O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou, nesta quarta-feira, o governo Jair Bolsonaro pela má condução do combate à pandemia do novo coronavírus e pela situação econômica do país. Em discurso na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, seu berço político, o petista afirmou que não tem mágoas pela condenação e pelos 580 dias em que permaneceu preso na superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Lula disse que foi vítima da "maior mentira jurídica" da história do país mas, depois da decisão tomada pelo ministro Edison Fachin, do Supremo Tribunal Federal, disse que a Lava-Jato “desapareceu” de sua vida. Ao final do discurso, o ex-presidente adotou um tom concliatório e pediu: "não tenham medo de mim".
— Se tem um brasileiro que tem razão de ter muitas e profundas mágoas, sou eu. Mas não tenho. Sinceramente, eu não tenho porque o sofrimento que o povo brasileiro está passando é infinitamente maior que qualquer crime que cometeram contra mim. É maior que cada dor que eu sentia quando estava preso na Polícia Federal — afirmou Lula.
O ex-presidente realiza um pronunciamento e concederá uma entrevista coletiva nesta quarta-feira no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo. O evento estava previsto para ocorrer na terça, mas foi adiado após o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes colocar em votação na 2ª Turma o julgamento da suspeição do ex-juiz Sergio Moro. O ministro Kassio Nunes Marques, entretanto, pediu vistas do processo, interrompendo o julgamento.
O presidente fez críticas à Operação Lava-Jato e afirmou que foi vítima da maior mentira jurídica em 500 anos de história do Brasil.
— Se tem um cidadão que tem razão de estar magoado com as chibatadas, sou eu. Não estou. Pensam que, depois de dar chibatada, é só jogar um pouco de sal e pimenta que a pessoa vai se curar ao longo do tempo, não importa as cicatrizes que ficam. Eu sei de que eu fui vítima da maior mentira jurídica contada em 500 anos de história — afirmou.
Durante o pronunciamento, o ex-presidente criticou o presidente Jair Bolsonaro, sobretudo no campo da segurança pública e do combate ao coronavírus. O ex-presidente Lula afirmou que o Brasil, atualmente, não tem um governo.
— Este país está totalmente desordenado e desagregado porque não tem governo. Este país não cuida da economia, do emprego, do salário, da saúde, do meio ambiente, da educação, dos jovens, da meninada da periferia. Ou seja, do que que eles cuidam? — disse.
'Menos armas, mais emprego'
Lula destacou que, por ter 75 anos, tomará a primeira dose da vacina na próxima semana. O petista fez um contraponto e pediu para que a população não siga nenhuma "decisão imbecil" do presidente e do Ministro da Saúde.
— Não me importa de que país, não me importa se é duas ou uma e quero fazer propaganda pro povo brasileiro. Não siga nenhuma decisão imbecil do Presidente da República ou do Ministro da Saúde. Tome vacina. Tome vacina porque a vacina é uma das coisas que pode livrar você do Covid. Mas, mesmo tomando vacina, não ache que pode tomar vacina e já tirar camisa, ir pro boteco pedir uma cerveja gelada e ficar conversando .Não. Precisa continuar fazendo o isolamento e continuar usando máscara e álcool-gel. Pelo amor de Deus — afirmou.
O petista fez, inclusive, um aceno às Forças Armadas e as forças de segurança, afirmando que não é a população que deveria ser armada, como defende Bolsonaro, mas os policiais.
— Quem está precisando de armas é a nossa polícia, que sai para a rua para combater a violência com um revólver (calibre) 38 velho, todo enferrujado. Não são os fazendeiros que precisam de armas para matar sem-terra ou pequenos proprietários. Não são milicianos que precisam de armas para fazer terrorismo na periferia desse país, para matar meninos e meninas, sobretudo meninos e meninas negras — afirmou.
No discurso, o ex-presidente manteve duras críticas aos procuradores da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba e, principalmente, ao ministro Sergio Moro. Durante o discurso, o ex-presidente destacou que vai continuar lutando pela suspeição de Sergio Moro.
— Nunca teve envolvimento meu com a Petrobras, e todo o sofrimento que eu passei acabou. Estou muito tranquilo. O processo vai continuar. Já fui absolvido em todos os processos fora da Curitiba. Mas nós vamos continuar brigando para o Moro ser considerado suspeito, porque ele não tem o direito de se transformar no maior mentiroso da história do brasil e ser considerado herói por aqueles que queriam me culpar.
Lula subiu ao palco acompanhado do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, Guilherme Boulos, e da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e de sua namorada, Rosângela da Silva, a Janja. Após o pronunciamento, o petista responderá perguntas de jornalistas.
Em conversas nos últimos dias, mesmo antes da decisão de Fachin, Lula vinha enfatizando que antecipar o clima eleitoral neste momento só favorece o presidente Jair Bolsonaro, que patina na condução da pandemia do novo coronavírus. Por isso, qualquer menção a uma provável candidatura do petista em 2022 está descartada neste momento.
No Sindicato dos Metalúrgicos, foi colocado um painel com as frases "vacina para todos e auxílio emergencial já" e "saúde, emprego e justiça para o Brasil". O ex-presidente planeja nas palavras de um aliado, se colocar “como porta-voz” para denunciar os problemas que o país tem enfrentado tanto na área da Saúde como na da economia.
Entre os agradecimentos, o presidente fez um longo agradecimento a figuras internacionais e destacou o atual presidente da Argentina, Alberto Fernández, que teria ligado a ele após a decisão do ministro Fachin. No próximo dia 26, o presidente Jair Bolsonaro irá à Argentina.
Além dele, Lula também agradeceu ao ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, ao senador dos Estados Unidos, Bernie Sanders, e ao Papa Francisco, pelo apoio dado durante o período em que o petista estava preso.
Lula se disse "agradecido" ao ministro Luiz Edson Fachin por ter "cumprido uma coisa que a gente reivindicava desde 2016" e elogiou as declarações feitas por Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski na leitura de seus votos no julgamento da última terça-feira.
O Globo
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