O presidente Jair Bolsonaro disse “amar o Nordeste” e lamentou a ausência do governador da Bahia, Rui Costa (PT), em evento de inauguração do aeroporto Glauber Rocha, em Vitória da Conquista (BA), na manhã desta terça-feira, 23. “Lamento pelo governador da Bahia não estar aqui, afinal ele estaria ao lado do povo”, afirmou o presidente.
Em um dos momentos de sua fala, o presidente disse ter “repulsa por quem não é brasileiro”e criticou “xiitas ambientais”, que, segundo ele, prejudicam o desenvolvimento do turismo no Brasil e a imagem do País no exterior. Bolsonaro falava sobre a intenção de revogar a proteção ambiental da Estação Ecológica de Tamoios, no litoral do Rio de Janeiro.
“Eu tenho um sonho: Quero transformar a baía de Angra (dos Reis, no Rio de Janeiro) numa Cancún (balnerário mexicano no Caribe). Cancún fatura U$ 12 bilhões anuais. E a baía de Angra fatura o que? Quase zero, por causa dos xiitas ambientais, esses que fazem uma campanha enorme contra o Brasil lá fora. Eu não sei por que essa gente tem tanto amor por ONGs estrangeiras. O Estado está aparelhado. Não temos preconceito contra ninguém, mas temos uma profunda repulsa por quem não é brasileiro”.
‘Somos todos paraíbas’
A visita de Bolsonaro ao Nordeste serviu para que o presidente pregasse união em sua segunda viagem oficial à região, depois de entrar em atrito com os governadores Estados, de partidos da oposição. “Somos todos paraíbas, somos todos baianos”, discursou ao público de apoiadores bolsonaristas que o aguardavam sob chuva, do lado de fora do aeroporto, numa espécie de comício da inauguração da obra. “É um prazer estar aqui em Vitória, na Bahia, é uma honra hoje eu também ser nordestino cabra da peste.”
“Eu amo o Nordeste. A minha filha tem em suas veias sangue de cabra da peste. Cabra da peste de Crateús, no nosso Estado mais lá para cima, o nosso Ceará”, disse Bolsonaro. “Não estou em Vitória da Conquista, não estou na Bahia, e nem no Nordeste. Estou no Brasil. Não há divisão entre nós. Sexo, raça, cor, religião ou região... Somos um só povo, uma só raça, um só ideial e um só objetivo: colocar esse grande País no lugar que ele merece.”
Regendo a plateia, Bolsonaro ordenou e causou frisson entre os convidados: “Quem é nordestino levanta o braço. Quem concorda com o presidente Bolsonaro levanta o braço. Estamos juntos ou não estamos?”.
“Nosso governo não tem muito recursos. O Brasil está com dificuldades, mas o pouco que temos muito bem empregaremos", disse Bolsonaro, vestindo no palanque um chapéu de vaqueiro. “O que não somos é aqueles que querem puxar para trás o nosso Brasil. Lamento não estar presente aqui o governador da Bahia (Rui Costa, do PT) até porque não podemos concordar com quem quer mudar a cor da nossa bandeira. A Bahia e o Nordeste vão crescer porque estão sendo pela primeira vez tratados como iguais. O Brasil é uma só união.”
Aceno a ACM Neto
Jair Bolsonaro cedeu espaço privilegiado ao prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), maior adversário político do PT na região, durante a inauguração do aeroporto no interior baiano. Bolsonaro sinalizou que deseja, um dia, que ACM Neto ocupe a Presidência da República.
Neto dividiu o palco com a comitiva presidencial, ao lado de Bolsonaro, e discursou sobre a inauguração do aeroporto para convidados e para o povo, em dois palanques separados. Foi anunciado à população, pelo presidente, como um “amigo”. Disse que o povo baiano é generoso e que a obra não tem dono político. Ele elogiou a postura do presidente.
Atritos com Rui Costa
Pouco antes de embarcar para viagem o presidente Jair Bolsonaro reclamou no Twitter de uma decisão do governador Rui Costa (PT), que não colocou a Polícia Militar do Estado para fazer a segurança do evento. “Lamentável a decisão do governador da Bahia que não autorizou a presença da Polícia Militar para a nossa segurança. Pior ainda, passou a responsabilidade de tal negativa ao seu Comandante Geral”, escreveu Bolsonaro.
Com a negativa do governo do Estado em disponibilizar o efetivo da PM, a segurança no acesso ao Aeroporto foi realizada pela Polícia do Exército, Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal, em efetivo bastante reduzido se comparado a outros eventos presidenciais.
Em entrevista à Rádio Metrópole, Rui Costa falou sobre sua decisão, como mostrou o site BR18. “Quem é impopular e tem medo de ir para às ruas, fica em seu gabinete. Se o evento é exclusivamente federal, as forças federais cuidem da segurança do presidente. Eu não posso colocar PM para entrar em conflito com as pessoas que querem ver o aeroporto”, disse o governador.
A inauguração do aeroporto acontece em meio à tensão entre Bolsonaro e governadores da região Nordeste. Na sexta-feira passada, em áudio captado pela TV Brasil, Bolsonaro faz referência à região e diz que o governo federal não devia dar “nada” para o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB).
Em um vídeo nas redes sociais publicado na segunda, ele alegou que o evento se transformou em uma “convenção político-partidária”. O governador do PT afirmou que durante a organização da cerimônia, na semana passada, convidou o presidente e sua comitiva como um “aceno de boas maneiras”. Na versão de Costa, o governo federal estabeleceu que, de 300 pessoas convidadas para o evento, o Estado teria direito a indicar 70. Depois, decidiu que seriam 600 convidados – e que o petista teria direito de chamar 100.
Estadão
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