Enquanto pacientes infectados com a Covid-19 morrem por falta de oxigênio em Manaus, o presidente Jair Bolsonaro minimizou nesta sexta-feira as mortes decorrentes do novo coronavírus e declarou que "não tem por que ter esse trauma toda apenas preocupado com a Covid". O argumento de Bolsonaro foi que medidas de isolamento social com o lockdown causam trauma "muito mais morte" que a pandemia, por diversas razões. Segundo dados do consórcio de veículos de imprensa, o Brasil tem 208.291 óbitos pela Covid-19, além de 8.394.253 casos da doença.
— Esse lockdown, esse isolamento causa muito mais morte, por depressão, por suicídio, por falta de emprego lá na frente do que a própria pandemia em si. Eu não tenho aqui os dados, o número de mortes por tipo de doença. A Covid tá mais lá embaixo. Então não tem por que ter esse trauma toda apenas preocupado com a Covid — declarou o presidente, em entrevista de aproximadamente uma hora ao programa "Os Pingos nos Is", da Jovem Pan, no início da noite.
Bolsonaro ainda questionou quantas cirurgias não são feitas no Brasil e estão sendo represadas por conta da pandemia e quantas pessoas estão morrendo de câncer, "os mais variados possíveis, porque não vão para o tratamento". As declarações foram feitas depois de ele defender o retorno às aulas presenciais, citando o número baixo de mortes entre jovens pela Covid-19.
Sobre a situação de Manaus, cujo sistema de saúde entrou colapso nos últimos dias, o presidente foi questionado se a situação na capital do Amazonas estaria melhor se medidas de isolamento tivessem sido evitadas e desconversou, oferecendo uma explicação alternativa:
— Semana passada a temperatura subiu em Manaus, e os problemas começaram a aparecer — afirmou.
O presidente disse ainda que enviou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, na última segunda-feira, para intervir na cidade e ele imediatamente começou tratamento precoce. Segundo ele, o governo está "fazendo o possível", mas foi surpreendido por encontrar o sistema de saúde local "numa situação bastante complicada".
Bolsonaro insistiu ainda na reclamação contra o resultado de julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), do ano passado, que o teria "proibido" de atuar no combate à Covid. Ele declarou que a corte resolveu lhe "castrar".
Na verdade, a decisão do STF, tomada em 15 de abril de 2020, apenas garantiu a autonomia de estados e prefeituras para tomar decisões relacionadas à pandemia. Na mesma decisão, o Supremo deixou claro que o governo federal também pode tomar medidas para conter a pandemia, mas em casos de abrangência nacional, o que inclui coordenar ações entre estados e prefeituras.
O Globo
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