A confirmação da já esperada ausência do Aliança pelo Brasil nas eleições municipais deste ano pela cúpula do partido em criação levou o presidente Jair Bolsonaro a anunciar nesta sexta-feira que ele também pretende ficar distanciado do pleito, sem subir em palanques ou fazer campanha por candidatos a prefeito. Pelo menos no primeiro turno.
O presidente concluiu que teria mais a perder do que a ganhar envolvendo-se formalmente nas disputas municipais. A avaliação de seus aliados é que um envolvimento mais direto só teria potencial de trazer prejuízos a Bolsonaro, tanto por ser vinculado a possíveis derrotas como pela possibilidade de desgaste caso aquele que seja eleito com seu apoio não consiga fazer uma boa administração.
Ainda não está claro se os filhos do presidente seguirão a decisão do pai. Em 2018, por exemplo, o senador Flávio Bolsonaro apoiou declaradamente o agora desafeto da família Wilson Witzel (PSC) ao governo do Rio. Outro ponto importante em aberto é como se comportará a ativa militância bolsonarista nas redes sociais, considerada decisiva para os resultados eleitorais de 2018, tanto na disputa presidencial como nos estados. Candidatos a prefeito alinhados com o presidente anseiam pela ajuda dessa máquina virtual, mesmo se não for possível ter o presidente no palanque.
A decisão de Bolsonaro frustra alguns candidatos que tinham a expectativa de contar com seu apoio declarado. É o caso do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), candidato à reeleição, e de Andrea Matarazzo (PSD), postulante ao comando da capital paulista.
O anúncio de que pretende se manter longe do pleito foi feito no fim da tarde de ontem em entrevista aos jornalistas ao retornar ao Palácio da Alvorada. Bolsonaro reconheceu que, “pelo o que tudo indica”, não haverá tempo hábil para oficializar a sigla que lançou no ano passado após deixar o PSL. E foi questionado como vai se portar na corrida eleitoral.
— Pretendo não participar no primeiro turno de qualquer candidatura entre os quase 6 mil municípios do Brasil — declarou.
O presidente abriu, no entanto, uma exceção à regra que adotará até outubro e informou que vai “dar uma força” a alguns candidatos a vereador:
— Eu tenho um amigo ou outro por aí, vou dar uma força para eles nisso aí — comentou, sem citar nomes.
A posição de relativa neutralidade já era tida como provável por aliados. Mas até o fim do ano passado, o presidente vinha prometendo, conforme relatos feitos ao GLOBO, que daria seu apoio a alguns poucos candidatos considerados de confiança e alinhados ideologicamente em cidades estratégicas.
Segundo turno
Na avaliação de Bolsonaro e seu filhos, o mais adequado seria “perder em quantidade para ganhar na qualidade dos candidatos”. O pano de fundo da estratégia é evitar que se repita o que houve nas eleições do ano passado, quando vários postulantes a deputados e senadores se elegeram sob o manto do bolsonarismo pelo PSL, mas romperam com o presidente quando ele se distanciou do deputado federal Luciano Bivar (PE), que comanda a legenda.
Além disso, os governadores Wilson Witzel e João Doria saíram vitoriosos das urnas fazendo uma campanha se associando a Bolsonaro, mas se afastaram logo no primeiro ano de governo.
A declaração de Bolsonaro ontem, no entanto, abre margem para que ele entre em cena em eventuais disputas de segundo turno, o que pode dar esperanças, por exemplo, a Crivella, que tem se aproximado do presidente. Em ato evangélico no mês passado, a dupla chegou a dançar lado a lado. O prefeito já participou de um mutirão de coleta de assinaturas para a criação do Aliança pelo Brasil.
Mato Grosso
Bolsonaro comentou que pretende, no entanto, participar da eleição suplementar para o Senado em Mato Grosso — a senadora Juíza Selma (Podemos-MT) foi cassada pelo TSE. O pleito foi marcado para o dia 26 de abril, mas é alvo de disputa judicial. Indagado sobre quem seria apoiado por ele, o presidente disse que não poderia revelar o nome por questões legais.
— Eu não posso falar o nome agora, porque seria propaganda antecipada. Mas como hoje é dia da mulher: será uma mulher.
A posição de relativa neutralidade já era tida como provável por aliados. Mas até o fim do ano passado, o presidente vinha prometendo, conforme relatos feitos ao GLOBO, que daria seu apoio a alguns poucos candidatos considerados de confiança e alinhados ideologicamente em cidades estratégicas.
O presidente também minimizou o fato de o TSE ter identificado a assinatura de sete pessoas que já morreram nas fichas de apoiamento para a criação do Aliança pelo Brasil.
— A questão de mortos, a manchete, acho que foi do (jornal) Estado de São Paulo, “Aliança tem...”. São sete mortes. Um, o cara lá assinou a ficha e, na semana seguinte, teve uma acidente de motocicleta. Morreu. Os outros meia dúzia... Só sete, né?, de não seis quantos mil, 50 mil. Sete apenas. Era CPF errado, a numeração errada, só isso aí.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já analisou mais de 22 mil apoiamentos do partido, dos quais 7.298 foram considerados aptos e 15.032 inaptos. Há ainda 55.407 fichas em prazo de análise. Para ser criado, o Aliança precisa apresentar 492 mil assinaturas válidas.
O Globo
Portal Santo André em Foco
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