Alvo de críticas dentro do Executivo por estar à frente do acordo com o Congresso sobre o Orçamento impositivo, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, disse ao Estado que só se sentou à mesa de negociação com o aval do presidente Jair Bolsonaro e acompanhado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, ou sua equipe. Nesta semana, Bolsonaro e Guedes se voltaram contra os termos do trato.
“Desde o início a negociação foi por ordem do presidente. O Paulo Guedes, o tempo todo, esteve ao meu lado. Em nenhum momento, sentei à mesa sem autorização do presidente ou sem o conhecimento do ministro Paulo Guedes. Não tem nada embaixo de panos e conchavos”, disse Ramos ao Estado. É a primeira vez que ele fala publicamente sobre a polêmica.
Colegas que compõem o primeiro escalão do governo questionam a atuação de Ramos, dizendo que o ministro, para se cacifar como articulador e se aproximar dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (AP), ambos do DEM, cedeu às reivindicações do Parlamento e prejudicou o governo.
“Está claro que o presidente tem me prestigiado e me apoiado, fruto de uma relação de amizade. Então começam a falar que estou articulando com Rodrigo Maia e o Alcolumbre contra planos do governo. Isso é só fofoca. Não tem nada. É ciumeira. Por isso digo que minha missão é difícil”, afirmou Ramos.
Bolsonaro, segundo interlocutores, demorou a se dar conta da “gravidade” que as restrições do Orçamento impositivo causariam ao governo. O presidente foi alertado de que viraria uma “rainha da Inglaterra” sem poder de execução nas mãos. A crise eclodiu quando o ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, acusou o Legislativo de “chantagear” o governo por recursos. O Estado apurou que numa reunião com Bolsonaro ele chegou a falar em “golpe branco”.
Embate
O impasse em torno do acordo do Orçamento, que repassa para o controle do Congresso uma fatia maior de recursos públicos, fez estremecer a relação de Guedes e Ramos. Os dois chegaram a ter uma discussão acalorada, no Planalto. Ramos querendo dividir a responsabilidade do acordo com Guedes. E o ministro da Economia negando participação no acerto.
O embate entre os dois ministros acabou alimentando também questionamentos em torno da atuação de ambos no episódio. A permanência de Guedes no time do presidente chegou a ser especulada. Os ruídos trouxeram preocupação ao mercado. Guedes trata sua eventual saída como “fake news”.
A crise, porém, tem servido de cortina de fumaça para esconder o foco real da intriga: o racha do Congresso com Guedes. O ministro da Economia, que era o fiador do acordo, foi jogado contra a parede e cobrado por líderes partidários. O sentimento foi de quebra de promessa.
A impaciência do Parlamento com o chefe da economia foi exposta pelo presidente do Senado ao próprio Bolsonaro. Numa reunião com a presença de Ramos e Guedes, Alcolumbre disse que o maior problema que Bolsonaro enfrenta é lidar com “ministros que mentem para ele”.
Estadão
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