O novo diretor do Hospital Padre Zé, o padre George Batista, afirmou em coletiva de imprensa nesta quarta-feira (10) que a força-tarefa composta por órgãos públicos deve investigar o destino de dois empréstimos que somados atingem o valor de 13 milhões de reais. Os empréstimos foram solicitados em 2022 e em junho deste ano pela antiga direção, que era comandada pelo padre Egídio de Carvalho, principal alvo da Operação Indignus que apura o desvio de recursos da unidade hospitalar.
A força-tarefa foi formada para investigar irregularidades no Hospital Padre Zé e, de acordo com a nova diretoria da instituição, é formada pela Polícia Civil, Ministério Público da Paraíba (através do Gaeco), Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz ) e Controladoria-Geral do Estado. A ação é um desdobramento das mudanças na administração após a denúncia de furto de celulares da unidade, e a renúncia do então diretor.
De acordo com o padre George Batista, a instituição precisa de uma receita mensal em torno de R$ 1,3 milhões, mas recebe por mês até R$ 1 milhão do Sistema Único de Saúde (SUS). Os empréstimos são responsáveis por descontos na verba mensal enviada pelo SUS para o hospital.
“Por causa desse empréstimo, mensalmente, a verba que vem do SUS há um desconto em torno de R$ 250 mil reais”, explicou o diretor. "Para foi esse dinheiro? A força-tarefa está investigando, e com certeza no tempo devido vai se pronunciar", ressaltou George.
O Arcebispo Metropolitano da Paraíba, Dom Manoel Delson, comentou durante a coletiva as investigações contra o padre Egídio de Carvalho e outros servidores da instituição. Segundo ele, as ações realizadas pelo hospital passavam segurança para a Arquidiocese, que renovavam e aprovavam os projetos.
“Eu digo com toda transparência. Primeiro, com uma tristeza muito grande, que um ministro de Deus, um sacerdote, tenha se envolvido em algo dessa natureza. Depois, eu sou franciscano, quando falaram alguma coisa sobre eu saber das coisas… como eu ia saber de alguma coisa e não tomar nenhuma atitude? Porque as coisas apresentadas nos davam segurança, passavam pra gente muita segurança”
Padre Egídio e novo comando do Hospital Padre Zé
A Arquidiocese da Paraíba afastou, em 27 de setembro, o padre Egídio de Carvalho Neto de qualquer ofício ou encargo eclesiástico enquanto durar as investigações sobre irregularidades identificadas no Hospital Padre Zé, de João Pessoa, no período em que ele foi diretor da unidade hospitalar. Na prática, ele fica proibido de ministrar missas ou qualquer outro sacramento da igreja.
A instituição que comanda a Igreja Católica na Paraíba citou o artigo 1.722 do Código de Direito Canônico, que prevê o afastamento de religiosos da igreja em casos de processo penal, para justificar o afastamento do padre Egídio.
O padre Egídio de Carvalho Neto renunciou ao cargo de diretor do Hospital Padre Zé no dia 18 de setembro deste ano, em meio a investigações da Polícia Civil da Paraíba sobre o furto de 100 aparelhos de telefone celular que foram furtados do hospital. Segundo a administração do hospital, toda a diretoria anterior do Hospital Padre Zé renunciou, e os novos dirigentes assumiram as funções imediatamente, para evitar que os serviços prestados pelo hospital fossem interrompidos ou descontinuados.
Em 25 de setembro, em meio às investigações, o padre George Batista foi eleito novo diretor do Hospital Padre Zé, em João Pessoa, após a realização de uma assembleia.
Entenda a Operação Indignus
Uma operação conjunta deflagrada para investigar um suposto esquema de desvio de verbas do Hospital Padre Zé, em João Pessoa, foi deflagrada na quinta-feira (5) e cumpriu 11 mandados de busca. O principal alvo da investigação é o padre Egídio de Carvalho, ex-diretor do hospital.
A investigação aponta uma 'confusão' entre os patrimônios da entidade e do padre. E apura, entre outras coisas, a aquisição de imóveis de alto padrão por parte do religioso, com recursos do hospital.
A operação ‘Indignus’ contou com a participação do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado do Ministério Público do Estado da Paraíba (Gaeco/MPPB), da Polícia Civil, da Secretaria de Estado da Segurança e da Defesa Social (SEDS), da Secretaria de Estado da Fazenda da Paraíba (Sefaz) e da Controladoria-Geral do Estado da Paraíba (CGE).
"Fora as circunstâncias que envolvem corrupção, a gente tem outras circunstâncias que envolvem coisas muito mais graves. É necessário que a gente tenha essa ideia e que a gente consiga ter elementos para filtrar aquelas pessoas que de fato se preocupam com os miseráveis e excluídos, e aquelas outras que usam essas pessoas como instrumento de manobra para suas ganâncias e questões de escala monetária", afirmou o promotor Octávio Paulo Neto, coordenador do Gaeco.
O que a operação investiga?
As investigações do caso descrevem possíveis desvios de recursos públicos destinados a fins específicos na gestão do padre Egídio no Hospital Padre Zé, em João Pessoa. As irregularidades também ocorriam no Instituto São José, entidade mantenedora do hospital, e na Ação Social Arquidiocesana (ASA), que também tinham Egídio como responsável.
A investigação aponta para uma absoluta e completa confusão patrimonial entre bens e valores de propriedade das entidades com os bens do padre Egídio. Destaca também uma considerável relação de imóveis atribuídos, aparentemente sem forma lícita de custeio, quase todos de elevado padrão, adornados e reformados com produtos de excelentes marcas de valores agregados altos.
Segundo a investigação as condutas indicam a prática, em princípio, dos delitos de organização criminosa, lavagem de capitais, peculato e falsificação de documentos públicos e privados.
Quando começou a investigação?
A operação ‘Indignus’ foi deflagrada na manhã desta quinta-feira, mas as irregularidades no Hospital Padre Zé começaram a ser investigadas quando mais de 100 aparelhos celulares foram furtados da instituição. Esse caso foi tornado público em 20 de setembro. A denúncia, no entanto, foi feita em agosto e imediatamente um inquérito policial foi aberto. Um suspeito, inclusive, chegou a ser preso, mas responde em liberdade e cumpre medidas cautelares.
Padre Egídio deixou a direção do hospital logo após a denúncia sobre o furto de celulares. Os celulares foram doados pela Receita Federal, oriundos de apreensões, e seriam vendidos em um bazar solidário para comprar uma ambulância com UTI e um carro para distribuição de alimentos para pessoas em situação de vulnerabilidade.
No desenrolar das investigações do furto, a Arquidiocese da Paraíba anunciou que estava afastando o padre Egídio de qualquer ofício ou encargo eclesiástico. Na prática, ele fica proibido de ministrar missas ou qualquer outro sacramento da igreja
Após o furto dos celulares, uma denúncia anônima foi apresentada ao Ministério Público da Paraíba apontado uma série de irregularidades na gestão do padre Egídio.
Na terça, 3 de outubro, uma força-tarefa composta por órgãos públicos da Paraíba foi formada para investigar irregularidades no Hospital Padre Zé.
O Hospital Padre Zé, em João Pessoa, afirmou que constatou inúmeras dívidas que comprometem sua funcionalidade após avaliar a situação operacional, funcional, contábil e financeira da instituição. A gestão disse que a primeira providência foi solicitar ao Ministério Público da Paraíba uma ampla auditoria em todas as contas, contratos, convênios e projetos do hospital.
g1 PB
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