Na ausência de interlocução do governo brasileiro com a China, o ex-presidente Michel Temer (MDB) acabou acionado para tentar atuar nas negociações diplomáticas para a entrega dos insumos para a fabricação do Ingrediente Ativo Farmacêutico das vacinas da AstraZeneca e da Sinovac/Butantan, a Coronavac.
Temer telefonou na semana passada para Li Jinzhang, ex-embaixador chinês no Brasil, que agora integra o governo de Xi Jinping na China. Hoje, pela manhã, o atual embaixador chinês, Yang Wanming, entrou em contato o ex-presidente, e os dois conversaram sobre o assunto. Wanming disse que estava ciente da demanda de Temer ao governo chinês e que o insumo seria liberado em breve, informação que já havia sido repassada ao governo paulista.
O atual chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, perdeu a interlocução com o embaixador da China, depois das declarações do deputado federal Eduardo Bolsonaro, que chamou o coronavírus de "vírus chinês" - Araújo saiu em defesa do filho do presidente. Com acesso limitado aos chineses, o governo acabou escalando na semana passada os ministros das Comunicações, Fabio Faria, da Agricultura, Tereza Cristina, e da Saúde, Eduardo Pazuello, para falar com Wanming - o embaixador também teve uma reunião com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o que levou o governo a soltar uma nota dizendo que quem tomava conta das relações externas com outros países era o Executivo federal.
Ainda assim, o presidente Bolsonaro confirmou hoje que 5,4 mil litros de insumo para a produção da Coronavac serão liberados da China para a produção da vacina no Butantan e parabenizou a diplomacia brasileira pelo feito. A informação, antecipada pelo blog na semana passada, levou o Palácio dos Bandeirantes a emitir uma nota afirmando que não houve atuação do governo federal na articulação.
Questionado pelo blog se respondia a um pedido do governo federal ao entrar nas negociações, Temer disse que atendia à demanda do governo, de empresários e do país de modo geral. "Até para me ajudar, porque daqui a pouco eu estou na fila", brincou.
O ex-presidente tem atuado como "embaixador plenipotenciário" do governo brasileiro. O cargo é uma designação especial para diplomatas enviados a missões internacionais com poderes para representar o Brasil e até mesmo assinar acordos em nome do país sem fazer parte oficial dos quadros do Itamaraty. Em agosto do ano passado, Temer chefiou a missão humanitária brasileira que ofereceu ajuda aos libaneses após a explosão no porto de Beirute, que deixou quase 200 mortos e mais de 4 mil feridos.
O ex-presidente tem uma boa relação também com o setor privado do país asiático. Foi contratado pela Huawei, gigante de tecnologia chinesa, para elaborar parecer jurídico sobre a participação da companhia no mercado de telefonia 5G no Brasil.
G1
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