Em uma série de críticas ao projeto de socorro aos estados e municípios, aprovado na segunda-feira pela Câmara dos Deputados, o presidente Jair Bolsonaro declarou na noite desta quinta-feira que o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem uma atuação "péssima", está aprofundando a crise, "assumiu o papel do Executivo" e 'está conduzindo o Brasil para o caos'. Em entrevista à CNN, Bolsonaro disse ainda que Maia tem que respeitá-lo e quer atacar o governo enfiando a faca no governo no sentido figurativo. E que parece que a intenção é lhe tirar da Presidência da República. Em seguida, o presidente da Câmara disse que Bolsonaro ataca para distrair atenção por demissão de Mandetta e que responderá com 'flores'.
O presidente afirmou ainda que se a matéria de socorro dos estados for aprovada pelo Senado como saiu da Câmara, vão "matar a galinha dos ovos de ouro", referência ao governo federal. Ele também classificou as medidas que estão sendo aprovadas "de forma açodada" como "escandalosas", e criticou a forma de votação, à distância, que segundo ele impede um debate melhor na Casa.
Mais cedo, Maia acusou o governo de produzir "fake news" para tentar desqualificar o projeto de socorro aos estados e municípios. Aguardado com ansiedade por governadores e prefeitos, o plano enfrenta dificuldades para sair do papel pela falta de apoio da equipe econômica e por uma batalha por protagonismo entre Câmara e Senado.
— Eu sei que ele vai reagir depois, mas o sentimento que eu tenho é que ele não quer amenizar os problemas, combater aí o vírus, não deixar que a economia vá para o espaço, ele quer atacar o governo federal, enfiando a faca no governo federal, no sentido figurativo, para resolver os problemas de outro lado — declarou Bolsonaro.
— Se isso tudo for aprovado, e outras coisas virão, pela forma como ele está se comportando, vão matar a galinha dos ovos de ouro, que é o Brasil. Parece que a intenção é me tirar do governo. Parece que é isso daí, quero crer que eu esteja equivocado — acrescentou o presidente.
Bolsonaro falou ainda que o ministro da Economia, Paulo Guedes, não tem mais interlocução com Maia, que é "o dono da pauta".
— Então a gente pede, apela para ele. Parece que a intenção é outra por parte do senhor Rodrigo Maia, que ele está conduzindo o Brasil para o caos. Nós não temos como pagar uma dívida monstruosa que está aí, não temos recurso. Qual é a intenção? É esculhambar a economia para enfraquecer o governo, para que eles possam voltar em 2022?
O presidente disse em seguida que não está pensando em política e que, se o Brasil for bem, todo mundo vai bem.
— Ele [Maia] vai ser reeleito, vai com toda certeza quem sabe voltar a ser presidente da Câmara. Não é uma luta aqui agora, eu apelo ao Rodrigo Maia, de você contra o Brasil, nem você contra mim, é uma luta nossa a favor do Brasil - comentou Bolsonaro.
Depois de dizer que Paulo Guedes queria uma contrapartida por parte de estados e municípios, que não foi aceita pela Câmara, Bolsonaro afirmou que está tentando com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Ele defendeu que todos se sacrifiquem nesse momento, e não apenas o governo federal, para que o contribuinte pague. E também pediu "cabeça fria" aos parlamentares e que os governadores repensem a questão do confinamento, para que a economia não vá embora .
— O que a gente pede aos deputados e senadores, vamos atender os governadores, mas tem que ter uma contrapartida se não vocês vão matar a galinha dos ovos de ouro, que é o Executivo federal. Vai todo mundo perder com isso [...] O Brasil vai ficar insolvente, vai quebrar. Será que nós queremos o caos no Brasil? - comentou.
Na sequência, Bolsonaro passou às criticas diretas a Maia.
— O que nós projetamos de economia com a reforma da Previdência praticamente foi engolido em poucos meses. Eu não vou trair a minha consciência e deixar de falar a verdade: eu lamento a posição do Rodrigo Maia nessas questões. Lamento muito a posição dele, que resolveu ele assumir o papel do Executivo, com ataques bastante contundentes à nossa posição — declarou.
— Ele tem que entender que ele é o chefe do Legislativo, eu respeito ele, e ele tem que me respeitar como chefe do Executivo. O senhor Rodrigo Maia é a pessoa que resolveu não conversar com mais ninguém - complementou, dizendo que o presidente da Câmara não pode jogar todos os governadores contra ele e fazer uma pressão para que o Senado aprove essa proposta, sem contrapartida.
O presidente comentou ainda que o Brasil "não merece" a atuação de Maia na Câmara, mas disse não estar rompendo com o Parlamento. E, olhando para a câmera, insinuou que o parlamentar quer outro "tipo de diálogo", sem deixar explícito ao que se referia.
— Me desculpa, Rodrigo Maia, péssima a sua atuação. Quando você fala em diálogo, a gente sabe qual é o teu diálogo. Então esse tipo de diálogo não vai ter comigo. E não estou rompendo com o Parlamento não, muito pelo contrário. É a verdade que tem que ser dita — declarou.
Demissão de Mandetta
Também na entrevista à CNN, Bolsonaro disse que sentiu "muita dor no coração" e "tristeza" ao demitir o agora ex-ministro da Saúde, e explicou o motivo da exoneração:
- Eu achava, e o Mandetta o contrário, que devíamos também tratar da questão do emprego. Ele achava que tinha que ser praticamente 100% no combate à pandemia. A minha opinião é o contrário. São dois problemas que deviam ser encarados de forma simultânea. Então isso foi realmente o que levou ao desgaste e acabou então culminando com a saída do Mandetta. Com muita dor no coração, assinei a exoneração dele - declarou Bolsonaro.
O presidente reiterou que a conversa desta quinta foi tranquila, que agradeceu ao ministro, a quem chamou de "uma pessoa que é respeitada e entendeu que a situação estava no limite".
- E o meu ponto de vista, como chefe do Executivo, que tenho que olhar para o Brasil como um todo, e não apenas numa parte, devia ser respeitado. E é natural isso daí. Então com muita tristeza eu assinei a demissão do Mandetta, e a gente espera que com o Rubens agora... O Nelson, me desculpa aqui, não me familiarizei com o nome dele, a gente realmente dê também a devida atenção para a questão do emprego no Brasil - comentou.
O Globo
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