pelo senador Davi Alcolumbre (DEM-AP). Para Bolsonaro, não há perspectiva de votação do nome de Mendonça ainda em 2021, mas a indicação continua. "Não tenho como fugir do nome do André. Entre os evangélicos, é uma pessoa que tem uma bagagem cultural jurídica muito grande. Se o Senado entender que não é ele, que rejeite."
Bolsonaro ressaltou ainda que o próximo presidente poderá indicar dois novos nomes ao STF, com as aposentadorias de Ricardo Lewandowski e Rosa Weber. Ele cogitou a possibilidade de ser reeleito e fazer as indicações. "Vou ter quatro lá dentro. Você muda a linha do STF. Muitos ministros são de esquerda, a gente sabe a linha", ressaltou.
Ainda sobre o Supremo, o presidente voltou a criticar decisões recentes da Corte. Na sexta-feira passada (5), em decisão liminar, a ministra Rosa Weber suspendeu o pagamento das emendas de relator ao Orçamento da União. O plenário vai deliberar sobre a medida. "Cada vez mais o Supremo Tribunal Federal interfere em tudo. A última interferência é essa história do orçamento secreto, publicado no Diário Oficial da União", questionou o presidente.
Pandemia
Ainda em tom de crítica, Bolsonaro afirmou que vai consultar o presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Mauro Luiz de Britto Ribeiro, e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, sobre o uso de máscara por crianças a partir de 3 anos.
"O pessoal sabe que não sou muito afeito à máscara", destacou. Ele aproveitou ainda para criticar a CPI da Pandemia, do Senado, cujo relatório final pede seu indiciamento em nove crimes na condução da crise sanitária. "Não errei em nada sobre a pandemia. Tivemos uma CPI que teria que falar um palavrão para defini-la, não apurou nada."
Economia
"Não deixamos a economia morrer", sustentou Bolsonaro sobre o desempenho da economia brasileira durante a pandemia. Ele disse que uma iluminação de Deus o fez adotar o Auxílio Emergencial, que será substituído por um novo benefício social. Para tanto, o governo tenta aprovar no Congresso Nacional a chamada PEC dos Precatórios, que posterga o pagamento de dívidas da União com pessoas físicas e empresas. "Não fura o teto se aprovarmos os precatórios." A emenda será votada em segundo turno nesta terça.
Política
O presidente disse que está preocupado com as críticas feitas por sua própria base de apoiadores. Ele ressaltou que desgastam. "O pessoal critica: 'Ah, está conversando com o Centrão'. Querem que converse com o PCdoB, com o Psol? Tem 513 deputados e 81 senadores, essa é minha lagoa, que tenho que convencê-los a votar nas minhas propostas", justificou.
"Eu fui do PP por 20 anos, fui do Centrão. Mas essa é a política brasileira, as condições do estádio, do campo de futebol, que você vai ter que entrar no campo e jogar", afirmou ele. Sem partido desde que deixou o PSL, Bolsonaro disse que deve se filiar ao PL ainda nesta semana.
Eleições
Ele traçou um paralelo da conjuntura política brasileira com o caso argentino. Para ele, o ex-presidente Mauricio Macri não se reelegeu por falta de apoio. "O que aconteceu com sua militância? O pessoal da direita: pancada nele." Desta vez, Bolsonaro não pôs em xeque a legitimidade das urnas eletrônicas nem do processo eleitoral.
"O querido ministro Barroso [do STF] convidou algumas instituições para participar de todas as etapas das eleições. Podem confiar no sistema eleitoral. As Forças Armadas participarão de todos os processos das eleições no ano que vem", garantiu.
R7
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