O presidente Jair Bolsonaro se defendeu das críticas após o anúncio de que o Renda Cidadã, programa social que deve substituir o Bolsa Família, seria financiado com parte dos recursos para pagamento de precatórios e verbas do Fundeb. E afirmou que, quando o auxílio emergencial acabar, todos vão sofrer, até o 'pessoal do mercado'.
Bolsonaro escreveu em uma rede social na manhã desta terça-feira que sua popularidade importuna adversários e grande parte da imprensa, que, segundo ele, rotula qualquer ação como eleitoreira. E afirmou a apoiadores que, quando o auxílio acabar, todos vão sofrer, até o 'pessoal do mercado'.
Mais tarde, ele voltou ao tema ao conversar com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada:
- Tudo que eu faço, dizem que estou pensando em 2022. Se nada faço, sou omisso. Se faço, estou pensando em 2022. Agora, não queiram estar no meu lugar, vou fazer o possível para buscar soluções. Vou para uma máxima militar, eu quero a solução racional, preciso de ajuda no tocante a isso. Agora, se nao aparecer nada, vou tomar aquela decisão que o militar toma. Pior do que uma decisão mal tomada é uma indecisão. Eu não vou ficar indeciso. O tempo está correndo - disse.
Bolsonaro mencionou ainda na mesma conversa o "pessoal do mercado", dizendo que "se o Brasil for mal, todo mundo vai mal".
— Aquele ditado "estamos no mesmo barco" é o mais claro que existe no momento. O Brasil é um só. Se começar a dar problema, todos sofrem. O pessoal do mercado não vai ter também renda, vocês vivem disso, de aplicação — disse Bolsonaro ao parar para conversar com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada.
No entanto, o plano de usar dinheiro de precatórios — dívidas judiciais da União já reconhecidas — e recursos da educação para bancar o novo programa social não foi bem recebido por especialistas em contas públicas nem pelo mercado.
O dólar teve a maior alta desde 20 de maio ontem e a Bolsa caiu 2,41%.
No mercado financeiro, até o termo "pedalada" foi usado, em alusão às manobras fiscais do governo petista.
Isso porque o uso do Fundeb para o Renda Cidadã não estouraria o teto de gastos _ regra que limita o aumento de despesas à inflação _ e os recursos para precatórios já estão previstos no Orçamento.
A ideia do Renda Cidadã é incluir parte dos trabalhadores que deixarão de receber o auxílio emergencial após dezembro.
Mais cedo, em rede social, Bolsonaro disse que, "para demagogos e comunistas, o auxílio não pode ser para sempre".
Em entrevista ao GLOBO, o relator da proposta, senador Marcio Btitar (MDB-AC), porém, a defendeu e afirmou que adiar o pagamento de débitos da União para usar os recursos para o programa não é calote.
'Incendiar o Brasil'
Bolsonaro também disse nesta terça-feira que as projeções para janeiro do ano que vem é que haja 20 milhões de brasileiros "quase sem renda", devido aos impactos da pandemia do novo coronavírus.
Segundo ele, essa fatia da população "não vai ter o que comer".
— Milhões de empregos e rendas foram destruídos com a política do "fica em casa, a economia a gente vê depois". Chegou a fatura: a previsão é para que janeiro do ano que vem nós termos 20 milhões de pessoas entre pessoas informais, os invisíveis, o pessoal do Bolsa Família também que vive uma situação complicada, quase sem renda — disse.
Ele continuou:
— Nós temos que ter uma alternativa para isso, porque senão os problemas sociais serão enormes, mas tudo que o governo pensa, ou gente ligada ao governo, ou líderes partidários pensam, isso aí transformam-se em críticas monstruosas contra nós — disse.
O presidente afirmou ainda que, caso não encontrem uma alternativa, haverá "distúrbios sociais que a esquerda pode aproveitar-se disso para incendiar o Brasil".
— Se esperar chegar em 2021 para ver o que vai acontecer, podemos ter problemas sociais gravíssimos no Brasil. Eu estou falando problemas sociais que é uma forma educada para falar distúrbios sociais, que a esquerda pode aproveitar-se disso e incendiar o Brasil — comentou.
O Globo
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