O presidente Jair Bolsonaro afirmou na manhã desta terça-feira que, da sua parte, a indicação de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), para assumir a embaixada do Brasil nos Estados Unidos está definida. Ele lembrou, no entanto, que ainda há "um caminho todo grande pela frente", que inclui a necessidade de autorização da diplomacia americana e a eventual aprovação do nome de Eduardo pelo Senado.
Em entrevista a jornalistas na saída do Palácio do Alvorada, onde comandou reunião ministerial, Bolsonaro voltou exaltar a qualificação do filho para ocupar o posto e rechaçou o que classificou como argumento "chulo" contra a indicação, em referência ao fato de Eduardo ter dito que fritou hambúrguer nos Estados Unidos. Questionado sobre o que faltava para oficializar o convite, ele falou sobre a passagem do deputado pelo país.
— Vocês falarem o que ele de verdade faz, além de fritar hambúrguer... Sabe por que ele foi fritar hambúrguer lá? Porque eu como deputado [federal], não tinha como bancá-lo seis meses sem ele trabalhar. Foi aprender o inglês — declarou, acrescentando que nunca provou a iguaria preparada pelo filho e pedindo, aos risos, que os repórteres questionassem a mulher dele, com quem ele se casou recentemente. — Agora, tentar desqualificá-lo por fritar hambúrguer... Eu frito hambúrguer acho que melhor do que ele. Talvez por isso eu seja presidente.
E reforçou:
— Da minha parte, está definido. Conversei com ele [Eduardo] novamente acho que anteontem. Há interesse, sim, a gente fica preocupado. É uma tremenda responsabilidade. E acho que, se tiver argumentos contrários, que não seja isso, chulo, que se fala por aí, eu estou pronto — disse o presidente.
Citando o "um termo técnico aí", que depois confirmou se tratar do "agrément" — consentimento de um Estado para que um diplomata estrangeiro seja nomeado para função em seu território —, Bolsonaro falou que os Estados Unidos ainda precisariam se manifestar para verem "se têm alguma coisa contra". E comentou que é "natural fazer isso aí".
Conversa com Senado
Além disso, o presidente destacou a necessidade de dialogar com o Parlamento, mencionando uma "conversa rápida" sobre o assunto com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e lembrou ter sido seu colega em duas ou três legislaturas na Câmara e "até de pelada, de futebol", o que levou a uma amizade entre os dois.
Questionado se sentiu que o clima na Casa estava bom para apreciar a indicação, ele disse não poder falar porque Alcolumbre ainda não teria conversado com parlamentares "nesse sentido", apenas "com um ou outro perdido".
— Agora, é lógico que a gente corre o risco. Tudo que você faz, você corre o risco de dar certo ou errado. Nós estamos tentando acertar.
Ao ser indagado se não teme um desgaste com o Senado, ele minimizou e respondeu que, "se a decisão for essa, o Senado vai sabatiná-lo e vai decidir.
— E ponto final. Se não for aprovado, ele fica na Câmara — disse o presidente. — Se for botar na ponta do lápis, vai perder muito mais indo para lá do que aqui. Mas é uma maneira que nós temos de, através de doando um filho meu para essa missão, nos aproximarmos dos Estados Unidos e toda a população vai ganhar — acrescentou.
Bolsonaro disse ainda que não teve nem o que conversar sobre o assunto com o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), por ter um relacionamento bastante próximo com ele, porque o senador "já sabia o que é". Em seguida, citou o filho deste, Miguel Coelho, prefeito de Petrolina (PE), e o chamou de "garoto excepcional e competente, que tem tudo para ter um futuro brilhante na política".
Intenção é aproximar Brasil e EUA
De acordo com o presidente, Eduardo é uma pessoa que "está qualificada" e já proferiu várias palestras fora do Brasil, "em outra língua, outro idioma", além de ser presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara.
— Não é porque é meu filho. Graças a Deus o meu filho foi bem formado. Eu, como capitão do Exército, tive como dar-lhe uma boa educação. E a prova está aí — declarou. — Alguns falam que é pra se dar bem. Se eu fosse um mau caráter, estaria indicando ele, como um mau caráter que não sou, para um ministério desses que vocês sabem que tem bilhões, dezenas de bilhões no orçamento. E não é essa a intenção.
Bolsonaro disse que o objetivo da indicação é aproximar cada vez mais o Brasil do país "que tem a economia mais próspera do mundo, para que nós possamos, juntos, andar de mãos dadas".
— Ou alguém quer que eu indique meu filho para ser embaixador na Venezuela? Ou em Cuba? Ou na Coreia do Norte? Tá certo? — provocou.
Repetindo um argumento que tem usado desde que divulgou a possibilidade de indicar o filho para a embaixada, ele pediu que os jornalistas imaginassem um telefonema hipotético do filho do presidente Mauricio Macri caso ele fosse embaixador da Argentina no Brasil.
— Qual o tratamento que eu dispensaria ao filho do Macri, ou ao filho do Marito (Mario Abdo Benítez, do Paraguai), ou o filho do (chileno Sebastián) Piñera, ou o filho do (colombiano Iván) Duque? Logicamente que "vem agora que a gente conversa". É diferente o tratamento quando você dá um filho para representar você em outra nação — disse.
O presidente também voltou a dizer que a indicação não configuraria nepotismo, referindo-se à súmula do Supremo Tribunal Federal (STF) que orienta o tema.
— E o pensamento meu é o Brasil. Eu não estou reclamando, não, porque eu sabia que ia encontrar isso pela frente. Mas, a minha vida aqui, eu perdi totalmente a liberdade — afirmou Bolsonaro.
O Globo
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