Depois de mais uma ação do Supremo Tribunal Federal (STF) que provocou desconforto no governo, o presidente Jair Bolsonaro convocou ministros para uma reunião na tarde desta quarta-feira no Palácio do Planalto. Um dos objetivos é discutir uma estratégia de reação à operação determinada pela Corte que atingiu deputados aliados, empresários e blogueiros bolsonaristas, todos suspeitos de integrar uma rede de disseminação de notícias falsas. A operação da Polícia Federal (PF) foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito das fake news. A investigação foi aberta no ano passado e busca desvendar financiadores e operadores do esquema.
Sem se manifestar em público sobre o assunto durante o dia todo, Bolsonaro demonstrou, durante o encontro, contrariedade com a ação da PF, em cumprimento à ordem do Supremo. Aos ministros, Bolsonaro mencionou medidas, como uma blindagem ao ministro Abraham Weintraub (Educação), que foi convocado a depor, dentro do mesmo inquérito, em função dos ataques que fez ao STF na reunião de 22 de abril. Bolsonaro demonstrou preocupação com a situação do ministro da Educação.
Apesar de sofrer resistência da ala militar do Palácio do Planalto, Weintraub conseguiu se fortalecer no governo após a revelação do vídeo da reunião ministerial. A avaliação de aliados do presidente é de que as declarações do ministro da Educação – apesar de agressivas ao Supremo – “resgatam o alicerce da campanha” de Jair Bolsonaro com a base eleitoral do presidente. Na leitura de aliados do governo, Weintraub, que já era popular entre o grupo mais ideológico de apoiadores, conseguiu crescer ainda mais na base bolsonarista. No Twitter, Weintraub manifestou solidariedade aos alvos da PF: "Nesse momento sombrio, digo apenas uma palavra aos irmãos que tiveram seus lares violados: Liberdade!", escreveu.
A conversa também passou por uma nova reclamação contra a medida do Supremo que impediu a nomeação do delegado Alexandre Ramagem para a direção-geral da Polícia Federal. Sempre que menciona as ações do Supremo, Bolsonaro volta a falar da suspensão da nomeação pelo ministro Alexandre de Moraes (STF), demonstrando que o assunto não está superado. Interlocutores do Palácio do Planalto acreditam, inclusive, que a nomeação pode voltar a ocorrer.
O encontro não estava previsto na agenda oficial do presidente. Ministros da área jurídica do governo, como André Mendonça (Justiça e Segurança Pública) e José Levi (Advocacia-Geral da União), foram chamados ao Palácio do Planalto. Ministros da ala militar, como Fernando Azevedo e Silva (Defesa) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), também estiveram entre os participantes.
No Twitter, o vice-presidente Hamilton Mourão ironizou a investigação comandada pelo STF: "Compete ao MP a ação penal pública, além de assegurar diligências investigatórias e instauração de inquérito policial (acusar, investigar e denunciar). E aos demais Poderes zelar pela transferência e publicidade dos atos do Poder Público. É isso que está acontecendo no Brasil?", escreveu.
O inquérito foi aberto de ofício, em uma decisão do presidente da Corte, ministro Dias Toffoli. Na ocasião, a Procuradoria-Geral da República (PGR), que tem a atribuição de pedir ao STF que sejam abertas investigações, se manifestou contra o inquérito.
Depois da reunião, Bolsonaro seguiu para o Palácio da Alvorada com o ministro da Justiça. Na chegada, o presidente disse que ele e Mendonça iriam trabalhar até meia-noite para "resolver alguns problemas". O presidente disse às pessoas que o aguardavam que sabiam o que elas estavam "sentindo".
Bolsonaro já demonstra publicamente a insatisfação com o STF desde a suspensão da nomeação de Ramagem para a direção-geral da PF. Na ocasião, o presidente ironizou Alexandre de Moraes ao afirmar que ele havia sido escolhido para a Corte por ser amigo do ex-presidente Michel Temer, responsável pela indicação. O presidente cita o caso com frequência em conversas, eInterlocutores do Palácio do Planalto acreditam, inclusive, que a nomeação pode voltar a ocorrer.
Na semana passada, Bolsonaro também se irritou com um despacho em que o ministro Celso de Mello encaminhou à Procuradoria-Geral da República (PGR) uma ação protocolada por deputados em que havia um pedido de busca e apreensão do celular do presidente.
Celso de Mello ainda foi responsável por tornar público o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, apontado pelo ex-ministro Sergio Moro como uma prova de interferência de Bolsonaro na PF. No fim de semana, o presidente sugeriu que o decano da Corte cometeu crime previsto na Lei de Abuso de Autoridade ao divulgar a íntegra da reunião.
Na reunião ministerial que teve o conteúdo revelado, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, chamou ministros do STF de “vagabundos” e disse que deveriam ser presos. Mesmo com a situação complicada – o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (PMDB-PE), chegou a defender publicamente a demissão –, Weintraub se mantém no cargo.
Antes de convocar a reunião para alinhavar a resposta ao Supremo, Bolsonaro visitou nesta manhã o presidente da Corte, Dias Toffoli. O ministro está internado em um hospital de Brasília e se recupera de uma cirurgia.
Na operação de hoje, foram cumpridos 29 mandados de busca e apreensão. O ex-deputado Roberto Jefferson, o empresário Luciano Hang e o blogueiro Allan dos Santos foram alguns dos alvos. Também foi determinada a quebra de sigilo bancário e fiscal de quatro pessoas, como Hang e o empresário Edgard Corona, da Smart Fit.
Também são investigados no inquérito os deputados federais Bia Kicis, Carla Zambelli, Daniel Silveira, Filipe Barros, Cabo Junio Amaral e Luiz Philippe de Orléans e Bragança, todos do PSL. Eles deverão ser ouvidos pela PF.
O Globo
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