Em um momento em que o governo brasileiro baixou o tom com os chineses para obter vacinas contra a Covid-19, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, chamou os Estados Unidos de "superpotência da liberdade" e sinalizou que gostaria que o Brasil participasse da "aliança de democracias" defendida pelo presidente americano Joe Biden. A proposta de Biden, feita ainda na campanha, tem por objetivo se opor ao poder da China e da Rússia no mundo.
— Precisamos que os EUA se mantenham como a superpotência da liberdade, que eles continuem exercendo esse papel — afirmou Araújo, nesta sexta-feira, durante um debate no Fórum Econômico Mundial.
— Estamos a favor de uma aliança de democracias. É um projeto que corresponde a nossos princípios brasileiros — declarou, ao ser perguntado sobre como via a proposta.
Araújo disse que um grande desafio é o que chamou de "tecnototalitarismo" — controle totalitário das sociedades por meio das novas tecnologias. numa aparente referência às grandes empresas de tecnologia, as chamadas big techs. Recentemente, o ministro criticou as redes sociais por causa da exclusão do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, que foi acusado de "incitação à violência" por ter insuflado a invasão do Capitólio, em 6 de janeiro, para impedir a homologação da vitória de Joe Biden. Antecessor de Biden, Trump sempre foi admirado pelo presidente Jair Bolsonaro, além do próprio chanceler.
— Não se trata de EUA contra China, mas há diferentes modelos de sociedade que estão emergindo, que podem ser bons para a democracia, como podem levar a sociedades de controle total, incluindo as grandes empresas tecnológicas.
Araújo defendeu, sem entrar em detalhes, que os países democráticos sejam recompensados na reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC). Segundo o chanceler brasileiro, economias de mercado como o Brasil acabam tendo prejuízos com subsídios praticados por outras nações no intercâmbio internacional de bens.
— Hoje em dia, no mundo, se alguém abre fronteira, como o Brasil, é castigado. Quem subsidia não. Necessitamos de um sistema que recompense a democracia — disse.
Indagado sobre como ele via a China nos dias atuais, o chanceler disse que a China se tornou ator na globalização no início do século. Porém, ao contrário do que se esperava, não se ocidentalizou.
— A ideia era que a China se tornaria mais ocidental, mas isso não aconteceu, claro. Mas, em certo ponto, o que começou a acontecer é que o Ocidente começou a se tornar mais e mais como a China — disse.
Na última quinta-feira, Ernesto Araújo enviou uma carta ao novo secretário de Estado americano, Antony Blinken, ressaltando a agenda robusta entre Brasil e EUA. O presidente Jair Bolsonaro fez algo semelhante dias antes, em correspondência endereçada a Joe Biden.
O Globo
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