Novembro 25, 2024

Bolsonaro reclamou da PF e de serviços de inteligência em reunião de ministros e falou: 'Vou interferir' Featured

Na reunião ocorrida no Palácio do Planalto em 22 de abril, citada pelo ex-ministro Sergio Moro como prova de que Jair Bolsonaro tentou interferir nas atividades da Polícia Federal, o presidente reclamou da falta de informações obtidas pela PF. Em seguida, anunciou que iria interferir, sem dizer como faria isso. O trecho transcrito do vídeo foi entregue pela Advocacia-Geral da União (AGU) ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira. A AGU pediu nesta quinta-feira a divulgação apenas de trechos do vídeo com falas de Bolsonaro.

“Eu não posso ser surpreendido com notícias. Pô, eu tenho a PF que não me dá informações; eu tenho as inteligências das Forçar Armadas que não têm informações, a ABIN tem os seus problemas, tem algumas informações, só não tem mais porque tá faltando realmente… temos problemas… aparcelamento, etc. A gente não pode viver sem informação. Quem é que nunca ficou atrás da… da… da… porta ouvindo o que o seu filho ou a sua filha tá comentando? Tem que ver pra depois… depois que ela engravida não adiante falar com ela mais. Tem que ver antes. Depois que o moleque encheu os cornos de droga, não adianta mais falar com ele: já era. E informação é assim”, disse Bolsonaro na reunião.

Em seguida, é feito um comentário sobre “nações amigas”, não transcrito pela AGU. Bolsonaro completa: “Então essa é a preocupação que temos que ter: a questão estratégia. E não estamos tendo. E, me desculpe, o serviço de informação nosso — todos — é uma vergonha, uma vergonha, que eu não sou informado, e não dá para trabalhar assim, fica difícil. Por isso, vou interferir. Ponto final. Não é ameaça. Não é extrapolação da minha parte. É uma verdade”, concluiu.

Segundo a AGU, os dois trechos transcritos na reunião “não estão no mesmo contexto, muitíssimo pelo contrário: estão elas temporal e radicalmente afastadas na própria sequencia cronológica da reunião”. Portanto, não se poderia concluir que a interferência seria relativa à PF, na interpretação do advogado-geral da União, José Levi Mello do Amaral Junior. Ainda segundo o órgão, Bolsonaro não manifestou insatisfação com relatórios de inteligência da PF. O presidente teria demonstrado insatisfação “em contexto completamente diverso, de modo meramente exemplificativo, rigorosamente genérico”.

Mas, dois dias após a reunião, Bolsonaro afastou o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, movimento que desencadeou o pedido de demissão e as acusações feitas por Moro. Em seguida, no início de maio, o novo diretor-geral, Rolando de Souza, anunciou a troca do superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro: Carlos Henrique Oliveira foi convidado para ser diretor executivo da instituição em Brasília, deixando em seu lugar o delegado Tácio Muzzi.

Em outro trecho entregue pela AGU, Bolsonaro disse querer trocar a "segurança nossa" no Rio. “Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f* minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar; se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira”, declarou.

A AGU diz na petição que o termo "segurança nossa" se referia à segurança presidencial, a cargo do Gabinete de Segurança Institucional, e não à Polícia Federal. Fontes que assistiram o vídeo, porém, afirmam que o contexto da frase é no âmbito de investigações e que a referência à "troca de ministro" era claramente a Moro. Além disso, por lei, a responsabilidade pela segurança da família do presidente não fica com a Polícia Federal, e sim com o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), chefiado por Augusto Heleno.

Moro defende divulgação do vídeo
Em nota, a defesa de Sergio Moro afirmou que o uso de trechos literais da reunião pela Advocacia-Geral da União reforça a necessidade de o vídeo ser divulgado na sua íntegra.

"A transcrição parcial revela disparidade de armas, pois demonstra que a AGU tem acesso ao vídeo, enquanto a defesa de Sergio Moro não tem. A petição contém transcrições literais de trechos das declarações do Presidente, mas com omissão do contexto e de trechos relevantes para a adequada compreensão do que ocorreu na reunião -inclusive, na parte da 'segurança do RJ', do trecho imediatamente precedente. De todo modo, mesmo o trecho literal, comparado com fatos posteriores, como a demissão do diretor-geral da PF, a troca do superintendente da PF e a exoneração do ministro da Justiça confirma que as referências diziam respeito à PF e não ao GSI. A transcrição parcial busca apenas reforçar a tese da defesa do presidente, mas reforça a necessidade urgente de liberação do vídeo na íntegra", afirmou em nota o advogado Rodrigo Rios.

O Globo
Portal Santo André em Foco

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