Exatos 701 dias depois do primeiro caso de Covid-19 registrado na Paraíba, em 18 de março de 2020, o estado superou nesta quinta-feira (17) a marca de 10 mil mortes provocadas pela doença. Com os 13 novos casos de óbitos registrados no boletim diário da Secretaria de Estado da Saúde (SES), são agora 10.002 mortes registradas.
A situação torna-se ainda mais grave quando se percebe que a doença é capaz de afetar todos os públicos. Apesar de um público específico ser mais suscetíveis à versão grave da Covid-19, o perfil de mortes entre as pessoas moradores da Paraíba é a mais heterogênea possível.
Para se ter uma ideia, a vítima mais jovem foi um bebê do sexo masculino, sem comorbidades, que tinha apenas sete dias de vida e que morreu em João Pessoa em 29 de julho de 2020. As vítimas mais velhas, por outro lado, foi um homem e uma mulher de 110 anos que morreram em maio e em junho de 2020 respectivamente. O homem não tinha informações sobre comorbidades e a mulher tinha hipertensão.
A propósito, sobre as crianças vítimas de Covid-19, a Paraíba registrou ao longo de todo este período a morte de 28 crianças entre 0 e 10 anos. Dessas, 18 delas morreram antes de completar um ano de vida e outras três morreram pouco depois do aniversário de um ano. Dessas 28 crianças, apenas metade tinha algum tipo de comorbidade.
Perfil dos mortos
Mesmo afetando pessoas de todas as idades, ainda assim alguns grupos são de fato mais afetados que outros. Entre os óbitos registrados na Paraíba, 25,5% eram de pessoas acima de 80 anos e 21,8% eram de pessoas entre 70 e 79 anos, as duas faixas etárias mais afetadas.
Ainda assim, as faixas etárias de pessoas mais jovens também foram fortemente afetadas, visto que 26,1% dos mortos eram de pessoas entre 40 e 59 anos e 7,4% tinham entre 20 e 39 anos.
Registre-se ainda que 5.477 homens mortes e 4.525 mulheres mortas. Com relação às comorbidades, 22,98% das vítimas tinham diabetes, 22,96% tinham hipertensão e 21,35% tinham cardiopatia, sendo as mais frequentes. Mas a SES explica que muitas pessoas que acabaram morrendo tinham mais de uma comorbidade.
Ainda assim, foram 2.572 mortes de pessoas sem nenhum tipo de comorbidades e outras 389 sem informações, o que somado equivale a 29,60% dos óbitos.
Evolução das mortes
Ao longo desses 48 dias de 2022, já morreram na Paraíba 406 pessoas por causa da Covid-19, o que dá uma média de 8,45 mortes por dia. Em termos proporcionais, é uma média bem menor do que 2020 e 2021, mas o dado preocupante é que os números de casos diários voltaram a crescer neste mês de fevereiro.
Entre 18 de março e 31 de dezembro de 2020, foram 3.672 mortes (média de 12,70 mortes por dia) registradas na Paraíba. Já entre os 365 dias de 2021, foram 5.924 mortes (média de 16,23 mortes por dia).
Com relação aos números a cada mil mortes, percebe-se que o pior da pandemia de fato já passou, mas que ela continua afetando principalmente aqueles que ainda não finalizaram os seus esquemas vacinais. A marca de 9 mil mortes por Covid-19, por exemplo, tinha sido atingido em 2 de agosto de 2021, 199 dias atrás, o que faz desta o maior espaço de tempo para se registrar novas mil mortes por Covid-19.
Ele explica que mais de 1 milhão de paraibanos estão atualmente com a dose de reforço em aberto e que outras 440 mil pessoas estão com a segunda dose em aberto. Além disso, apenas 56 mil crianças entre 5 e 11 anos já tomaram a primeira dose, quando o Estado já distribuiu mais de 140 mil doses para essa parcela da população.
“Isso tudo nos faz lembrar que a proteção do bem estar da saúde da vida é a nossa primeira prioridade. Precisamos juntos reduzir o sofrimento provocado por tantas mortes”, declarou Beltrammi, destacando que um “gesto simples” como a vacinação pode-se levar a isso.
A dor de quem perdeu pessoas próximas
São muitas as histórias de pessoas que tiveram suas vidas modificadas para sempre por causa da pandemia de Covid-19. Com apenas algumas horas de diferença, por exemplo, Jéssica Carla de Lima perdeu seus dois irmãos devido a complicações da Covid-19.
As mortes aconteceram em junho de 2020. Gean Carlos Costa de Lima, de 34 anos, e Jones Costa de Lima, de 36 anos, deixaram três filhos cada um. Seis crianças entre 3 meses e 10 anos de vida que, de repente, ficaram sem o pai.
Desde então, para a família de Jéssica, o dia dos pais tem sido o mais difícil. “É o dia que tem a festinha na escola, a apresentação para os pais. Agora, eles não estão aqui para receber as homenagens”, diz a tia das crianças.
No último dia dos pais, a filha de Jones Costa, de 6 anos de idade, preparou uma canção para ele na escola. “Nós nos entristecemos e choramos muito”, conta Jéssica. A família é de Solânea, no brejo paraibano.
Já Manuela Coutinho perdeu a prima, Clarice Marques Coutinho, de 30 anos, em 25 de fevereiro do ano passado. Na época, as duas estavam grávidas e trocavam experiência sobre ser mães. “Fazíamos tudo juntas, tudo dela era comigo”, lamenta a prima. Com cinco meses de gestação, a filha de Clarice também não sobreviveu.
“Quem perde, não espera”, analisa Manuela.
Como Clarice trabalhava com teatro, a prima sente que, na realidade, ela está apenas viajando. Atriz, um projeto de lei relativa à cultura foi aprovado em seu nome, no município de Alagoa Grande.
Clarice deixou dois filhos, um menino de 9 anos e uma menina de 3. Apesar de entenderem sua morte, eles não gostam de falar tanto sobre a mãe. Manuela conta que eles sentem muita insegurança quando perguntados por ela.
Outra pessoa que sofre com as consequências da pandemia é Débora Yone. Ela perdeu o marido e a sogra num intervalo de apenas 16 dias. Severino do Ramo de Melo, de 43 anos, e Maria Antônia, de 80 anos, morreram em junho de 2020. Eles eram de Campina Grande.
Mesmo com o número de mortos crescendo rapidamente à época em diversos locais do mundo, Débora conta que foi um choque.
“Nunca imaginamos que ia chegar aqui e afetar nossa família", admite Débora.
Eles tomavam todos os cuidados. Usavam máscaras e álcool era lei na casa deles. Mas não foi suficiente. Ambos contraíram o vírus e não resistiram.
“Nos primeiros meses você não acredita. Você não enxerga futuro, não tem mais perspectiva de nada. Depois disso, ver que a Covid-19 continuava era ver um cenário de guerra”, alerta.
Débora chama atenção para os últimos meses em família. Ela conta que realizavam periodicamente um culto entre eles.
“Parece que estavam se despedindo. Eu achava isso lindo e foi algo que me marcou”, conclui.
g1 PB
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