A CPI da Covid terá, nesta semana, os seus primeiros depoimentos, que já servem como importante teste para o governo do presidente Jair Bolsonaro. Em dois dias, todos seus ex-ministros da Saúde serão ouvidos. Um dos depoimentos mais esperados é, na quarta-feira, o do general Eduardo Pazuello, que ficou dez meses à frente da pasta e foi o principal responsável pelas políticas de combate à pandemia.
Parlamentares de oposição querem questionar incisivamente Pazuello sobre o que consideram omissões do governo na aquisição de vacinas, falta de apoio a medidas de isolamento social, compra de remédios sem eficácia comprovada para a Covid-19 e falhas na logística. Já o Palácio do Planalto tem preparado o ex-ministro para blindar o presidente Jair Bolsonaro durante o depoimento.
Na terça-feira, prestam depoimento os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Os dois deixaram o governo por desentendimentos com o presidente em relação ao enfrentamento da pandemia e medidas para conter o avanço da doença. A expectativa dos integrantes da CPI é que eles relatem falhas de Bolsonaro na condução do tema.
Conforme revelou O GLOBO, Pazuello recebeu treinamento do Palácio durante o final de semana para depor na sessão. Ele participou de reunião reservada no sábado dentro da estratégia do governo para defender suas próprias ações à frente do Ministério da Saúde, além de blindar o presidente. A operação está sendo coordenada pelo ministro da Casa Civil, Eduardo Ramos.
Um dos objetivos da CPI é investigar as omissões do governo federal no combate à pandemia, especialmente no agravamento da crise sanitária no Amazonas com a ausência de oxigênio para os pacientes internados.
Também deve ser ouvido nesta semana o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, e o atual ministro da Saúde Marcelo Queiroga, ambos na quinta-feira.
— Essa semana será decisiva porque vamos ter depoimentos dos principais atores sobre os bastidores da pandemia — afirmou o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL).
Renan disse que, na terça-feira, a comissão vai requisitar à Anvisa gravação e vídeos de todas as decisões da diretoria sobre processos envolvendo a compra de vacinas. Por lei, as reuniões dos órgãos reguladores precisam ser gravadas.
O relator antecipou também que vai apoiar requerimento a ser apresentado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) para a convocação do novo ministro da Justiça, Anderson Torres. Em entrevista à revista "Veja", Torres defendeu o comportamento do presidente Bolsonaro, como por exemplo, a recusa do uso de máscara. Ele afirmou ainda que a CPI deve ter uma atuação mais ampla e investigar desvio de recursos nos Estados e prefeituras.
— Esta não é função da CPI. A apuração de desvio de recursos deve ser feita pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal — disse o relator.
O Globo
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